“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

23 março 2009

Santa Trapalhada

Publicado na Edição de sexta-feira - 20.03.09 - do "O Aveiro".

Bloco de Notas.
Santa Trapalhada.


Esta não pretende ser uma crónica a favor ou contra o aborto.
Este é apenas um artigo que reflecte, na qualidade de católico, a preocupação pelo distanciamento da Igreja às coisas dos homens, da vida e da sociedade.
No fundo, o afastamento da Igreja do Mundo de hoje.
Durante a semana passada, a temática centrou-se nas declarações (extemporâneas) do Arcebispo de Olinda e Recife (Brasil) que, numa primeira reacção excomungou a mãe e toda a equipa médica (mais tarde, ninguém seria alvo de qualquer pena canónica) que optaram pela interrupção de uma gravidez de 15 semanas numa criança de nove anos de idade.
Primeiros os factos…
Uma criança de nove anos de idade, era, por diversas vezes, violada pelo padrasto desde há três anos até à semana passada, quando a menina deu entrada num hospital queixando-se de dores de barriga. Diagnóstico: gravidez de 15 semanas, gémeos. A mãe nada sabia.
Segundo a equipa médica, a criança, com apenas 33 quilos de peso e 1,36 m de altura, de constituição física muito frágil, resultado de um ambiente de clara pobreza e condições degradantes de vida, corria sérios e declarados perigos de vida com o avançar da gravidez, bem como a probabilidade da gravidez ter um "final feliz".A lei brasileira contempla a interrupção da gravidez, em dois casos concretos: violação e risco de vida. A menina incluía-se nas duas vertentes.
Ao ter conhecimento da interrupção da gravidez (autorizada pela mãe, depois da orientação médica), o Arcebispo brasileiro "decretou" (superando as competências do Conselho Brasileiro da Igreja Católica) que "todas as pessoas que aprovaram, autorizaram ou participaram no acto, com excepção da criança, estavam excomungados da Igreja". Mesmo que tão grave pena seja, ainda hoje, algo que a maioria dos católicos não percebe e não consegue entender as suas consequências.
Depois a análise…
É de exaltar a defesa do princípio da Vida, por parte da Igreja. Revela preocupação pelo ser humano, pela sua dignidade e pelo seu valor. Assim deveria ser para todos nós.
Mas qual das vidas?! E a dignidade e qualidade do futuro de uma criança de nove anos que sofreu todas estas fatalidades?!
O que será mais grave?! A possibilidade de interromper o futuro de uma menina de nove anos (o perigo de vida iminente no prolongar da gravidez) ou a interrupção de uma gestação que o mais provável seria a sua não concretização ou uma complexidade imprevisível no seu fim?! De que vida, falamos nós?!
Porque não se "apressou" o Bispo a condenar o padrasto, por tão macabro e abominável acto?!
É que é nestas incoerências e inconsistências que a Igreja se afasta, cada vez mais, dos homens. Porque se afasta das suas vidas, das suas emoções, das suas necessidades.
Como disse o Arcebispo, D. José Cardos Sobrinho, numa das entrevistas à Comunicação Social, "a lei dos Homens não pode estar acima da Lei de Deus". Acho que nem os Homens isso pretendem. O problema é quando a "lei de Deus" se afasta de tal maneira dos Homens e das suas vidas, que deixa de fazer qualquer sentido e deixa de ter razão existencial. Porque a Igreja sem os Homens e sem servir os Homens, esvazia o sentido da sua missão.
Daqueles Homens que Cristo sempre acolheu: os doentes, os moribundos, os mais desprotegidos, os ladrões, as prostitutas, … Ah! e as CRIANÇAS.
E em relação às crianças, a Igreja tem muitos telhados de vidro.

1 comentário:

Anónimo disse...

Acabei de ler no Diário de Aveiro um artigo de Alberto Souto, em que falou um pouco de tudo.
Falou da cidade e do concelho, da nobreza das suas gentes e também da velhacaria infiltrada no seio de gente honrada.
Sejamos politicamente vermelhos ou azuis, amarelos ou cor de rosa, o homem é mesmo bom, tem categoria.
Destaca-se léguas dos medíocres autarcas, que um pouco por todo o lado vão cavalgando este país cada vez mais adiado.
Gostei.