“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

19 março 2009

Dor que dói e se sente

Publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro

Sais Minerais
Dor que dói e se sente...


Aveiro não passou indiferente à tragédia da semana passada: a morte de um bebé de poucos meses.
Mesmo, como é o meu caso, sem se conhecer pessoalmente a família e o bebé. Algo que, neste casos, se torna, inclusive, irrelevante.
Aliás, não seria de esperar outra reacção, dada a natureza humana favorável a contextos trágicos que agitem os sentimentos e as emoções dos indivíduos.
Mas se é inquestionável alguma ansiedade humana pela tragédia ou pela dor alheia, não é menos verdade que, na maioria dos casos, as reacções nem sempre são serenas, homogéneas ou desprovidas de um "dedo acusador".
É comum e típico da nossa sociedade as vozes "justiceiras", os julgamentos em "praça pública", a reprodução de conceitos morais e éticos.
Então o que aconteceu, em Aveiro, em relação á tragédia que envolveu o pequeno João Pedro, de 9 meses.
Tão simples quanto isto: a antítese do paradigma.
Por outras palavras, o reconhecimento público de uma tragédia sem explicação racional, a solidariedade colectiva com a dor de uma família que perde, impensadamente, a "razão" da sua vida, o sofrimento de um pai que vê o mundo desmoronar sobre si mesmo.
Aveiro sentiu um gélido sentimento de incredibilidade e de solidariedade (mais compaixão do que pena), sem se preocupar com acusações, culpabilidades ou racionalidades.
A tragédia aconteceu… ponto final.
Muitos sentiram um acrescido sentimento de preocupação redobrada para com os seus (amigos, filhos, família).
Muitos demonstraram um exemplar respeito no silêncio, no cuidado com as palavras, na solidariedade.
Basta avaliar a cautela com que a imprensa (nomeadamente a local) noticiou e exerceu a sua função informativa, os comentários de pesar na blogoesfera local ou nas conversas informais e de circunstância.
Tudo podia ser diferente, se seguida a norma e o padrão dos comportamentos.
Mas, acima de tudo, Aveiro demonstrou um enorme respeito pela dor de quem, independentemente da razão subjacente, perdeu tragicamente um filho.
Os aveirenses souberam mostrar dignidade, que é algo que a sociedade actual, há muito, perdeu.
E quem é Mãe ou Pai sabe e sente o que tudo isto significa.
Ao sabor da pena…

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