“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

14 abril 2006

Paroquianismo Justiceiro

Não tenho, em algumas situações pessoais e profissionais que vivo no dia-a-dia, argumentações que capacitem o contraditório a vários acordãos que vou lendo, aceitando-os (pela aptidão de quem os produz) como um facto irredutível.
No entanto, a minha condição de Pai e de educador/formador de jovens, dá-me responsabilidade para não deixar passar em claro o provincianismo e o paroquianismo do acordão judicial produzido sobre o caso de Setúbal e da legitimidade no uso de "violência" na educação infantil.
Parece-me óbvio que, salvo algumas excepções que confirmam a regra e que não têm que ser tomadas como exemplo, não existe Pai, Mãe, Avô ou Avó que neste rectangulo luso já não tenha dado um "palmadita", repito "palmadita", no rabiosque do(a) filho(a) ou tenha usado alguma forma de castigo (não ver tv, ir para a cama mais cedo) como correcção para alguma regra educacional que tenha sido quebrada.
Querer negar este facto é utópico e "tapar o sol com a peneira".
Quere fazer disto um acto licito (legislativo e jurídico) não faz qualquer sentido.
Querer igualar ou substituir a acção familiar e paternal, pela acção educativa institucional é no mínimo irracional.
Fazer crer que a educação de uma criança que infelizmente a vida transporta-a para além dos conceitos tidos como normais, de uma criança que exige cuidados especiais e atenção especializada é igual à educação das crianças que, felizmente, são rotuladas de normais é duma insensibilidade atroz e desmedida.
Que se ilibe judicialmente a funcionária pela pressão que as suas tarefas exigem (embora deva ser retirada do exercício daquela actividade), pela carga horária a que estava sujeita, pela falta de acompanhamento e, provavelmente, de formação adequada, ainda consigo perceber.
Que se justifique os actos como legítimos e lícitos, tranformando a violência física e psicológica com um instrumento educacional de uma criança... só em Portugal.
É o mesmo que afirmar que a rigidez educacional dos meus bisavós era exemplar. Que a violência a que muitos alunos estavam sujeitos, no processo de aprendizagem no ensino primário antigo, fez deles verdadeiros estudantes e intelectuais é irreal.
Educar tema uma vertente correccional, não tem que ter uma vertente violenta.
É a justiça que merecemos.

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