Uma das imagens deste Governo de Passos Coelho e Paulo Portas (PSD/CDS), goste-se ou não do seu trabalho na gestão dos desígnios nacionais, é a transparência e o "falar verdade" sem fugir à realidade factual. Mesmo que se questionem os processos comunicacionais que deixam muito a desejar no que respeita à forma como são explicadas e justificadas as medidas e políticas aplicadas. Principalmente porque sempre que há uma declaração, uma conferência de imprensa, uma entrevista ou um debate, permanecem e restam, nos cidadãos, mais dúvidas (às vezes, demasiadas) do que certezas quanto à sustentação das iniciativas do Governo, bem como aos resultados futuros.
E estas dúvidas e incertezas começam a desaparecer, infelizmente não pela clareza das explicações ou das posições do Governo, mas pela falta de impacto concreto das políticas e medidas do Executivo PSD/CDS.
Tanta certeza e realismo no arranque deste mandato (o que levou a que a maioria dos cidadãos aceitassem as medidas de austeridade impostas, com alguma resignação), tem-se transformado, a pouco e pouco, em decepção e desilusão, e, nalguns casos, em "traição".
O ministro das Finanças, Vitor Gaspar, e do próprio Primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, referiram, por várias ocasiões, que em 2014 (ano a seguir ao tempo de duração do programa de financiamento a Portugal) o país encontrará o momento de viragem para sair da crise. Hoje o discurso é diferente: "Aperto do cinto vai continuar por mais alguns anos" (jornal Público); "a austeridade em Portugal vai continuar por mais alguns anos" (jornal I); "Passos diz que «aperto do cinto» vai continuar por mais alguns anos" (TSF).
Por outro lado, os cidadãos começam a ter alguma dificuldade em aceitar certezas quando se torna evidente que o que hoje é verdade, amanhã poderá ser mentira. Foi garantido que o imposto suplementar aplicado no subsídio de Natal de 2011 era uma medida temporária e que vigoraria apenas neste ano. A apresentação da proposta de Orçamento de Estado para 2012 trouxe outra "verdade". Serão retidos os 13º e 14º meses de vencimentos (subsídios de férias e natal), anunciados com a mesma certeza de serem temporários em 2012 e 2013. Pois a verdade é que tendem a ser temporariamente definitivos, ao contrário do que proclamado: "Passos diz que cortes nos subsídios são temporários até 2014, mas admite passagem a 12 vencimentos" (jornal Público).
E apesar de todos os elogios europeus e internacionais expressos por várias entidades e personalidades que, entre os adjectivos, apresentam o esforço português como um caso de eventual sucesso, o receio de falharmos cresce dia após dia, face à incerteza do futuro e ao impacto das políticas adoptadas, mesmo o acordo celebrado entre as partes (Portugal, BCE, FMI). Afinal Portugal pode precisar de mais fundos de funanciamento externo - "Portugal poderá precisar de mais 25 mil milhões de euros da troika" (jornal I) - e sente-se na eventualidade de negociar alguns termos do memorando de acordo com a Troika, apesar de todas as negações do Governo e contrariando muitas vozes que tinham alvitrado a hipótese: "Portugal vai propor ajustamentos ao memorando em Novembro".
Todas estas políticas de austeridade começam a ter um sabor a nada, a frustração e a desilusão... porque não são capazes de gerar confiança no futuro, de alterar o rumo dos acontecimentos, de melhorar a economia e o desenvolvimento do país.
É o mesmo que "trabalhar para aquecer" ou de "tapar o sol com a peneira".
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