“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

04 maio 2011

Semana das Liberdades...

Publicado na edição de hoje, 04.05.2011, do Diário de Aveiro.

Preia-Mar
Semana das Liberdades!

Não me refiro ao 25 de Abril de 74, pese embora a sua importância na promoção e no alcance da liberdade.
Mas os últimos dias estão, claramente, marcados por três momentos determinantes no que respeita ao conceito de liberdade(s).
No dia 28 de Abril, José Sócrates foi o convidado do Fórum da TSF. Nada fora da normalidade se o Fórum não tivesse sido totalmente manipulado pela organização do Partido Socialista, desvirtuado na sua normal estrutura e não tivesse gerado uma onda de contestação de muitos ouvintes daquela estação de rádio. Criticas que, por outro lado, geraram descontentamento em alguns profissionais da TSF que se sentiram lesados no seu brio e deontologia profissionais (como expressou, e bem, a jornalista Ana Catarina Santos no seu blogue).
É notório que a máquina da estrutura socialista e o seu marketing político tem uma capacidade comunicacional muito forte e assiste, ao minuto, a agenda política do partido, antecipando e precavendo as críticas da oposição ou o descontentamento dos cidadãos. Esta é uma arma eleitoral que tem conseguido colocar o PS muito acima do que seria expectável face à realidade do país e da governação dos últimos seis anos.
Por outro lado, vem o caso a propósito da comemoração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado na passada terça-feira, dia 3 de Maio.
Hoje é tema corrente de discussão, aos mais diversos níveis, o presente e o futuro da Comunicação Social, nomeadamente na sua liberdade e na sua isenção. Vários são os contextos e realidades que se apontam: o impacto das novas tecnologias e dos novos suportes de comunicação e informação; a concentração da propriedade dos órgãos de comunicação social; o poder absoluto dos principais grupos económicos que controlam os meios e que exercem constantes pressões nas suas estruturas editoriais; a degradação das condições de trabalho dos jornalistas, nomeadamente, dos estagiários; a confusão entre legítimo interesse público e o interesse do público, no que respeita ao direito de informar e ser informado.
Neste período conturbado da realidade política em Portugal, bom seria que a Comunicação Social conseguisse reaver o seu papel e estatuto de formação de opinião e de veículo de uma informação verdadeira, clara, concisa e plural, assente no princípio fundamental da liberdade de expressão e de informação.
Mas o início desta semana seria ainda marcado por um anúncio “bombástico” à escala mundial: a morte de Ossama Bin Laden. Também um facto que muitos relacionaram com liberdade (pelo menos com a referência a um mundo mais seguro).
Por uma questão de princípio e formação, condeno qualquer manifestação de regozijo pela morte de um ser humano, seja quem for (a coerência é algo que faz equilibrar a crítica e olhar o mundo de forma mais clara). As manifestações que se fizeram notar em vários cantos do planeta não são distintas dos que jubilaram com os atentados da Al Qaeda, nomeadamente após os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001.
Mas o Mundo não se pode deixar iludir… não vai haver mais segurança, nem mais liberdade face aos acontecimentos. Pelo contrário, haverá o perigo de represálias, de transformar Bin Laden num mártir e de provocar um fortalecimento das várias e diversas células e grupos terroristas (a Al Qaeda não é um estrutura piramidal mas sim tentacular; acrescentando-se que a organização não morreu com a morte do seu líder: o egípcio Ayman al-Zawahiri, mentor de Bin Laden, cérebro e porta-voz da Al-Qaeda passa a ser o líder do grupo).
Por outro lado, por maior que seja a informação debitada pela administração americana, é evidente que este “anúncio” tem muito mais de obscuro e pouco claro, do que verdadeiro e factual. Aliás, tem muito mais contornos políticos e mediáticos do que o combate ao terrorismo em si mesmo.
Pelo timing e agenda política americana, pelo aproximar das eleições presidenciais nos Estados Unidos, pela perda de popularidade de Barack Obama.
E, essencialmente, porque este anúncio e este acontecimento em nada vão beneficiar o desejável e urgente respeito pela liberdade de expressão e de religião, pelo respeito pelo o outro e pelo pluralismo.
Melhores liberdades se esperam!

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