“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

18 abril 2010

O acordo ortográfico nas redes sociais...

Mesmo correndo o risco da extensão do texto, penso que vale a pena pela temática da discussão em causa.
Via Paulo Querido, no twitter e facebook, com a introdução do tema:
(Paulo Querido) "é engraçado porque os argumentos contra o acordo [ortográfico] são usados para o tentar impedir."

E a "discussão" começou...
Jorge Laiginhas
Paulo, essa coisa do acordo ortográfico, ou do desacordo passa ao lado da evolução da língua. É uma violência! Se leres a minha crónica aos domingos no JN verás o quando eu desacordo o acordo e, ao que sei, os leitores entendem-me. Deixem a língua caminhar...
Nuria Pons
Concordo com Jorge. O acordo é o desacordo da língua.
Filipe Guedes Ramos
O desacordo tem muito que se lhe diga... uma peça de lixo motivado por interesses económicos e políticos...
Temos de falar brasileiro para sermos competitivos? Será que é mesmo isso?
Quantas variações de inglês existem? E de francês? E de espanhol? Será que eles andam feitos parvos a fazer desacordos como nós?...
Enfim!...
Paulo Querido
Discordo de ambos e já o disse várias vezes. A língua não evolui por acordo, nem por contra-acordo. O que o acordo faz é proteger alguns interesses e tentar algumas experiências políticas. Ora, eu como autor só posso concordar com um maior entendimento editorial (porque é disso que trata o acordo, fundamentalmente) entre estes dois países. Dispenso-me de listar as razões ;)
Paulo Querido
Filipe, o argumento das variantes do Inglês não me diz nada. Há línguas sem unificação e outras com unificação.
Além disso, o acordo visa menos pormenores linguísticos e mais interesses editoriais. E protege o mais pequeno (Portugal). Se alguém devia ignorar o acordo, eram os brasileiros. Não nós.
Paulo Querido
Filipe, além do mais não posso deixar de olhar para o reacionários ao acordo senão com complacência. Não têm argumentos, mas emoções (muitas delas duvidosas, em meu entender), medos, um desejo de nada fazer... Caramba, não querem não adiram. Não somos obrigados por lei nem ninguém nos aponta uma arma para escrevermos segundo o acordo. Os erros são livres de dar. Sempre foram. Sempre existiram.
Miguel Pedro Araújo
Paulo Querido... neste caso, permita-me discordar de si. De facto a l... Ver maisíngua não evolui por acordo... e esse é que é o problema, porque estão a tentar evoluí-la por mero acordo. Não por razões lunguísticas (léxico, fonética) mas sim por questões (maior entendimento editorial) económicas. E será que com o acordo se vende mais livros portugueses no Brasil ou nos PALOPs?! E porque é que o acordo aproxima mais o "português" ao "brasileiro", e não ao contrário?! Qual é a língua mãe?!
Não vimos o Inglês (mesmo por razões editoriais) a fazer qualquer acordo como o "americano", "o canadiano" (com a excepção do "colonato francês"), o "australiano", o "neozelandês", etc, etc... ;)
Paulo, entendo a questão editorial mas... insisto: gostaria mais que a língua fizesse o seu caminho desacordada. Também sei que o acordo é sustentado por interesses económicos...
Filipe Guedes Ramos
Paulo, não é só o Inglês. Existem mais línguas nessa situação. E é um argumento tão válido e capaz como os seus.
CLARO! Foi o que eu disse! Mas que raio de pensamentos!!! A língua é dos seus falantes e não é pertence de interesses económicos/editoriais!!! Bonita lógica... fazer um acordo para favorecer editoras...
Protege Portugal? Como eu gostava que esse argumento não fosse falacioso... os brasileiros perdem o trema, e nós perdemos metade da grafia que influencia a fonia!! E somos protegidos??
Filipe, a língua não é nada dos falantes, ou dos escreventes, mas que coisa. A língua não é uma propriedade.
Porque não faz uma ILC para lhe devolverem o ph?!?
Miguel Pedro Araújo
Acresce ainda...
Mesmo nas questões editoriais que Paulo Querido refere, onde é que o acordo é relevante?!
Cá continuaremos a dizer "comboio" e no brasil "trem".
Cá temos o nosso "casaco" (do fato) e lá "palitó".
Cá o chocolate é (nalguns casos) "castanho", no brasil "marron"...... Ver mais
Isto aproxima editorialmente?!!!
A língua é dos falantes, dos escrevantes e é propriedade... enquanto for identidade histórica, social e cultural de um povo.
Nuria Pons
Paulo, entendo todas as necessidades deste acordo, como ponto econ... Ver maisômica, por questões que sejam editoriais etc e tal, porém, além de se colocar um entrave entre brasileiros e portugueses, que não entendem este acordo assim, somos sim, ao menos aqui no Brasil, obrigados a utilizar o acordo, portanto a Lei se fará cumprir e jovens ao caminho de Vestibulares *e aqui a coisa pega, terão de usar a língua que não é dela, que raios, adoro tremas! não poderei mais usá-los, é um exemplo entre tantos outros que já perdi as contas e, de verdade, era a última coisa que queria fazer, comprar gramáticas atualizadas da língua portuguesa. Desde além mar, não gostaria de haver de passar por isto agora.
Miguel, aproxima. As revisões das editoras que queiram (e possam) publicar nos 2 países terão em conta o que for de ter em conta. Fato e paletó (que continua em Portugal a ser usado), comboio e trem, castanho e marrom são sinónimos. Eu, que sou antigo (cumpro meio século este ano), não tenho a mínima dificuldade em percebê-los.
Filipe Guedes Ramos
Subscrevo a última resposta do Miguel Pedro Araújo. Disse exactamente aquilo que eu iria dizer.
Paulo Querido
Miguel, se é identidade histórica, social e cultural, como dizer que é propriedade? E porque razão tenho eu, nascido há 50 anos, mais direito à sua propriedade que os estrangeiros que morreram nesse ano tendo nascido a falar português?
Miguel Pedro Araújo
Mas Paulo... a mim, que ainda me faltar... Ver maisão 6 anos para o meio século :))), também não me custa entender... até porque tenho, por força de casamento, ligações familiares ao Brasil.
Mas nós não podemos servir de "bitola", nem de regra (quanto muito, de excepção à regra).
E o que tentei dizer é que este acordo não aproxima significados e significantes.
De tal modo que, ainda em recente visita a Portugal de familiares Brasileiros, os "desentendimentos" linguísticos" foram muitos... e não é este acordo que os anulará.
sinônimos em português além-mar, entendo seu sinónimo, sem precisar de acordo, quero usar de forma correta a minha fôrma...não poderei mais!! deixarei uma velha canção de Caetano Veloso em que ele diz o que que
"Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias... Ver mais
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa...
É isso aí, adoro roçar a língua de Luís de Camões com seus factos, sinónimos é rico demais, não gostaria de mudar nada de vocês que admiro e nada daquilo que também gosto, minha língua além-mar, simplesmente rocemos umas nas outras e festejar a diferença que é nossa riqueza.
Miguel Pedro Araújo
Paulo... peço desculpa mas só percebi a primeira questão. Como é propriedade a nacionalidade, por exemplo. Mas isto nada tem de "nacionalismo", "xenofobia" ou algo semelhante... estou a falar em identidade, sem excluir quem tem todo o gosto em ser português, mesmo não nascendo cá.
Como exemplo, não deixa de ser aveirense, quem nascendo em Lisboa, decide viver de "corpo e alma" os costumes, a história, os regionalismos, desta região. Mas por opção, aceita e adopta essa "identidade" aveirense.
E uma outra questão ("lenha para a fogueira")...
Não ouvi uma única referência, na questão da aproximação da língua entre os Países Lusófonos sobre uma realidade que teimosamente se tentar encobrir e aniquilar: onde fica, no meio disto tudo, o Mirandês que é, por força legal, a segunda língua oficial portuguesa?!
Paulo Querido
Phoda-se! (desculpem, não resisti, ehehehe) A ser propriedade de algum dos países em que é língua oficial, qual é o vosso critério para decidir a que povo o português afinal pertence?!?
Miguel Pedro Araújo
ah... essa é fácil... é o que estamos a tentar dizer-lhe, meu caro: a PORTUGAL!!!!
E a do Ph está bem "apanhada"...
Paulo Querido
Temos a antiguidade (Portugal). Temos a dimensão (Brasil). Temos a dedicação (Cabo Verde, entre outros). Temos o orgulho (Timor). Qual dos critérios vence a vossa corrida pela propriedade do português? Aceitais que dos 200 milhões de falantes nativos possam emergir meia dúzia de critérios diferentes do vosso? Ou não?
Claramente, o da antiguidade... n... Ver maisão me vai dizer que a língua portuguesa "nasceu" (e evoluiu) noutro lado que não aqui. Tal como o "inglês" não nasceu nos USA, Canadá ou Austrália...
Se aceito que possam emergir critérios diferentes?! Claro que sim... aliás, permita-me que use, de forma séria, os slogans: "todos diferentes, todos iguais" ou "igualdade, na diversidade".
Porque é que não podemos ter a língua portuguesa mãe (identitária do povo português) e as respectivas "variantes" dispersas pelos países que menciona e com as "identidades" que refere desses próprios países?! Claro que sim...
Paulo Querido
Miguel, claro que podemos ter diversidade. Mais; teremos cada vez mais diversidade, que não é eliminada por nenhum acordo de unificação. Nem é estimulada por nenhum acordo de promoção de diferenças ortográficas, já que falo nisso...
Não aceito o critério da antiguidade para a propriedade do português. A língua evoluiu. Se há acordos políticos a fazer em cima de uma língua, devem ser feitos pelos países que se interessem por eles.
Actualização
Miguel Pedro Araújo
Espero que não me leva a mal, mas tomei a liberdade de transcrever esta deliciosa discussão para o meu blogue. ;)
Paulo Querido
Miguel, não levo a mal, pelo contrário. Acho boa ideia. Vou ver e até ligar e promover no meu.
J Eduardo Brissos
"Por isso, a nossa Academia Galega, que não quer que a Galiza perca de novo o trem da história, apoia e promove o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, porque para nós significa a salvação da nossa língua, da língua dos galegos, da nossa cultura e do nosso pensamento."
Isabel Rei, representante da Academia Galega da Língua Portuguesa, na Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial em Brasília, Março 2010.

1 comentário:

Nailson Martins disse...

Na boa? acho o acordo ortográfico uma boa. E se as editoras portuguesas passarem a vender mais livros aqui e vice-versa?

Pensem bem, o custo pra traduzir um livro técnico, por exemplo, é muito alto. Se o livro for escrito dentro da reforma, pode ser vendido em todos os países Lusófonos! e poderíamos ter mais livros traduzidos para o Português.

Querem um exemplo? Existe um livro que é O livro sobre Java, Java Como Programar do "Deitel"*. No Brasil ele só é lançado de duas em duas edições. com o acordo é bem provável que TODA edição seria traduzida.

Querem outro exemplo? Nick Sagan** escreve uns livros bem legais, mas só são publicados em Portugal. Se fossem publicados sob a reforma, poderiam ser impressos/pulicados em qq país lusófono.

* "Deitel" se refere ao pai e filho de sobrenome Deitel, e é jargão chamar de Java do Deitel, C++ do Deitel, etc, etc, yada, yada, yada...

** Isso mesmo! pra quem não sabe ele é filho do Saudoso Carl Sagan, e parece q escreve PACAS!