Publicado na edição de sexta-feira, 2.01.09, do Diário de Aveiro.
Sais Minerais
Batem à porta?!
É comum, chegada esta altura do calendário, o recurso ao “rewind” ou “flashback” dos acontecimentos que, durante os restantes dias que compuseram o ano, foram preenchendo o “espaço público”, mais ou menos próximo.
Hoje, face ao mediatismo dos acontecimentos e aos recursos tecnológicos disponíveis, estes momentos ’épicos’ tornam-se relativamente acessíveis e fáceis de utilizar (apesar disso, não vão assim tão distantes os tempos de vasculhar arquivos encaixotados, à procura dos acontecimentos mais marcantes).
É, desta forma, que voltam à “imagem colectiva” os momentos sociais, políticos, económicos, culturais e desportivos que marcaram a anuidade cessante. E regressam à memória, em muitos casos, vezes sem conta ou exageradamente em conta.
Mas será esta a perspectiva que interessa ter, no final de mais um ciclo?!
Se a intenção generalizada dos cidadãos é a de comemorar o Novo Ano, aquele que chega mal soa a última badalada, porquê tanta preocupação com o que deixámos para trás?!
A História faz-se em cada futuro projectado nos espaços vividos. Só assim, a sociedade e o indivíduo evoluem.
Deste modo, não será mais importante a reflexão sobre o Novo Ano que “bate à porta” (leve, levemente…)?!
Como podemos desejar um Bom Ano se nem nos demos ao trabalho de o querer conhecer e tentar perceber como ele pode ser?
A ilusão em nada beneficia a vivência da realidade. E a euforia do momento esconde factos que merecem uma maior atenção.
Será que vale a pena deixar 2008?
Os peritos financeiros (excluindo questões ou quezílias político-partidárias) já referenciaram 2009 (o Novo Ano) como o ano mais problemático e marcante no actual panorama da crise financeira global.
Baixam as taxas de juro e o preço do petróleo, mas estagna a economia, perde-se o desenvolvimento social, aumenta o desemprego, aumentam os bens de consumo (água, electricidade, transportes) diminui a eficácia e justiça fiscal, …
Pior que assistirmos a uma recessão - em termos muitos gerais e simples, é declínio da taxa de crescimento económico (queda do PIB - diminuição significativa das actividades comerciais e industriais) e resulta na diminuição da produção e do trabalho, dos salários e dos benefícios do sector empresarial (mas, apesar disso, a recessão é considerada como uma fase normal do ciclo económico) - é a percepção que a realidade demonstrada pela crise possa, já no futuro imediato, passar pelo descontrolo financeiro de uma deflexão - resulta numa baixa nos preços de produtos no mercado de forma não contínua e consistente (estagnação do mercado e do consumo), gerada pela baixa procura de determinados produtos ou serviços, obrigando o sector empresarial a reduzir os preços como única alternativa de venda, podendo resultar em falências e gerando um aumento do desemprego (que implica falta de recursos financeiros dos cidadãos para investir no mercado: consumo, criando um ciclo).
Mas não se pense que será apenas o espectro financeiro a marcar 2009. Serão as probabilidades de, a isso, juntarmos as questões sociais como o desemprego; a criminalidade; as convulsões sociais e sectoriais; o sentimento de injustiça; a perda de valores; a falta de desenvolvimento; a ausência do sentido de solidariedade e comunidade, etc..
E não se pense, também, que a Grécia está assim tão longe…
Ainda assim não consigo ter bem a percepção se deveremos comemorar ou não.
Ou melhor... o português comemora por tudo e por nada.
Mas o que importa aqui é saber se convém celebrar a despedida de 2008 ou nos preocuparmos com um 2009 que, apesar de desconhecido, se nos afigura deveras negro e cinzento.
Fica ao vosso critério. Por mim... não saía de 2008, apesar de tudo.
Mas, enfim... que seja.
UM BOM 2009 para todos.
Ao sabor da pena…
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