Crónicas dos Arcos
O “Tal Canal”.
No final do ano de 2007 e já durante este mês de Janeiro, por diversas vezes e distintas ocasiões, foi-se discutindo, embora de uma forma muito superficial ou em círculos muito restritos, o projecto do governo de criar (por concurso público) um novo canal de televisão generalista, em regime aberto (não pago para o utilizador). Isto é… mais um canal de televisão.
Nos dias de hoje, é indiscutível a dimensão da actual “sociedade da informação”, que muitos atribuem já a denominação de “sociedade da comunicação” (por forçado peso das novas tecnologias nesse processo comunicacional).
Não deixa de ser um facto irrefutável de que a Comunicação Social tem um papel privilegiado e fundamental (para não dizer o ou um dos mais importantes) na socialização das comunidades, no seu desenvolvimento e estruturação, bem como na promoção do conhecimento.
Não seria possível concebermos o conceito de sociedade e de vivência comunitária, se não existisse o processo comunicacional.
Daí que a responsabilidade seja acrescida no desempenho deste papel socializador das comunidades. E quanto mais esta sociedade evolui, se transforma, se estrutura, se dinamiza, mais fulcral é o papel da comunicação social nessa socialização das comunidades e no desempenho da sua função de consciência social.
Assim, na sociedade actual o público forma a sua própria opinião, as suas convicções, a sua realidade social em função da informação que recolhe dos meios de comunicação social de massas.
Competindo directamente e em muitos casos sobrepondo-se claramente à acção social da escola, da família, da religião, os meios de comunicação têm uma capacidade intrínseca de dinamizar alternativas e movimentações sociais capazes de provocar alterações nas estruturas individuais e colectivas da sociedade, ao nível social, económico, político, cultural e até mesmo histórico.
Veja-se o recente caso da demissão do Ministro da Saúde e a contestação às políticas implementadas ou a implementar nesta ara social tão sensível (mesmo que a mudança ministerial dificilmente vá alterar o processo).
Assim, pode-se clarificar e simplificar o papel dos media na sociedade com duas vertentes: a de “vigiar” (controlando as acções governativas nacionais ou locais e das estruturas do estado e da sociedade) e a de “educar” (permitindo espaços de discussão, partilha e assimilação, através da informação e das mensagens divulgadas).
Mas estas duas “imagens” do papel de socialização dos media são, muitas vezes e com forte relevo, invadidas por um “ruído” que limita e influencia igualmente a actividade dos meios de comunicação. O peso que os grupos económicos e políticos exercem sobre o emissor tem regulado a sua forma de actuar e transmitir a mensagem, alterando e condicionando igualmente os seus efeitos junto do indivíduo, do grupo ou da estrutura social.
Daí que, infelizmente, o debate se tenha centrado penas na questão economicista que a concorrência de um novo canal provocará nos três (ou quatro) já existentes. Mas esta é a lógica do mercado. Reduzir a questão apenas à sobrevivência (de qualquer modo importante e significativa) económica é extremamente redutora para uma temática mais abrangente.
E o público?! E a oferta da programação?! E a qualidade informativa?!
E esta é que me parece ser a questão fundamental.
Num país da dimensão como a nossa, com o nível de aculturação e a iliteracia existentes, a existência de mais um canal de televisão reflectirá uma maior socialização dos indivíduos e das comunidades?
Conseguirá, de facto, ser alternativa à qualidade (boa ou má) existente?! Ou, pelo contrário, significará maior quantidade de “lixo” informativo?!
Portugal não tem um sector social, cultural e político capaz de gerar quantidade informativa que justifique o acréscimo de mais um espaço televisivo (compare-se, por exemplo, ao que acontece no sector da imprensa escrita). Como dizia um professor de comunicação do ISCIA, "aumenta a oferta dos órgãos de comunicação, mas aumenta igualmente a informação deficiente, incoerente, sem rigor ou qualidade".
Este é o verdadeiro problema: a quantidade raramente é sinónimo de qualidade.
Assim progride a nação. Assim cresce a sociedade.
O “Tal Canal”.
No final do ano de 2007 e já durante este mês de Janeiro, por diversas vezes e distintas ocasiões, foi-se discutindo, embora de uma forma muito superficial ou em círculos muito restritos, o projecto do governo de criar (por concurso público) um novo canal de televisão generalista, em regime aberto (não pago para o utilizador). Isto é… mais um canal de televisão.
Nos dias de hoje, é indiscutível a dimensão da actual “sociedade da informação”, que muitos atribuem já a denominação de “sociedade da comunicação” (por forçado peso das novas tecnologias nesse processo comunicacional).
Não deixa de ser um facto irrefutável de que a Comunicação Social tem um papel privilegiado e fundamental (para não dizer o ou um dos mais importantes) na socialização das comunidades, no seu desenvolvimento e estruturação, bem como na promoção do conhecimento.
Não seria possível concebermos o conceito de sociedade e de vivência comunitária, se não existisse o processo comunicacional.
Daí que a responsabilidade seja acrescida no desempenho deste papel socializador das comunidades. E quanto mais esta sociedade evolui, se transforma, se estrutura, se dinamiza, mais fulcral é o papel da comunicação social nessa socialização das comunidades e no desempenho da sua função de consciência social.
Assim, na sociedade actual o público forma a sua própria opinião, as suas convicções, a sua realidade social em função da informação que recolhe dos meios de comunicação social de massas.
Competindo directamente e em muitos casos sobrepondo-se claramente à acção social da escola, da família, da religião, os meios de comunicação têm uma capacidade intrínseca de dinamizar alternativas e movimentações sociais capazes de provocar alterações nas estruturas individuais e colectivas da sociedade, ao nível social, económico, político, cultural e até mesmo histórico.
Veja-se o recente caso da demissão do Ministro da Saúde e a contestação às políticas implementadas ou a implementar nesta ara social tão sensível (mesmo que a mudança ministerial dificilmente vá alterar o processo).
Assim, pode-se clarificar e simplificar o papel dos media na sociedade com duas vertentes: a de “vigiar” (controlando as acções governativas nacionais ou locais e das estruturas do estado e da sociedade) e a de “educar” (permitindo espaços de discussão, partilha e assimilação, através da informação e das mensagens divulgadas).
Mas estas duas “imagens” do papel de socialização dos media são, muitas vezes e com forte relevo, invadidas por um “ruído” que limita e influencia igualmente a actividade dos meios de comunicação. O peso que os grupos económicos e políticos exercem sobre o emissor tem regulado a sua forma de actuar e transmitir a mensagem, alterando e condicionando igualmente os seus efeitos junto do indivíduo, do grupo ou da estrutura social.
Daí que, infelizmente, o debate se tenha centrado penas na questão economicista que a concorrência de um novo canal provocará nos três (ou quatro) já existentes. Mas esta é a lógica do mercado. Reduzir a questão apenas à sobrevivência (de qualquer modo importante e significativa) económica é extremamente redutora para uma temática mais abrangente.
E o público?! E a oferta da programação?! E a qualidade informativa?!
E esta é que me parece ser a questão fundamental.
Num país da dimensão como a nossa, com o nível de aculturação e a iliteracia existentes, a existência de mais um canal de televisão reflectirá uma maior socialização dos indivíduos e das comunidades?
Conseguirá, de facto, ser alternativa à qualidade (boa ou má) existente?! Ou, pelo contrário, significará maior quantidade de “lixo” informativo?!
Portugal não tem um sector social, cultural e político capaz de gerar quantidade informativa que justifique o acréscimo de mais um espaço televisivo (compare-se, por exemplo, ao que acontece no sector da imprensa escrita). Como dizia um professor de comunicação do ISCIA, "aumenta a oferta dos órgãos de comunicação, mas aumenta igualmente a informação deficiente, incoerente, sem rigor ou qualidade".
Este é o verdadeiro problema: a quantidade raramente é sinónimo de qualidade.
Assim progride a nação. Assim cresce a sociedade.
2 comentários:
e o artigo é teu?
é um assunto em que nunca pensei, não me aquece nem me arrefece!
SaltaPocinhas
Todas as quintas feiras, num Diário de Aveiro perto de si, as Crónicas dos Arcos tem a assinatura deste modesto aveirense e gema.
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