“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

30 janeiro 2008

Reciclagem Ministerial

O Governo foi reciclado. José Sócrates resolveu aceitar (impor) a demissão do Ministro da Saúde e da Ministra da Cultura.
Se a cultura ainda é, em Portugal, um caso de elite e algo que pertence a círculos restritos, a saúde já é algo que diz respeito a todos, seja qual for o ponto cardinal, a idade, o sexo, a religião e a profissão.
Mas desenganemo-nos…
Há duas questões que são relevantes.
Facto 1: a política da reforma a saúde não é coerente, nem beneficia as populações (ou pelo menos uma grande parte dela).
Facto 2: O Ministro Correia de Campos apresentou a sua demissão.
Facto 3: O governo foi remodelado.
A pouco mais de um ano das eleições faz algum sentido?
Ou melhor… Faz algum sentido remodelar qualquer governo?
Das duas três…
Ou o ministro era o verdadeiro protagonista da política adoptada, que deveria ser do governo e não pessoal (o que enfraquece o Primeiro-Ministro), ou o Ministro tornou-se vítima da falta de coragem do Primeiro-Ministro que não assumiu a sua responsabilidade governativa. Ninguém pode conceber que o Primeiro-Ministro não seja o responsável por determinar as políticas dos vários ministérios.
Mas a verdadeira conclusão que se pode tirar de uma remodelação é a de que o governo estava fragilizado. Aliás é essa a conclusão que podemos tirar das palavras do Vice-Presidente da bancada parlamentar socialista Vitalino Canas: o governo sai reforçado. Ou seja, o governo não estava fortalecido (estava fragilizado) e reforçou-se com a remodelação. Do género, retirar da cesta a fruta tocada ou podre.
E desenganemo-nos igualmente se alguém pense que, a tão pouco tempo das eleições, a política da saúde vai mudar. Quanto muito a nova ministra irá empatar e tentar arrefecer os ânimos até 2009.

8 comentários:

Rosarinho disse...

Eu explico isso tudo para a semana!

Anónimo disse...

Eu sabia meu Caro que você vinha dar uma forcinha à oposição a este Governo.
Mas será que este Governo tem mesmo Oposição capaz Caro Miguel Araújo?
Se tem, por onde anda e o que tem feito?
Parece-me bem que faz mais oposição o autarca de Anadia de há dois meses a esta parte, que o Menezes, Ribau, Santana e Portas, nestes dois últimos anos.
Quando o Ribau ou o Meneses forem primeiros-ministros ainda vou ver o homem de Anadia a ministro da administração interna. É bom a mobilizar as massas.

Depois, não entendo porque acha errado fazer nesta altura uma remodelação ministerial...
Eu, na pequenez da análise que faço, acho a altura ideal, e mais, se a remodelação fosse daqui a um ou dois meses, o esquema seria perfeito. É que, no meu ponto de vista, na política, como em tudo em que se procura o sucesso, as coisas têm de ser “arquitectadas” ao pormenor, estudadas e planificadas. No fim quando o plano estiver cumprido, tira-se o “agente” que serviu para executar a tarefa.

Sócrates, em minha opinião, e independentemente de gostar ou não do trabalho que tem desenvolvido, mais uma vez provou ser inteligente. Se eu soubesse que você não ficava escandalizado, e nada tendo a ver com simpatias pelas suas políticas, atrevia-me a dizer que, se calhar, foi o melhor Primeiro-Ministro, pós 25 de Abril.
E olhe que por aqui, pelos meus lados e nos meus laços sanguíneos, fez algumas mossas, mas isso não impede que eu dê, o seu a seu dono.
Meteu as mãos onde muitos nem de botas cardadas metiam os pés.

Da ministra da cultura não vale a pena falar, andou para lá. Mas ao ministro da saúde, Sócrates deve-lhe muito. É que ele, fez o trabalho “mau” deste governo. Cumpriu bem a sua obrigação, foi um resistente a muito, diria mesmo, a tudo...
Estava na altura de passar o testemunho, e passou-o até porque, o mais difícil já está feito. Depois, pareceu-me ver no seu Post algumas dúvidas… se a política era ou não do primeiro-ministro. Com certeza que não acredita que cada ministério faz o que entende dentro dos parâmetros estabelecidos. Isso já pode ter acontecido noutros governos, acredito que sim, não acredito é que isso aconteça com este.

Consta-se, e diz quem o conhece, que o primeiro-ministro é miudinho, quer saber tudo, estuda tudo, e quer estar por dentro de tudo. Bem, a comprovar isso, é que ele, efectivamente fala de tudo, não tem papas na língua, fá-lo com convicção, e responde pela saúde, ambiente, cultura, economia, seja sobre o que for.

Muitas vezes quando o oiço, dou comigo a pensar como seria bom ele despir-se de preconceitos e candidatar-se nas próximas eleições autárquicas, à Câmara de Aveiro. Não era por nada de especial, mas gostava que o meu presidente de Câmara estivesse por dentro de tudo o que se passa no Município…
Nem que fosse das palermices que os Vereadores fazem, como certamente na sua opinião, e de muitos mais pensam que fez o Correia de Campos na saúde.
Enfim, modos de ver e pensar.
Um abraço.
E não reclame dos caracteres, poupe-os, para durarem uns tempos.

saltapocinhas disse...

gostei do comentário anterior, sobretudo no que diz respeito ao 1.º ministro: assino por baixo!!

Migas (miguel araújo) disse...

Caro Terra & Sal
Começemos pelo fim.
Sabe muito bem que nunca será algo que farei é reclamar da sua prosa. Quanto muito da sua ausência prolongada.
Voltemos ao princípio do seu comentário.
Concordo consigo que este governo tem beneficiado, e muito, de uma oposição light. Tipo Compal Light... muito sumo mas pouco concentrado. Ou seja, mais líquido que consistente.
No entanto, no caso concreto da saúde, permita-e olhar de outra forma. Não creio que a oposição parlamentar e política tenha surtido qualquer efeito, as também não creioque tenha sido todo este tumulto das populações que tenha assustado o Primeiro-Ministro. Para isso, esta errada política do SNS tinha parado logo nos primeiros encerramentos de SPA's, Urgências e Maternidades. E tal nao aconteceu.
O que me parece ter tido maior influência foi a pressão do discurso do Presidente da República (embora ele não o queira assumir), das vozes críticas que se ouviram dentro do próprio PS (não se esqueça que falta pouco mais de um ano para novas eleições) e também o papel da comunicação social (que muitos gostam de criticar e desvalorizar), nomeadamente no caso do telefonema do INM, tornado público. Penso que foram mais estes factores que pesaram na decisão. Até porque este governo tem a má sina e quanto mais o "espicaçam", mais ele reaje e mais imúne fica a protestos.
Quanto à remodelação, continuo a acahar que é pura demagogia,é sinal de fraqueza e de dúvidas e nada mudará. O que fechou, fechado está; o que está previsto fechar, ou fecha já (se não der muito nas vistas) ou então arrastar-se-á até 2009 e se o PS se mantiver no leme do País, então será a altura para consumar o acto.
Eu não tenho dúvidas (eram questões de retórica, apenas) que a política é do governo (Primeiro-Ministro) e que aos Ministros cabe a incruel tarefa de a fazer cumprir. Por essa mesma razão é que entendo que não faz sentido reciclar, sem justa causa (erros graves - mas para isso já temos Mário Lino e o nosso conterrâneo da Economia).
Ao menos premeie-se o árduo trabalho de dar a cara por uma causa que até pode nem ser a do Ministro, mas que, por imposição do "Chefe", lá terá de ser. Agora mandar embora, acho muito incoerente.
E depois a política implementada, como o "Chefe" é o mesmo não mudará. Apenas se assistirá a novas promessas ambíguas e demagogas e o arrastar dos processos até às próximas eleições, para não fazer muitas ondas no eleitorado.
Receba, com muita saúde, um forte abraço

Migas (miguel araújo) disse...

Saltapocinhas.
Mesmo que não se concorde, quem não gosta da forma equilibrada, coerente e sábia, como se apresenta o ilustre amigo Terra&Sal?

Terra e Sal disse...

: ) Não o vou contrariar Caro Migas, aprendi a considerá-lo e você tem o dom apaziguador de “mentes revoltas”…
O Senhor Presidente da Republica com todo o respeito que ele nos merece tem de erguer as mãos para o Céu e agradecer a Deus ter-lhe dado assim um primeiro ministro, que anda a lavar as nódoas que muitos deixaram.
É que neste buraco em que estamos metidos, anda para aí muita gente bem colocada politicamente que tem sérias culpas no “cartório.”
Nunca se esqueça das palavras de um homem com quem eu “embirrava” e que hoje admiro muito, refiro-me a Miguel Cadilhe. A grande desgraça do nosso país deve-se em parte, ao “monstro” criado, e todos sabemos quem foi o pai do “monstro." Não podemos ter a memória tão curta.
Admiro Cadilhe, acho-o sério, e sei o trabalho honesto e profícuo que fez no banco em que passou como administrador.
Reporto-me à parte social, aos trabalhadores. Para ele, os trabalhadores eram mesmo pessoas de carne e osso, a respeitar fisica e moralmente.
Nunca desligou a parte social das medidas eficazes que incrementou e que aumentou radicalmente os lucros desse banco.
Provou que o social e o capital podem desenvolver-se lado a lado, contrariando o que alguns pataratas armados em intelectuais pensam, que é preciso primeiro criar riqueza e só depois distribui-la.
Por causa desta “ladaínha” é que os trabalhadores estão como estão.
Cadilhe é um homem e um gestor excepcional. O BCP perdeu um grande administrador, embora eu, pouco ou nada esteja preocupado com isso
Portanto meu Caro, quero que saiba que em minha opinião o primeiro ministro não anda a toque das palavras do P.R., nem tem que andar, e embora não aprove tudo o que faz, está também a remediar a "borrada" que outros, noutros tempos fizeram, mas isto, claro, penso eu.
Veja as reformas chorudas que muita gente até de quadros médios recebem, e de quem era o governo que as proporcionou, por causa de maiorias e outras macacadas, pois é...
Mas nós como sempre esquecemo-nos rapidamente. Mas de qualquer forma, e estejamos bem ou mal,ou a “direita” dá uma volta de 180º e fazem entre eles um “golpe” para mudar os protagonistas, ou nas próximas eleições legislativas vamos até ter Cavaco Silva a apoiar a recandidatura de José Sócrates, acredite.
Um abraço amigo e continuação de bom fim de semana.

Migas (miguel araújo) disse...

Caro Terra & Sal
Não é uma questão de contrariar. Isso é para aqueles que não tendo argumentos válidas e sustentáveis, apenas se limitam a ser do contra… porque sim!
O direito ao contraditório é a sustentação da liberdade de opinião e expressão. O verdadeiro sentido da cidadania e da democracia. A qual, como o meu amigo bem o saberá, é dos “fundamentalismos” que mais prezo.
Portanto…
Quanto ao Presidente da República não acho que as comparações que sempre foram feitas, desde o tempo da campanha para as últimas presidenciais, com os tempos idos da década de 80 e tal, sejam válidos. Os tempos eram outros (como diria um proeminente político da nossa praça: tempos das vacas gordas), as funções distintas. Aliás este tipo de comparações que a classe politica tanto gosta (aqui vai mais uma das razões da minha desfiliação) faz-me recordar outro tipo de discurso mais perto das nossas salinas: a culpa é sempre dos outros (os anteriores) e do deficit (que nuca mais acaba).
Portanto, neste caso particular, acho que beneficiam os dois: a tal cooperação estratégica. E ainda mais. À custa disso mesmo, não duvido e concordo perfeitamente consigo (como aliás já o disse várias vezes) 2009 e 2010 não vão trazer quaisquer novidades. Apenas uma dúvida em 2008: maioria ou não!
O meu pai, reformado do antigo BPA (bem antes da aquisição pelo Sr. Jardim Gonçalves - o tal da semanada ao filho crescidinho), era a imagem que sempre soube transmitir da instituição que deu origem ao BCP: o sentido social e o respeito pelos funcionários. Que ele acabaria por referir que, com os tempos, se foi perdendo. Por exemplo, quantas refeições, este seu modesto admirador e amigo, fez na cantina do 5º andar, até que um belo dia, um Sr. Administrador (já dos novos) achou por bem encerrar os serviços sociais, por entender que o incomodava o cheiro das refeições.
Mas voltando atrás e à sua referência ao Dr. Miguel Cadilhe. Aí está umas das minhas “afrontas” às reformas e à governação do país, pelo Sr. Engenheiro Primeiro-Ministro: é que são mal estruturadas, desenraizadas do nosso tecido social e da realidade que é o nosso país, assimétricas no pluralismo e no direito igual. Como diz o meu caro amigo, referenciando-se a Miguel Cadilhe: “o social e o capital podem desenvolver-se lado a lado, contrariando o que alguns pataratas armados em intelectuais pensam, que é preciso primeiro criar riqueza e só depois distribui-la”. Aliás, críticas reiteradas por Mário Soares e Manuel Alegre, quando referem que o PS em que retomar a sua tendência social (princípios de esquerda).
Mas quanto à remodelação governamental, permita-me a minha teimosia de cagaréu de gema: Sócrates (até no aproveitamento do agendamento político - “spinning” se comprova isso: o discurso de Cavaco Silva na abertura do ano judicial, tornando-o menos critico do que na passagem do ano, o retomar da polémica com os voos da CIA, por exemplo), a pouco mais de um ano das legislativas e após o sucesso (?) da presidência europeia, não teria tido necessidade de reformular só pela pressão dos cidadãos: para isso também mudaria a ministra da educação, o ministro da agricultura. A pressão veio através do discurso do PR e de alguma contestação e mal-estar internos. Não é por acaso, que a nova ministra da saúde não é filiada no PS e foi apoiante de Manuel Alegre na última campanha presidencial. Por um lado controla-se a oposição interna (satisfazendo as suas fileiras) e por outro ganha-se tempo na contestação popular que foi transposta e mediatizada pelo discurso presidencial no Ano Novo.
Quanto às eleições… olhe meu caro amigo. Estamos de acordo. Não me admira nada que o cenário se repita. E ainda vamos assistir a Cavaco apoiar Sócrates e se este se mantiver no governo, o PS a apoiar Cavaco numa provável recandidatura.
Tenha um Bom Domingo.

Terra e Sal disse...

Depois de um discurso tão eloquente e certeiro da sua parte que posso eu mais dizer Caro Miguel?
Meter a viola no saco e procurar um sítio mais fragilizado :)
Um abraço e boa semana