“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

08 novembro 2007

(Tri)ângulos da vida...

Publicado na edição de hoje (8.11.07) do Diário de Aveiro.
Crónicas dos Arcos
(Tri)Ângulos


Três breves notas de rodapé.
1. Infâncias e Juventudes
Não me acorre à memória, nos meus modestos 41 anos, recordações de tamanha mediatização dos fenómenos e problemáticas relacionadas com crianças, adolescentes e jovens deste país. Não que ela seja pejorativa, mas, bem pelo contrário, preocupante.
Questões ligadas a estas temáticas sempre existiram ao longo dos tempos. Mas a capacidade mediática dos media actuais, para além de novas consciencializações sociais, nos mais recentes tempos, têm transposto para a realidade diária questões relevantes.
As mortes e os maus tratos infantis nos seios familiares, institucionais e na sociedade; o sistema e o estado do ensino; as recentes alterações jurídicas (p.ex. o código penal); a problemática da adopção; o abandono das crianças; o flagelo da pedofilia; o desaparecimento de crianças e adolescentes; a negligência dos cuidados e responsabilidades familiares; a delinquência juvenil; a saúde e a alimentação na infância e juventude; …
Não é risonho o futuro e o desenvolvimento de um país, quando, estrutural, social e politicamente, não sabemos cuidar das “bases” desse mesmo futuro.
2. Tragédia Rodoviária
Algo vai mal no universo rodoviário.
Embora a temática seja uma realidade constante, todos os anos, de muitos os planos, manuais, programas governativos e eleitorais, relatórios e estudos científicos e consciencialização, ela é igualmente uma verdade que teimosamente, mesmo que transversal à sociedade, vai resistindo a qualquer solução.
Pelos mais recentes acontecimentos e dados estatísticos, começa a parecer perigoso sair de casa, seja a pé, de transporte individual ou colectivo.
A caracterização, embora de fácil enumeração, é distinta e apresenta-se complexa: os traçados das vias; o seu estado de conservação; a cultura e a falta de civismo e respeito; a incúria dos condutores; a moderação penal para crimes rodoviários; a falta (ou excesso) de fiscalização policial; o código da estrada inadequado; a escassez de sensibilização social e de campanhas de informação; os excessos de velocidade; …
Todos estes aspectos são válidos para a análise e projecção de soluções capazes de contrariar a perigosidade e o flagelo da mobilidade nas ruas das cidades, nas vias nacionais, nos IP’s, e Auto-Estradas.
Como válidos e assustadores são os números que as entidades responsáveis divulgam. Neste último fim-de-semana prolongado (entre 5ª feira e Domingo) registaram-se oficialmente 900 acidentes, 13 vítimas mortais e 24 feridos graves (segundo dados divulgados no site da GNR).
De acordo com o relatório da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária entre Janeiro e Setembro de 2007, registaram-se 551 mortos, 2.070 feridos graves e 28.167 feridos graves nas estradas portuguesas.
Mas não se pense que é apenas nas vias principais e auto-estradas que esta trágica realidade está presente.
Segundo a mesma Autoridade Nacional da Segurança Rodiviária, em igual período de tempo no ano de 2007, foram atropeladas cerca de 16 pessoas por dia. Os dados estatísticos do estudo registam cerca de 4000 atropelamentos naqueles oito meses (Janeiro a Setembro), registando-se 74 mortes.
São números frios e duros. Que a história se encarregará de “apagar” ou alterar (de forma decrescente, espera-se).
O que não apagará da memória de muitas famílias é a perda dos seus familiares e amigos. Essa é uma realidade inalterável…
3. Insegurança
Numa recente entrevista ao semanário “Sol”, o Sr. Procurador Geral da República referia que era sua preocupação era, para além dos idosos, a violência nas escolas e a sua impunidade.
Embora esta seja uma questão preocupante pelo que provoca no tecido social e no futuro do país, pela falta de responsabilidade, de respeito e de valores sociais e democráticos, neste ano tem sido, aos olhos da opinião e da sensibilidade pública uma outra questão igualmente relevante.
Portugal está a tornar-se um país violento e inseguro. E de nada serve a atitude de “avestruz”. É crescente o fenómeno urbano de “carjacking” (assalto de veículos com recurso à violência), os assaltos a postos de abastecimento de combustível, a caixas de multibanco, a instituições bancárias, a determinados estabelecimentos comerciais (nomeadamente do ramo da ourivesaria), a transportes de valores, a violência “nocturna”, …
A degradação das condições económicas de muitas famílias, o desemprego, a corrupção, o tráfico a vários níveis e de vários tipos, o despojamento dos valores sociais, são factores que sustentam este crescimento da insegurança e da violência na sociedade portuguesa.
Sem esquecer que dela resultam danos, em muitos casos, irreparáveis, como tem acontecido com a factualidade da morte, em muitas situações, de inocentes que, para além do seu trabalho, estavam na hora errada e no local errado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Um abraço do Sul do cantinho

RM disse...

Caro Migas,
Tens um desafio no Margem Esquerda
Abraço
Raul Martins