“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

19 março 2006

Portugal distraído!

A febre das OPA's e contra-Opa's vai distraíndo o país, alimentado uma excitação que encobre a realidade e a capacidade de análise da nossa existência.
O governo, aproveitando indirectamente esta novela economicista nacional, vai digerindo com suave audácia (fora do real confronto) as greves, as escolas, as maternidades, as polícias, a extinção dos distritos (falarei amanhã), o desemprego, etc., etc.
Em mais uma campanha propangadística do governo, esta eufórica guerra bolsista é transmitida para a sociedade como uma factor benéfico de dinamismo económico e de desenvolvimento.
Como se a maioria dos portugueses, conseguisse esquecer o seu dia-a-dia cada vez mais cinzento, com uma realidade que não conhecem, que não percebem e que directamente não os afecta.
Enquanto isto, os partidos da oposição vão contribuindo para este estado de graça governativo: à direita do PS, vivem-se momentos de conflitualidade interna e ausência de liderança partidária; à esquerda ainda se trata da "azia" presidencial, já que (como muitas vezes aqui foi referido) quem mais ganhou com a eleição de Cavaco Silva foi o próprio governo.
E esta realidade vai distraíndo o País, qual big brother, primeira companhia e estrelas de circo da, cada vez mais deprimente, TVI.
Vamo-nos esquecendo da nossa real realidade e do nosso posicionamento europeu. Esta uma realidade ainda muito mais distante do nosso imaginário diário.
As consequências da substituição de Tony Blair nos desígnios britânicos;
A situação social em França;
O isolamento da Alemanha;
Os alargamentos recentes e os futuros;
O desemprego europeu, a imigração e a crise das minorias;
A nossa insignificância estratégica nesta europa, destabilizada, desunida, social e politicamente indefinida e dispersa.
Esta conflitualidade estrutural da europa poderia ser benéfica a Portugal, se a mesma Europa não tivesse desaparecido da política portuguesa. Aliás, espelho disso é a análise que a edição deste sábado do Expresso faz às presenças (ou ás suas ausências) nas reuniões europeias dos nossos ministros, neste primeiro ano de mandato.
Estamos a perder-nos em miudezas que nos marginalizam cada vez mais nesta europa. E estamos a perder oportunidades únicas (de balisa aberta)!
Como refere hoje o Dr. António Barreto no Público (link indisponível): "Mesmo que não consigamos ajudar a União, mesmo que Portugal não tenha peso nem influência, podemos pelo menos ajudar-nos.(...) Evitar que esta nos prejudique. E aproveitar o que ela tem para nos dar. (...) a Europa só nos fará bem se nós fizermos melhor ainda."
Portugal anda distraído.

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