“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

13 fevereiro 2006

Libertinagens

Tudo o que se for dizendo sobre a polémica dos cartoons a partir desta data, começa a saber a "discurso balofo" ou a "dissertações decarteanas".
Para mim, os desenhos não deveriam ter sido publicados, por ausência de contexto, por aniquilação das liberdades (mesmo a de expressão), por atentarem contra a liberdade dos outros, por ser premeditada a sua consequência (lembro que o mesmo jornal recusou a publicação de cartoons alusivos ao catolicismo por os considerar potencialmente ofensivos).
Para mim, nenhuma violência (seja de que tipo for) terá qualquer justificação ou aceitação. Seja por ataque ou defesa.
E esta polémica não é o simples conceito de liberdade de expressão ou da censura. Passou a ser uma questão global, política, racista, fanática e violenta.
Sobre isto já "postei", sobre os acontecimentos resta-me esperar que o fogo se consuma e se apague o mais rápido possível. Porque todos já perdemos... e muito.
Mas há um aspecto que sempre foquei e para mim continua vivo: A Liberdade de Expressão.
Muitas das primeiras críticas ouvidas e lidas faziam referência à necessidade primordial da defesa da liberdade de expressão. Para mim não há absolutismos e muitos dos argumentos usados em defesa da publicação do jornal dinamarquês são irracionais.
Porque não faz sentido que se expresse um fervor tão dogmático pelo direito inalienável à expressão, em contraste com a ausência dessa liberdade (e muitas outras) no mundo islâmico. Porque nós (ditos ocidentais civilizados) somos os primeiros a alienar esse direito inquestionável a pensar e falar livremente.
Deixemo-nos de hipocrisias, argumentações fúteis e demagogias puras.
A liberdade existe e tem lugar enquanto respeitadora e conivente com o direito à liberdade do outro. O que determina que qualquer liberdade tem limites. Excepção ao direito à própria liberdade.
Sejamos práticos, sem a necessidade de entrarmos em situações reconhecidamente extremistas, como a questão religiosa:
Quantos casos judiciais conhecemos nós, directa ou indirectamente, relacionados com processos por "difamação" ou "ofensa"?!!
Quem nunca reagiu mais ou menos violentamente (independentemente da idade) quando sentiu que a crítica dirigida ultrapassou os limites do aceitável e do respeito?!!
Quem é que, verdadeiramente, se sente livre de expressar publica e frontalmente as suas opiniões no seu local de trabalho?!!
Sendo um direito que me assiste exprimir-me livremente, como é possível que exista legislação própria para a administração pública e local (direitos e deveres do funcionário) que me impede, regulamentarmente, de usar esse direito?!!
Seria eticamente aceitável e um direito que livremente me assiste de, neste espaço e sem qualquer tipo de consequências racionais, "desatar" a expressar-me sem qualquer limite de bom senso e respeito para com o anterior executivo, o actual executivo, os membros da Assembleia Municipal, o Governador Civil, etc., etc..?!
Seriam só comentários menos abonatórios as consequências que poderiam surgir?!
Desde quando é que a Constituição Portuguesa delimita o conceito de liberdade de expressão (todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio) ao universo da comunicação social?! E nós outros não somos também livres?!
Estes são exemplos muito simplicistas e concentrados, agora façam o favor do raciocínio global e transponham estas realidades para a publicação caricatural.
Ofendiam-se ou não se ofendiam?!
Deveria ou não deveria ter sido impedida a sua publicação?!
Como, surpreendentemente, José Saramago dizia no público de sexta-feira, era interessante ver o cartoonista dinamarquês a caricaturar ofensivamente, o director do jornal em causa. No dia a seguir não estaria, de certeza, à sua secretária.
Uma boa semana...

1 comentário:

Terra e Sal disse...

Meu caro Migas:
Mais uma vez o cumprimento pela sua convicção simples, mas firme,sobre o assunto em apreço, que quer queira quer não, ainda muito vai dar que falar, se ficarmos só por aí!
Muitos de nós, mesmo por aqui, em "picardias inocentes" não resistimos a um simples desdém,e facilmente nos "incendiamos".
Mas estando o nosso "Eu" de fora, gritamos aos 4 ventos o direito à "liberdade de expressão"
É que a inteligencia não é assim tão vulgar como parece àqueles que a confundem com a esperteza.
Espertos, até os ratos são.
Inteligência é também compreensão, mas muitos nunca isso entenderão.
Saudações
Terra & Sal