“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

26 janeiro 2006

A Avestruz Presidencial

É sobejamente conhecida a história da avestruz. Ao mínimo sinal de perigo, há que esconder a cabeça na areia.
Assim também na política… Quando nos afronta a incerteza.
Apetece-me (sem qualquer significado temporal) rever o filme presidencial. E ‘quiçá’ revogar conceitos.

É inquestionável, à luz dos dados (votos), que Cavaco Silva foi eleito. Será portanto o próximo presidente. Muitos afirmam que a vitória foi tangencial. A única tangencia que eu descortino é a diferença entre 50,60% para 20,70% de Manuel Alegre (i.e. 29,90%). Acresce a ‘luta’ desigual entre Cavaco Silva e os outros 4 candidatos (i.e. 4 contra 1). Bem como um dos maiores registos de abstencionistas em eleições presidenciais.
Mas à parte Cavaco Silva, quem mais terá ganho?!
Manuel Alegre?! A direita?! O PSD?! O CDS.PP?!
E quem foram os verdadeiros derrotados?!
Mário Soares?! O PS e/ou José Sócrates?! O BE e/ou Louçã?! Toda a Esquerda?!

Para o governo é claro que conseguiu disfarçadamente uma vitória em três frentes: ganha uma presidência activa, com ‘now how’ governativo e colaborante; tem a perspectiva de 3 anos mais ou menos seguros para as suas opções políticas, económicas e sociais e afasta o peso político e sombrio de Mário Soares. É óbvio que ganha uma valente dor de cabeça. Não estava nada previsto que Alegre ficasse à frente de Soares. E tal como a avestruz, José Sócrates apressou-se (de tal maneira foi a pressa que 'atropelou' - de forma precipitada - o discurso de Manuel Alegre) a não deixar que o PS entrasse em guerrilha interna, saísse mais fragilizado, mas ao mesmo tempo marginalizando e minimizando Alegre e o seu peso eleitoral. Não sei se o irá conseguir. Acho sinceramente que tem um problema político muito complexo para internamente resolver.

Para Manuel Alegre, a vitória moral de ter sido o segundo candidato mais votado e de se ter situado à frente do candidato partidário Mário Soares, afigura-se-lhe um processo complexo de digerir. Tal como Mª. Lurdes Pintassilgo e Salgado Zenha, o processo eleitoral encerra uma página política. Não tem mais horizontes dos que a sustentação do acto de se candidatar. No entanto, que posição tomar dentro do partido?! Que uso dar à sua sustentação eleitoral?! Confrontar o aparelho ou submeter-se e terminar minimizado politicamente?!
Honra seja feita à sua capacidade de luta e à forma independente da sua candidatura. Mas a política me Portugal (e maioritariamente na Europa) não se sustenta em movimentos de cidadania, de forma continuada e consistente.

Mário Soares foi um dos derrotados. Não faz sentido ser-se avestruz e não querer ver o que é óbvio. O que mais me surpreendeu foi que, apesar das minhas convicções políticas distintas, reconheço a sua estatura e estrutura política e cultural. E é aqui que me falha a lógica. Porquê um último fôlego se à partida, todos os cenários indicavam um erro crasso?!

A esquerda falhou redondamente na sua estratégia, sem ideias claras a contrapor às propostas de Cavaco Silva. Apenas a divisão e o “no sense” de tanto se unir no confronto a Cavaco, como os ataques internos e a divisão face às políticas governativas, como se de eleições legislativas se tratasse.
Serviu para mostrar a Francisco Louçã que o metaforismo político já não tem piada e não convence e solidificar o leitorado comunista em torno de Jerónimo.

À direita… nada de novo. A não ser o prémio eleitoral em forma de presente “envenenado”.
O dever político e patriótico esgotou-se como a divulgação dos resultados eleitorais.
O PSD vai ter uma batalha política muito forte como oposição a um governo sustentado institucionalmente pelo novo presidente. Daí que não se afiguram dividendos políticos. Um segundo mandato do PS, será secundado por um segundo mandato de Cavaco Silva.
Ao ‘meu’ CDS.PP resta a solidificação de uma liderança com ‘pés de barro’, sem grande carisma. Resta-nos o orgulho do “quando é preciso cá estão os nossos 5%”. Seja nas presidenciais, nas autárquicas ou nos acordos pós legislativas.
Começa a faltar-nos a coragem da afirmação política e da demarcação das nossas convicções.

À direita resta-lhe o prémio do dever patriótico cumprido e do politicamente correcto. Para a história o seu primeiro presidente da república.

2 comentários:

Migas (miguel araújo) disse...

Venezaveirense
Não foi uma questão de apresentação de um candidato da direita.
Tratou-se do apoio incondicional a um candidato de (e repeito de) direita.
Portanto, não foi por aí que foi que foi ludibriado.
E já agora, volte a acreditar e a sonhar, porque é de optimismo e esperança que Aveiro e o País precisam. Para derrotados bastam os que ficaram entre o 2º e o 6º lugares.
E a vida continua...

Anónimo disse...

Cavaco não é de direita, bem pelo contrário. Recebeu o voto de muitos votantes do PS e vai ser, ao que os entendidos dizem, o mlehor aliado de Sócrates. Todos a remar para o mesmo lado, para "arrumar" com a arrogância de quem está na oposição e nda fez quando esteve no Governo.

Ceboleiro