“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

21 julho 2011

(re)Habitar a "Avenida"...

Publicado na edição de hoje, 21 de Julho, do Diário de Aveiro.

Preia-Mar
(re)Habitar a “Avenida”…

Após cerca de ano e meio sobre o relançamento da discussão da necessidade urgente de se regenerar a Avenida, intercalado com o processo de reabilitação urbana do Parque da Sustentabilidade que, nesta fase, encontra uma interessante dinâmica ao nível da promoção e da animação de um dos sectores mais nucleares (o parque Infante D. Pedro e a Baixa de Sto. António), a Avenida Dr. Lourenço Peixinho volta a suscitar novas “emoções” e discussões, quer ao nível das entidades, quer por parte dos cidadãos (de forma isolada ou associada).
Há poucas semanas, em sede do órgão máximo do município - a Assembleia Municipal, foi apresentado um estudo sobre a regeneração da emblemática artéria da cidade de Aveiro. Em relação a este tema há um aspecto que merece importante relevo e análise, por sinal, focado na intervenção do deputado municipal Arq. Paulo Anes.
É certo que a Avenida necessita, urgentemente, de uma regeneração ao nível do edificado, da recuperação dos edifícios degradados, do redimensionamento do espaço público (zonas pedonais maiores e mais abrangentes, rede viária adequada, espaços verdes), do condicionamento do estacionamento e do trânsito, embora entenda que não se deva retirar a circulação automóvel por julgar ser um factor de desertificação (veja-se o caso da nossa Rua Direita, ou o que seria a Av. dos Aliados – Porto, ou a Av. da Liberdade – Lisboa, sem circulação automóvel), mas sim optar pela sua ordenação e regulação.
Mas, a par disso, há uma outra importante realidade: as pessoas. E curiosamente o maior problema da Avenida reside precisamente nas pessoas, ou mais concretamente, na ausência de pessoas. Mas pessoas que dêem vida à Avenida e vivam na Avenida, porque esse foi um dos factores determinantes para a sua desertificação e degradação: o abandono dos edifícios, dos apartamentos, originando a descaracterização social e urbana do espaço.
Por isso, pode-se alargar os passeios, pode-se diminuir o espaço viário, pode-se retirar o estacionamento à superfície, pode-se criar espaços verdes, pode-se promover atractividade (cultural, comercial), pode-se, inclusivamente, recuperar todo o edificado. Mas se não houver pessoas para habitar a Avenida Dr. Lourenço Peixinho o que é um dos ex-libris e referências do espaço urbano aveirense continuará sem vida, por mais projectos e estudos que se promovam.
Por outro lado, a Avenida já não tem a mesma configuração, o mesmo desenho, já não cumpre a mesma função. Isto porque a Estação já não é uma barreira, uma meta, um único objectivo! Aveiro cresceu para além da linha de caminho-de-ferro.
Por isso, torna-se igualmente importante que qualquer projecto implementado na Avenida tenha em especial atenção a sua ligação, não apenas à zona poente (Rossio), mas também, e, porque não, principalmente, à zona nascente (antiga zona do bairro do Vouga) espaço privilegiado para o crescimento da cidade e que necessita de um forte impulso urbanístico (há bastantes anos sem qualquer movimento). Daí que a reabilitação urbana da Avenida não deva ser um projecto isolado, mas algo mais abrangente e que deve ter em conta toda a sua envolvente muito para além do Rossio, a sua natural atractividade como a Estação, a zona nascente, o comércio e potenciar espaços de sociabilidade e cultura.
Não basta um simples ou complicado processo de “lifting” à Avenida… se não tiver em conta as pessoas e a nova realidade urbana será tempo e dinheiro perdidos!

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