“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

12 junho 2011

Resumo da semana - 12.06.2011

Publicado na edição de hoje, 12.06.2011, do Diário de Aveiro.

Cambar a Estibordo...
Notas Pós-eleitorais


Depois de um período de reflexão, pessoalmente, mais alargado e coincidente com a campanha eleitoral que culminou no passado dia 5 de Junho com a realização das eleições legislativas, altura para regressar com umas breves notas sobre esta viragem “à direita” no contexto político nacional, face aos resultados derivados da vontade popular expressa.
A primeira nota vai para a já habitual elevada abstenção. Mesmo que seja questionável a veracidade ou fidelidade dos cadernos eleitorais, a verdade é que a sociedade mantém (se quisermos ser mais rigorosos, aumentou) uma aversão à política, nomeadamente ao seu discurso, aos políticos e aos partidos.  E o resultado é um preocupante alheamento e indiferença dos eleitores, mesmo que um direito natural e fundamental, como o voto, (que tanto custou conquistar) seja, tão banalmente, desprezado.
A par deste facto, há mais dois aspectos que marcaram negativamente este processo eleitoral. O primeiro tem a ver com o excesso (ou como um dos candidatos referiu: “uma bebedeira”) de sondagens. De tal forma que, o que poderia e deveria ser um instrumento interessante de análise política, passou a ser uma banalidade, conquistou a indiferença dos eleitores e, acima de tudo, demonstrou, neste caso, um total falhanço (ao que se poderá juntar falta de credibilidade e isenção). E aqui cabe, infelizmente, um reparo para o comportamento da comunicação social. Neste particular, a passividade crítica da imprensa resultou numa transformação dos órgãos de comunicação social num mero veículo/meio de publicitação das referidas sondagens. O segundo aspecto prende-se com a qualidade do discurso político nesta campanha. Portugal vive momentos difíceis, que se perspectivam ainda mais difíceis no futuro imediato, e a campanha centrou-se mais nos ataques e contra-ataques pessoais e partidários do que na apresentação de propostas concretas e válidas, bem como esclarecedoras para os eleitores, que indicassem quais as estratégias e intenções de governação que permitam a Portugal superar esta crise (económica, social e de valores).
Do ponto de vista dos resultados, estes revelaram o que se perspectivava: a vitória do PSD, embora esta por números que surpreenderam e que colocaram os social-democratas bem perto de uma maioria absoluta, conquistando 105 deputados (quando resta a atribuição de quatro lugares que resultam do voto dos emigrantes). Isto indica que, acrescido ao descontentamento pela governação dos últimos seis anos, um número significativo dos que expressaram o seu voto decidiu que o melhor para o país seria uma alternativa “não socialista”. A esta alternativa junta-se o CDS-PP que confina a balança de uma maioria de direita para os próximos quatros anos de governação, que, apesar do aumento de número de votos e de mais três deputados, ficou um pouco aquém das perspectivas e da fasquia colocada pelo seu líder. Mas a verdade é que os centristas estão já à mesa das negociações para a formação do próximo governo, sendo certo que áreas como a segurança social, algumas privatizações, a redução do número de deputados e o “caso” Fernando Nobre serão contradições que, face à escassez de tempo, terão de ser rapidamente solucionadas.
Reconquistando o lugar de quarta força política, a CDU reforçou o seu eleitorado e manteve a sua representatividade parlamentar, reservando a derrota nestas eleições para o Partido Socialista e para o Bloco de Esquerda.
No caso dos socialistas, o “marketing político”, que se manifestou uma das grandes armas políticas ao serviço de José Sócrates, revelou-se, durante os 15 dias que decorreu a campanha, como um obstáculo ao discurso do ex primeiro-ministro, já que a maioria dos portugueses demonstrou alguma maturidade e que a verdade, a sinceridade e a responsabilidade são factores determinantes na hora da opção política. Enquanto a “máquina da propaganda” partidária foi sendo controlada, é bem verdade que o discurso retórico ia colhendo os seus frutos. Mas quando a “máquina” é demasiadamente grande e complexa tende a ganhar “vida própria” e pode tornar-se, mais que uma solução, um verdadeiro problema.
Mas a par desta derrota eleitoral, o PS foi um “tímido” vencedor já que os factos promoveram uma importante oportunidade de renovação não só da liderança, como da estratégica partidária.
Quanto ao Bloco de Esquerda, os sucessivos erros de estratégica política que se iniciaram com a moção de censura ao governo no começo deste ano legislativo foram determinantes para uma queda muito expressiva no seu eleitorado e na redução, para metade, do número de deputados eleitos, comparativamente a 2009. E como se não bastasse o desaire eleitoral (aliás assumido pelo próprio Francisco Louçã), o descontentamento e a crítica interna sentida na última convenção bloquista tem vindo a agudizar-se seja ao nível da expressão pública desse descontentamento, seja ao nível da indisponibilidade de alguns nomes de peso dentro da estrutura partidária (exemplo mais recente o de Miguel Portas).
Resta agora esperar que o próximo governo para além de, obrigatoriamente, ter de aplicar os acordos e as medidas rigorosas impostas pelo acordo que sustentou a ajuda externa, possa fazer mais do que isso e criar mecanismos, oportunidades, políticas e, acima de tudo, ter uma governação séria e eficaz, que permitam ao país (aos portugueses, à economia e ao investimento, às empresas, às instituições) superar, o mais rapidamente possível (abaixo da fasquia dos dez anos), esta crise.

Boa Semana…

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