Publicado na edição de hoje, 13 de Abril de 2011, do Diário de Aveiro.
Preia-Mar
O espectáculo está montado.
O espectáculo está montado.
A frase é mítica no mundo do espectáculo: “the show must go on”.
Aconteça o que acontecer, seja qual for a realidade, será difícil fazer parar o “circo” eleitoral.
Os dados foram lançados durante a rejeição do PEC IV, no mês passado. As cartas foram lançadas pelas posições dos partidos da oposição, pela demissão do Governo de José Sócrates.
A campanha, mesmo que ainda distante do seu arranque oficial, já começou. E começou, precisamente, neste fim-de-semana passado, em Matosinhos, com a realização do Congresso do Partidos Socialista.
Este congresso foi, essencialmente, a referência e a imagem do que pode vir a ser a campanha eleitoral que se avizinha.
O discurso de José Sócrates não trouxe uma única medida para o país. Não revelou uma única posição e estratégia. Apenas transpareceu o que já era conhecido: a vitimização balofa, a desresponsabilização política, a incapacidade de assumir erros e falhas governativas, o “sacudir a água do capote”, o não reconhecimento de seis anos de medidas que afundaram o país (números históricos do desemprego, economia estagnada, duplicação da dívida pública).
Mas o congresso socialista trouxe uma certeza: a união e “devoção” em torno da personalidade e ambição de José Sócrates. E essa conquista pessoal foi, claramente, ganha. Sem oposição interna, sem contestação de fundo e de peso (por exemplo, Ana Gomes falou para um congresso quase vazio, propositadamente, vazio; o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado esteve longe da ribalta; aquele que é o eterno substituto de Sócrates, José Seguro, entrou mudo e saiu calado).
Este vai ser o mote da campanha: acusações, desresponsabilização, promessas, demagogias e retóricas. Tudo aquilo que os cidadãos já se fartaram de ouvir, tudo aquilo que fez afastar os eleitores dos eleitos e dos partidos, tudo aquilo que criou uma imagem negativa dos políticos.
Esta campanha vai lançar novos desafios eleitorais, concretamente ao PSD como maior partido da oposição. Depois de ter caído na “armadilha”, lançada por José Sócrates, que foi o PEC IV, o Partido Social Democrata vai ter de realizar um esforço muito grande para provar ser alternativa, para falar verdade e claro aos portugueses, para, independentemente dos custos eleitoralistas que daí possam advir, apresentar propostas e medidas concretas para a inversão do rumo do país.
Porque o país e os portugueses precisam de saber que diferenças há entre o PS e PSD, o que os move na conquista do poder, quais as suas concepções sobre a sociedade e a economia, e, principalmente, que mensagem e propostas têm para mobilizar os cidadãos até às mesas de voto, contrariando a tendência, cada vez mais agravada, para a abstenção.
Mas esta não vai ser uma campanha “normal”. Vai ser uma campanha “vigiada” e condicionada pela comunidade internacional, concretamente, pelo Fundo Europeu e pelo FMI e pelas medidas necessárias para o sucesso do resgate financeiro. E vai ser, ainda, uma campanha condicionada por um confronto muito directo, provavelmente pouco ético. O que resulta na necessidade do PSD encontrar, internamente, consensos muito fortes, um sentido de união eficaz e incontestável, e trazer para as fileiras da frente o seu histórico e património político.
Não pode ser tempo de experiências, de paternalismos, de cidadanias controversas e contraditórias, de tiros nos pés.
A máquina socialista há muito tempo que está montada, oleada e pronta para o embate.
O marketing político é uma das armas inquestionáveis deste PS socrático.
Só muita ponderação, clareza, transparência, certeza nas estratégias poderá contrariar uma campanha de vitimização, de engano, de deturpação da realidade que foram seis anos de governo socialista e que o discurso de encerramento do congresso de Matosinhos veio provar e demonstrar.
E como os cidadãos têm a memória curta… e como é identidade nacional a solidariedade para com quem se vitimiza, nada será de espantar uma vitória socialista nas próximas eleições.
A menos que alguém faça acordar o país!
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