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16 março 2011

É a crise, pá!

Publicado na edição de hoje, 16 de Março de 2011, do Diário de Aveiro.

Preia-Mar
É a crise, pá!


De repente, num abrir e fechar de olhos, temos a crise à nossa frente. Não a económico-financeira, não a social ou a de valores… essas já duram há alguns anos (pelo menos seis).
Mas eis que chegou, finalmente, a crise política. A tão anunciada, a tão esperada, para gáudio da agenda político-partidária.
E tudo isto resultado do anúncio, após negociação em Bruxelas, das medidas prevista no novo PEC, versão 4.0 (em linguagem digital).
Isto depois de na apresentação do PEC III, o Primeiro-ministro da nação ter referido que as medidas então apresentadas serem suficientes.
Isto depois de José Sócrates, o ainda Primeiro-ministro da nação, ter, há cerca de pouco mais de um mês, informado o país que a execução orçamental estava a decorrer acima do previsto.
Ora… se as medidas eram suficientes para quê a implementação de novas políticas de austeridade? Porque não tema o Governo a coragem de repensar o seu despesismo, por exemplo, nas despesas com as grandes obras públicas, nas parcerias público-privadas, nas despesas com os vencimentos dos gestores públicos? Como é possível continuar a acreditar num Governo que mente descaradamente aos seus cidadãos?!
Como é que é possível continuarmos a pactuar com um primeiro-ministro que não tem a humildade política para reconhecer os seus erros e fracassos, não tem qualquer respeito pelo país (nem uma palavra sobre a contestação de Sábado passado), pelos portugueses, pelos parceiros sociais, pelo Parlamento ou pela Presidência da República?
Como acreditar num Governo e num Primeiro-ministro que desafia a oposição a apresentar propostas alternativas, se não as aceita ou nem sequer tem a dignidade para dialogar previamente com a mesma oposição?
É este o sentido de responsabilidade de Estado que José Sócrates quer exigir aos outros e que não teve em momento nenhum?
Resultado! Em Abril o Governo apresenta no Parlamento as medidas deste PEC negociado em Bruxelas e, como é apanágio seu e do seu líder, sacode a “água do capote” e faz-se de vítima conjuntural. Ou seja… chegou a crise, já que a oposição já manifestou claramente a sua posição.
E os cenários são fáceis de prever. O Governo não deverá apresentar uma moção de confiança porque a mesma seria, obviamente, chumbada. Face ao recente desenvolvimento parlamentar com a Moção do Bloco de Esquerda não é plausível que a oposição apresente nova Moção.
Restam duas situações. Ou a ajuda externa é uma realidade ou o Presidente da República assume a responsabilidade de dissolução da Assembleia da República.
Apesar de tudo, parece-me mais real o recurso à ajuda externa, já que, muito dificilmente Cavaco Silva assumirá o que os Partidos não o fizeram.
Seja como for, José Sócrates, por mais que queira fugir à responsabilidade, abriu uma crise política. E seja como for o Governo falhou.
E o país continuará à rasca.

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