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23 dezembro 2010

A pobreza e a política...

Publicado na edição de hoje, 23 de Dezembro, do Diário de Aveiro.

Cheira a Maresia
A Pobreza e a Política!


Várias vozes fazem-se ouvir criticando o recurso à temática da pobreza no discurso político (nomeadamente nas dirigidas ao Presidente da República).
Mas o que os cidadãos e eleitores mais precisam e necessitam de ouvir é a política falar verdade, ser real e concreta, tocar os verdadeiros problemas que assolam o país, a sociedade, as comunidades e as famílias.
Numa altura em que a crise antecipou as medidas de austeridade e dos sacrifícios (a redução do défice verificada no mês passado – Novembro, em cerca de 181,4 milhões de euros, resulta de uma menor comparticipação social do Estado, de um aumento da carga e das contribuições fiscais) para que o Governo mantenha a meta da redução orçamental para os 7,3% nesta ano e os 4,6% para 2011 (estando já previstas novas medidas de combate à crise para implementar no próximo ano: congelamento das pensões), numa altura em que a economia não se desenvolve, o desemprego não diminui, o endividamento empresarial e familiar aumenta, as respostas sociais são cada vez mais necessárias e precisas, não há outro discurso que mais interesse aos cidadãos que o do país real.
E o país real é este: aumento da pobreza e, mais grave, o aumento de casos de fome.
Portanto, nada mais lógico do que os discursos políticos serem direccionados para a realidade.
E neste caso, a questão mais premente não é a referência à pobreza, aos sem-abrigo, à fome, ao desemprego, aos problemas no acesso à saúde e à justiça.
A questão é saber até que ponto poderemos confiar nos discursos e na classe política.
Em cada acto eleitoral são sempre repetidas as mesmas promessas, as mesmas perspectivas de garantia do futuro, no fundo, as mesmas demagogias.
Apesar da repetição cíclica eleitoral dessas promessas, os pobres, os desempregados, as famílias que recorrem aos apoios sociais, os sem-abrigo, entre outros, são cada vez mais… e os políticos e os partidos não podem esconder estes assuntos nas campanhas eleitorais. O que devem ter é a preocupação de apresentar projectos concretos com vista à resolução destes graves problemas sociais e transmitir confiança e esperança aos portugueses.
Porque é de confiança e esperança no futuro (muito próximo) que os portugueses começam a sentir falta, face à realidade que vivem no dia-a-dia.
Aquela realidade mais profunda, mais sentida, menos demagógica e discursiva. Menos fantasiada como a maior parte das vezes o Governo quer transmitir.
Aquela realidade que as Instituições de Solidariedade Social sentem diariamente e vêem aumentar preocupantemente, dificultando as suas capacidades de resposta. Agravadas por um Estado/Governo que retira apoios, sem assumir as suas responsabilidades sociais.
É o trabalho anónimo mas concreto de quem, ao longo de todo ano, mas com principal visibilidade nesta época natalícia (por toda a carga social e emocional que comporta), se substitui ao Estado (ou o complementa), de forma desinteressada e solidária.
Que o digam a Cáritas, a Cruz Vermelha, a Orbis, as Florinhas do Vouga, as Misericórdias, o Banco Alimentar e tantas e tantas Instituições solidárias que sentem e atestam na suas constantes actividades a degradação do tecido social, individual e familiar.
E por isso mesmo, é preciso e urge um real e coerente Natal.

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