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17 dezembro 2009

Da prepotência à vitimização!

Publicado na edição de hoje (17.12.09) do Diário de Aveiro.

Cheira a Maresia!
Da prepotência à vitimização!

Os últimos dias da política nacional têm-se centrado na “polémica” da governabilidade e da sustentabilidade da minoria socialista.
Passados dois meses após as eleições legislativas de Setembro, José Sócrates e o PS ainda não assimilaram verdadeiramente os resultados que espelharam a vontade dos cidadãos: a existência de uma legislatura assente num governo minoritário.
E a dificuldade de encarar e reter essa realidade política transfigurou o Primeiro-ministro e a sua bancada: da prepotência passaram à vitimização.
Face às propostas que têm sido aprovadas na Assembleia da República com os acordos maioritários ou unânimes da oposição e face às propostas socialistas e do governo que têm sido “chumbadas” no hemiciclo (as mais recentes: o pagamento especial por conta e o adiamento do Código Contributo), o Governo e a bancada socialista temem a reprovação do seu Orçamento ou a necessidade de cedência às propostas da oposição.
E esta dramatização de vitimização às “mãos” da oposição como processo de pressão política para eventual aprovação do Orçamento para 2010 só demonstra a incapacidade de sustentar essa proposta legislativa.
Ao contrário do que José Sócrates e o PS querem fazer crer, quem está agarrado ao passado não é a Oposição, mas sim o Governo com as saudades de uma maioria legislativa que tudo permitia, que possibilitava uma governação totalitária e absoluta, sem respeito pelas alternativas, pelas opiniões contrárias, pela realidade do País.
O tempo do propagandismo político terminou. Foi isso que os cidadãos expressaram em Setembro: a eleição de um governo que tenha percepção de um país real, que tenha consciência que existem alternativas políticas, outras vontades e juízos.
É certo que o Governo serve para governar, mas não deixa de ser verdade e um facto que a Assembleia da República, espelho da vontade dos cidadãos, serve para regular a governação.
Mesmo que os eleitores tenham dado a vitória ao Partido Socialista, em Setembro último, o que o povo transmitiu igualmente foi o seu descontentamento por quatro anos de má governação, de arbitrariedade, de falta de soluções para um país real, para a instabilidade social e para a crise que se instalou.
E o Governo e o PS deveriam estar mais preocupados com o desemprego, a economia, o equilíbrio social, com a sustentação do próximo Orçamento, e não todo este ruído e drama político.
Era bem melhor que sentíssemos a governabilidade do País (soluções sociais, medidas políticas estruturadas, controlo da despesa pública, etc) do que a ausência de responsabilidade política.
Vir o PS com a argumentação da surpresa e desconfiança por verificar posições consonantes entre a direita e a esquerda é não perceber que a verdade absoluta não existe e que nem todas as soluções para Portugal estão dentro da “cartola” do Primeiro-ministro.
Vão existir divergências na oposição. Vão existir consonâncias com algumas políticas do governo. Isto é a democracia e foi por isso que os portugueses votaram em Setembro. Tudo o mais, pode significar “virar o feitiço contra o feiticeiro”.

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