“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

05 novembro 2009

Fundamentalismo e Extremismos.

Publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro.

Cheira a Maresia!
Fundamentalismos e Extremismos.


Aveiro entrou em fase de “histeria”.

Aliás, os aveirenses, independentemente do seu “beiramarismo”, da sua ligação ao clube ou do seu total alheamento (quer ao clube, quer ao futebol e, ainda, quer ao desporto em geral) muito dificilmente encontram, nestes últimos dias, outro tema de conversa.

Os encontros na rua, nos locais de trabalho, nos cafés, começam, logo a seguir ao “bom dia” ou “boa tarde”, com questões de retórica: o Beira Mar já acabou?! Sempre vai acabar?! Já encontraram solução?! Já há Presidente?!

Vão-se desfiando notícias, dão-se palpites, fazem-se prognósticos e avançam-se sugestões e soluções.

De repente, seja qual for a ligação e o grau de emotividade, Aveiro parou para falar do Beira Mar.

Ou então, é, apenas, exagero meu. Porque o mais evidente é o tema interessar a cerca de uma centena de aveirenses, ou melhor, sócios do Beira Mar.

É que, por mais que algumas vozes “gritem aos sete ventos”, o Beira Mar afastou-se dos aveirenses. E isso é que importa questionar, analisar e projectar, se houver verdadeiro interesse em “salvar” a Instituição.

Pena é que se queira resumir a temática e a realidade à relação do clube com a autarquia.

No entanto, essas mesmas vozes esquecem que Aveiro é muito mais que o Beira Mar e o futebol (ainda por cima profissional, com todas as implicações que tem, seja ao nível do seu financiamento, seja à impossibilidade, pela força da lei, de receber subsidiação das autarquias).

É que Aveiro também são as ruas, as freguesias, as instituições de solidariedade social, as associações culturais, todo o associativismo, os cuidados de saúde, as necessidades sociais, as famílias… Aveiro também é a educação, a juventude, as crianças, os idosos, o desemprego, as empresas…

Ou seja, Aveiro é muito mais que o Beira Mar, o futebol, ou, até mesmo, o desporto.

É a Banda Amizade, as Florinhas do Vouga, os escuteiros, os centros comunitários, o CETA, os grupos cénicos, os corais polifónicos, … E se quisermos, Aveiro também é o Recreio Artístico, Galitos, Esgueira, Sporting de Aveiro, Bonsucesso, CENAP, Estrela Azul, FIDEC, Taboeira, Eixo, e tantos outros…

Aveiro é muito mais que fundamentalismos ou extremismos.

Já alguém parou para questionar por onde andam cerca de 7000 sócios do Beira Mar?!

Já alguém analisou as razões do afastamento do Clube em relação aos aveirenses?! E não é nova esta falta de identidade entre aveirense e o clube: quando associado do Beira Mar, era constrangedor ver a “bancada central” do antigo estádio encher-se de sócios assíduos que trocavam o seu cachecol preto e amarelo pelo vermelho, verde e azul, quando o Benfica, Sporting ou Porto vinham jogar a Aveiro.

Já se questionaram as gestões anteriores?! Já se repensaram projectos e debateram opções tomadas? Já se repensaram os modelos de gestão? Já se questionou como é que as piscinas passaram de uma gestão lucrativa para um equipamento insustentável e deficitário?! Já se discutiu o insucesso desportivo e a incapacidade de afirmação no futebol nacional?! Porque não se ouviram as mesmas vozes de hoje aquando da construção do novo estádio municipal e todas as implicações que teria no futuro do clube?

Já se apurou quantos, dos cerca de 70000 aveirenses (concelho), são aqueles que se sentem identificados com o Clube e vivem a sua realidade actual?

Acho que, mais importante que projectos irrealistas e sonhadores, é relevante e urgente assentar os pés na terra e projectar o clube em função da realidade e das suas capacidades. Muito para além do mau hábito luso da subsidiodependência.

O clube deve ser repensado (seja ao nível que tiver que ser) em função da sua capacidade de subsistência. Isso é que lhe dará dignidade e devolverá os aveirenses ao clube (veja-se o caso do Boavista, do Salgueiros, do Farense, etc.).

O que não faz sentido é devolver a responsabilidade para quem deve ter como preocupação fundamental a gestão do domínio autárquico.

Qual seria a reacção da comunidade aveirense se uma determinada empresa, a braços com uma situação de falência, recorresse ao erário público para a sua sobrevivência?! Não estaria essa empresa legitimada também pelo interesse público: não aumentar o desemprego, de não potenciar a conflitualidade social, de projectar o desenvolvimento económico?!

Porque as actuais vozes tão críticas, não se erguem contra o tecido empresarial aveirense por não apoiar o Clube?! Não terão as empresas eventual negligência na sua responsabilidade social?!

É certo que o Clube, pela sua história e por aquilo que pode projectar, deve ser apoiado, dentro do racional, e deve ser, por todos os interessados, encontrada rapidamente uma solução. Mas de forma coerente, realista, lógica, sem que as emoções e as paixões inconsistentes entravem o futuro do Sport Clube Beira Mar.

Com todo o respeito por quantos desenvolveram incansáveis esforços para encontrar uma saída para esta crise de identidade…

4 comentários:

Alírio Camposana disse...

Ainda hoje, por volta da hora do almoço, todos, mas mesmo todos os canais portugueses transmitiam as declarações de um colaborador (treinador) de uma equipa de futebol, que argumentava algo relacionado com o fim do seu trabalho nessa mesma equipa. De salientar que as televisões retornaram à tal notícia, frequentes vezes, enquanto iam intercalando com outras que, entretanto, foram relegadas para segundo plano, de carácter muito menos "interessante", segundo o ponto de vista dos senhores comunicadores televisivos.

O segundo aspecto: o futebol é desporto mas não é o "Desporto" como tantas vezes se confunde, muito menos será o desígnio de uma Nação, como muitos acreditam!

Enfim, por aqui me fico deixando as ilações para quem as quiser tirar.

Já agora, o Desporto é uma das mais nobres actividades da humanidade. Alguns formatos excessivos não o são, certamente!

Um abraço.

Migas (miguel araújo) disse...

Perfeito Alírio...
É isso mesmo o que quero transmitir.
O desporto é fundamental e essencial para o desenvolvimento humano e social. Mas no seu todo e com a racionalidade devida.
E o Futebol é desporto... mas não é O desporto.

E há mais vida para além do futebol e do desporto.
Muita mais vida e importante.
Abraço

Pedro Neves disse...

Há coisas que ainda nao percebeste: qd se fala do fim do Beira-Mar, fala-se do clube ma sua totalidade, nao do futebol profissional. Aveiro é mais do que futebol? Claro que é, mas porque razão este nao há-de ser motivo de preocupação! Ou é mais importante discutir as vitorias do Benfica ou do Porto?
O Beira-Mar é mais do que futebol profissional. Mas já que falam tantas vezes mal dos futebolistas profissionais, eu pergunto-te se tivesses dois meses de ordenados em atraso, se continuarias a trabalhar da mesma forma que os futebolistas do Beira-Mar continuam a fazer.
Miguel: deixa-te de hipocrisias: escreves desta forma pq nao sentes o clube como ainda ha beiramarenses que o sentes. E nao me venhas com a conversa que estiveste nao sei quantos anos no basquete do clube, pq estiveste no BM como estiveste no Cenap e podias ter estado num outro clube qualquer.
O BM é de Aveiro e por isso é um problema de Aveiro. Mete isto na cabeça. E com isto, nao quer dizer que Aveiro seja só o BM. Agora, Aveiro hoje não é nada. Não é nada na cultura, nas feiras, no desporto, no desenvolvimento. E é isso que devias abordar.

Anónimo disse...

Só não percebo "quem é" o sr. Pedro Neves para achar ou deixar de achar o que quer que seja, a ponto de cair no ridículo de afirmar que "Aveiro hoje não é nada."

Ó homem!, emigre! Vá para qualquer lugar longe daqui! Vá para um lugar que seja "qualquer coisa".

Socialmente falando você é daqueles que não f*** nem deixa f***!!!

Diz você que o Miguel não se pode arrogar no direito de ter sentido o BM só porque o treinou... Eu joguei anos(mais de 10, seguramente)! Numa actividade amadora e penso da mesma forma que ele! Serei igualmente insensível ao fenómeno?? Ou estarei a ser hipócrita tambem?

É o sr... que tanto fala, mas pouco diz... que participação teve o senhor com o BM? alguma vez suou aquelas camisolas? Será que foi mais um que as viu suar? É que se foi, está (mais do que) explicado o porquê de tanto lirismo!...

Mude de Cidade! O seu paleio de chacha não cabe aqui.