“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

20 agosto 2009

Silly season eleitoralista...

Publicado na edição de hoje, do Diário de Aveiro.
Sais Minerais
Pré-época eleitoral...


À semelhança do que acontece no universo desportivo (e após o arranque de mais um campeonato profissional de futebol), a política nacional e local vive momentos de efervescência.
Num verão que teimosamente se vai pautando por irregulares dias solarengos, a política tem “aquecido” o dia-a-dia.
É certo que nem sempre da melhor forma, pelos motivos mais notáveis, pela valorização e distinção das reais necessidades do país ou pela elevação do debate político-partidário.
Nem mesmo a Gripe A, o futebol, o caso oftalmológico do Hospital Santa Maria, a enorme perda para cultura nacional com o falecimento de Raul Solnado ou a habitual chegada e partida dos emigrantes* (que provoca um proliferar de festas e romarias, mesmo em tempos de crise) vão relegando para segundo plano um ano de 2009 extraordinariamente político e eleitoral.
Esta Silly Season está repleta de quezilas, faitdivers e propagandismos. Com o fim do prazo para a entrega das listas às próximas eleições (legislativas e autárquicas) a questão que se coloca é se este período pré-campanha eleitoral fará prever uma campanha quente, agitada (boa ou má, logo se verá) ou se, pelo contrário, repleto de casos e “trocas de galhardetes”, irá reflectir-se no tão habitual e característico alheamento e distanciamento português face à politica (ou, se preferirem, à politiquice).
E são tantos os casos, fatos e acontecimentos.
A nível nacional, independentemente da ordem cronológica (já distorcida na memória), realça-se: os resultados das eleições europeias que, para além da (re)confirmação do peso da abstenção dos portugueses em exercerem o seu direito e dever cívico, confirmaram a decepção e desilusão face à governação, com destaque para os números alcançados pelo PSD e CDS. Ao fim de um ano, o Presidente da República ganhou o “braço de ferro” com os Açores, num tema que passou, claramente, ao lado dos portugueses, mas que o Tribunal Constitucional veio a revelar importante. O ex-Ministro Manuel Pinho foi, igualmente, assunto de trinca partidária e institucional, na demarcação de posicionamentos com o deputado Benardino Soares, do PCP, através de uma singular linguagem gestual que lhe valeu a saída do executivo nacional. Reflexos da crise dos mercados de valores, os casos BPP e BPN encontram-se ainda na agenda mediática deste Verão, exercendo uma pressão invulgar, mas legitimada pelos factos, sobre o Governador do Banco de Portugal. Ao fim de um ano, avanços e recuos, acordos e desacordos, mas acima de tudo, a criação de uma imagem da justiça e da separação de poderes paupérrima, a Assembleia da República elegeu o novo Provedor de Justiça (após a demissão do cargo, em Junho de 2008, de Nascimento Rodrigues). No meio da crise (que ainda está longe do seu fim, por mais que se queira notar o contrário), a mera e inocente coincidência eleitoral, lá faz aparecer milhões de euros (até então escondidos) para a requalificação de centros de saúde e equipamentos sociais. No entretanto, disfarçadamente, a avaliação dos professores lá vai sofrendo as suas alterações simplificadas. Na defesa e ataque às apresentações dos programas eleitorais ou às suas ausências, José Sócrates, num exercício de egocentrismo afirmava que “está para nascer um PM que faça melhor no défice do que eu”, mesmo que o resto do país vá vivendo uma outra realidade assente no desemprego, no encerramento de inúmeras empresas, na falta de qualidade do ensino, nos problemas da saúde (muito para além da gripe), no endividamento familiar e na falta de competitividade do tecido empresarial português. No fim, a cooperação estratégica vê-se, mês após mês, abalada pelos sucessivos vetos presidenciais, pelo caso da não recondução de João Lobo Antunes para o Conselho de Ética da Vida e, mais recentemente, a informação veiculada pelo Jornal Público das suspeitas de escuta e vigilância dos assessores presidenciais.
Mas os factos mais relevantes prendem-se, directamente, com a questão eleitoral legislativa: a elaboração das listas para as eleições de Setembro. Mais pelas ausências do que, propriamente, pelas presenças, acrescido dos casos Isaltino Morais, o voto diferenciado de Moita Flores e o “não” convite a Joana Amaral Dias.
Tudo isto fará prever um período de campanha eleitoral efervescente ou desinteressante? A ver vamos o que reserva o regresso das férias…
Fará projectar o debate político para a etapa seguinte: eleições autárquicas? Aqui são mais as dúvidas. No entanto, o “calor” (mesmo sem sol) eleitoral já se vai sentindo, com troca de insultos e agressões entre candidatos ao Município de Alcochete.
É Política Portuguesa, com certeza… e no seu melhor.
Entretanto o país vai esquecendo o défice, o desemprego, a saúde, o ensino, a escassez de oportunidades e empreendedorismo. A sua verdadeira realidade.

Ao sabor da pena…

*por lapso, na edição do Diário de Aveiro aparece, erradamente e por falha minha: “imigrantes”.

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