“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

17 abril 2009

Crise! Qual Crise...

Publicado na edição de ontem (16.04.09) do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Crise! Qual Crise?

Habituámo-nos, mal despoletou a crise, a ver este fenómeno como algo meramente financeiro. Factores relacionados com o sector imobiliário e a banca (e os mercados financeiros), mais tarde a crise nas empresas (produção e serviços), foram sendo apresentados como o rosto da desgraça dos dias de hoje.
Até que, a determinada altura (meados do ano passado até aos dias de hoje), a crise chegou às famílias, ao “bolso” e às “contas” domésticas dos cidadãos. O endividamento familiar aumentou, o desemprego aumentou e disparou o recurso às Instituições de Solidariedade e aos apoios, mesmo em sectores sociais que até à data eram considerados estáveis.
Mas esta crise não tem reflexos meramente financeiros.
A crise é já social, cultural e de valores.
Se é notória a dificuldade dos mercados financeiros, a instabilidade empresarial e a consequente incerteza na manutenção dos empregos, bem como a dificuldade em cumprir as obrigações financeiras e a aquisição dos bens essenciais por parte da maioria das famílias e dos cidadãos, também é uma realidade que esta instabilidade criada tem reflexos na segurança dos cidadãos (aumento da criminalidade), na estabilidade familiar (309 casos de abandono de crianças junto a diversas instituições), nas relações sociais, na carga emocional, no bem-estar e na própria saúde pública.
O aumento de situações de stress, de angústia, de preocupação, leva a um maior isolamento e individualismo, a uma maior inquietude, a um menor respeito pelos outros, pelas coisas comuns e pelas comunidades.
E se têm surgido (tardiamente) algumas políticas de intervenção, elas têm-se reflectido junto dos que estão mais carenciados, com toda a justiça, mas têm esquecido o combate, as alternativas e a consolidação económica e social, fazendo face ao crescimento dos casos de necessidade extrema. Se é justo e compreensível o apoio às famílias mais carenciadas, às crianças necessitadas e aos desempregados, não deixa de ser legítimo o apoio às outras realidades (aos empregados também com dificuldades, às famílias numerosas, às de poucos recursos) minimizando os impactos da crise e o aumento de realidades de pobreza e desespero.
E há factos que merecem alguma preocupação. A injecção pontual e sem efeitos preventivos de inúmeras quantidades de euros em sectores que, durante vários anos, apenas se preocuparam com o lucro, cria um sentimento de revolta social difícil de calar.
Enquanto isso, aqueles que sempre e apenas se preocuparam com o outro, com a ajuda aos que mais precisaram, sempre com elevado espírito de sacrifício e dedicação, sofrem hoje, face à dita crise, a indiferença, a falta de apoios, a falta de incentivo e estímulo, para que possam continuar o seu trabalho de solidariedade social que, nos dias de hoje, mais significado tem.
É pena ver o lamento de inúmeras Instituições de Solidariedade Social, que durante anos a fio, souberam, desinteressadamente, substituir a responsabilidade social que caberia ao Estado. Sendo agora esquecidas, olhadas com indiferença e desapoiadas.
Esta sim… é uma crise muito real e bem próxima dos cidadãos. Pelo menos daqueles que precisam.
Ao sabor da pena…

4 comentários:

Alírio Camposana disse...

Essa sua abordagem, particularmente os factos numéricos que apresenta, carecem de citação das respectivas fontes. Por outro lado, contrapunha o facto de haver um significativo número de pessoas cujas perspectivas são bastante positivas, já que beneficiaram de um aumento real do seu rendimento disponível mediante uma subida salarial acima da taxa de inflação, beneficiaram de igual modo de uma redução da Euribor. Conseguem, ainda, perspectivar uma "segurança" razoável nos seus empregos.
Desculpe a franqueza mas, o seu artigo, nada acrescenta de útil nem alimenta nenhum tipo de inovação ou criatividade de raciocínio.
Mais parece uma compilação de factos generalistas colhidos na comunicação social.
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Amanhã, domingo, o programa «A alma e a gente», de José Hermano Saraiva, é dedicado a Aveiro. Para ver, às 19h30, na RTP2.


Passa a palavra!

Migas (miguel araújo) disse...

Caro Alírio
Primeiro, a minha satisfação pela tua visita e pelo teu comentário.
Obviamente, que nem todos os que por aqui passam têm que ter a mesma opinião e estar de acordo comigo. E ainda bem que assim é...
Vivemos em democracia e deve ser no reconhecimento da pluralidade que se deve viver.
As fgontes são conhecidas... foram dados divulgados, de facto, por diversa comunicação social e por entidades públicas e referem-se a 2007, curiosamente o ano antes do boom da crise. O que nos leva a pensar no que terá acontecido em 2008.
Quanto à baixa da taxa de juro, tal como dizia o Dr. Raúl Martins, numa das Tertúlias da AEISCIA, juntamente com o Carlos Martins, é uma clara ilusão. porque baixa a taxa de juro dos empréstimos mas o dinheiro vale menos, aumenta o desemprego, aumentam alguns bens essenciais e custos de serviços também essenciais (por exemplo, transportes). Para além disso, as famílias já "sofreram" tanto que essa baixa de juros não chega para fazer face ao seu endividamento. Além disso, o sistema bancário tem procurado "exigir" dos seus clientes novos compromissos que comportem o défice de receitas, como por exemplo, seguros de contas à ordem e de ordenado.
E as Instituições de Solidariedade são as primeiras a manifetarem a sua preocupação pelo aumento de solicitações (o banco alimentar até da classe média alta - médicos, professores - já recebe solicitações de ajuda) e pelas dificuldades em prestarem esses apoios e ajudas. Basta falarmos com o Banco Contra a Fome de Aveiro, as Florinhas do Vouga, etc.
Por último... quanto à compilação de notícias. Isso não é verdade.
No enatnto, é certo que alguns dos meus artigos são fruto da análise do que se passa no país e que, felizmente, ainda nos é transmitido por uma comunicação social que cumpre a sua função de socialização, análise crítica e informação. O que seríamos de nós sem ela.
Agora, os artigos são também e apenas um olhar deste humilde cidadão.
Volta sempre, mesmo que seja para discordarmos. É sinal que estamos os dois atentos.
Um abraço.

Alírio Camposana disse...

De acordo. O que conta é a troca salutar de ideias e argumentos.
Um abraço.