“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

29 dezembro 2008

Que Natal?!

Publicado na edição de sexta-feira, dia 26.12.2008, do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Que Natal?!

Por mais que queiramos contornar a realidade e não usar “clichés” totalmente desgastados, é certo que a chegada do Natal é marcante no calendário anual: são as prendas, mesmo em tempos de crise, e a respectiva azáfama comercial; é o simbolismo social e religioso da quadra; é a revelação (mesmo que por conveniência e descargo de consciência) do espírito solidário e comunitário; é a proliferação dos “jantares de natal” (universo escolar, laboral, do grupo de amigos, etc.) e é, igualmente, a altura “ideal” para as campanhas de solidariedade.
Mas é também chegada altura para a reflexão e análise sobre a actividade das diversas organizações não governamentais de intervenção social ou instituições de solidariedade social. É, nesta época, que se registam o maior número de acções desenvolvidas nos mais distintos e diversificados sectores e áreas da sociedade: nas crianças, nos toxicodependentes, nos idosos, nos mais pobres e nos sem-abrigo (como exemplos).
Existe um contexto transversal a todas as instituições de solidariedade social: elas dependem da “boa vontade” dos cidadãos, seja nas contribuições materiais, seja no desafio do voluntariado, para conseguirem alcançar os seus objectivos.
Infelizmente, a individualização da sociedade e do decremento dos valores sociais, cívicos e comunitários produz efeitos e tem repercussões junto das instituições sociais e da sua subsistência., apesar do seu inegável contributo social.
Apesar do seu trabalho ser contínuo ao longo do ano é, neste particular momento do calendário, que as instituições mais solicitam apoios e “exigem” solidariedade.
Se é certo que quem necessita tem as suas carências ao longo de todo o ano, também não deixa de ser um facto que, enquanto a sociedade vive o direito à celebração do Natal (família, amizade, união), há um crescente sentido de comunidade, solidariedade e respeito por aqueles a quem a vida, por inúmeras razões, os privou de celebrarem condignamente esta quadra.
E não se pense que este é um facto novo, recente, resultado de uma sociedade crescentemente tecnológica e globalizada. Como exemplo, já em 1881 a instituição secular “Albergues Nocturnos do Porto” (ainda em actividade) acolhia pessoas sem recursos a quem fornecia cama e comida, e que preparava (e prepara hoje) uma refeição especial para a noite de Natal.
A diferença é que hoje já são milhares os que adoptaram a rua como habitação, as mais diversas localidades e regiões deste país. A condição de “sem-abrigo” já não separa origens sociais, idades e habilitações profissionais. São cada vez mais os que recorrem às ajudas sociais e que a crise financeira, o desemprego e o desequilíbrio social que se vive e que se perspectiva agravados em 2009, potenciam. E esta é uma realidade, ou melhor, um drama social que não pode, nem deve ser “escondido”.
Nem que seja para nos fazer recordar o que é o Natal. Ou de outra forma, para quê o Natal?!
Ao sabor da pena… em Dia de Natal!

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