“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

09 outubro 2008

Quase Outono

Publicado na edição de hoje (9.10.2008) do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Quase Outono.

O aproximar da estação do “cair das folhas”, além de uma beleza invulgar provocada pelas mutações das cores da natureza, traz igualmente a nostalgia e a melancolia. Uma melancolia acrescida pelo cansaço mediático da crise dos mercados financeiros.
Tema que, apesar de reconhecidamente grave, problemático, simultaneamente, transversal, transformou as vidas individual e comunitária, já por si cinzentas, num verdadeiro “breu”. Mas tem também a audácia de servir como antídoto, de submergir e de esconder outras realidades, relegadas para inconscientes mais ou menos profundos: o desemprego, a educação, a saúde, a conflitualidade internacional de novas geoestratégicas políticas, … .
São, por isso, raros os momentos ou novos factos que alteram o agendamento político e social e competem mediaticamente com a actual realidade. Raros, mas não inexistentes.
Como por exemplo a nossa dependência externa e incapacidade nacional para nos afirmarmos com relevância e peso na comunidade europeia e na cena internacional.
Longe vão os tempos em que dividíamos o mundo com a vizinha Espanha (muito longe mesmo). Duma realidade “imperialista” desmedida, caímos num verdadeiro estado de letargia, exclusão e indiferença. Onde podemos inserir uma ausência grave de exigência e de responsabilização social que nos coloca, ano após ano, na última “carruagem” da Europa.
De onde se esperaria o exemplo, a motivação, a confiança e o rumo, surge precisamente o espelho da realidade referida: o Estado (Governo).
Ainda há pouco tempo, à boa maneira do nacional porreirismo, regozijávamo-nos com a assinatura do Tratado de Lisboa, mesmo sabendo-se da influência exercida pela Alemanha e França. Como se constata, pelas posições da Irlanda e da Polónia, como exemplos, o “porreiro, pá” corre o risco de se tornar num “foi porreiro, pá”!
Portugal não tem influência, estratégica e afirmação política na Europa, para além do dado estatístico de Estado Membro. Muito pouco…
Se assim não fosse, não teria sido necessário, para um País sem conflitualidade regional (excepção para o longínquo projecto separatista do Nordeste Transmontano ou para os “devaneios” políticos do Presidente do Governo Regional da Madeira), esperar sete meses para se ouvir do responsável máximo pela política externa - o Ministro dos Negócios Estrangeiros, a posição oficial sobre a declaração unilateral de independência do Kosovo.
Poder-se-á discutir se a decisão tomada, favorável ao Kosovo, é a melhor posição. Teremos sempre uma dualidade de argumentação.
O que não convence são as razões invocadas pelo Ministro Luis Amado, para este timing, a não ser, a encoberto do mediatismo da crise financeira, ocultar a incapacidade de Portugal em assumir as suas convicções, sem pressões externas e sem receios.
O que não convence é o argumento geopolítico da situação no Cáucaso Georgiano, com o conflito gerado pela Rússia, em relação às vontades separatistas da Abkhazia da Ossétia do Sul. Porque, pura e simplesmente, esse argumento não colhe quando confrontado com as afirmações, na altura (anteriores ao conflito da Geórgia), de “em devido tempo Portugal divulgará a sua posição”.
O tempo, foram sete meses de indefinição e receio diplomático de afirmação.
Porque será legítimo questionar: E se não tivesse ocorrido o conflito entre a Geórgia e a Rússia?! Quanto tempo mais Portugal seria, diplomaticamente, indiferente ao conflito Kosovo-Sérvia?! Quando seria tomada a posição de Portugal?! Depois das eleições de 2009?!
Continuamos pequeninos, nos fundilhos da Europa e do Mundo.

Ao sabor da pena…

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