“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

03 julho 2008

Notas de Regresso.

Publicado na edição de hoje, 3.07.2008, do Diário de Aveiro.

Crónicas dos Arcos
Notas de Regresso.
Após a azáfama (desta vez feroz e severa) de um final de semestre…

As últimas três ou quatro semanas foram produzindo alguns apontamentos e factos relevantes, a par das sebentas de Gramática da Comunicação, Cultura Contemporânea ou Análise Semiótica do Discurso.
Neste regresso, altura para uma reflexão sobre os mesmos.
Glória
Há alguns anos atrás fiz parte da Assembleia da Junta de Freguesia da Glória (Aveiro), durante um mandato autárquico. Sempre tive a noção, comprovada por inúmeros factos decorridos da referida actividade, que a acção de gestão do poder local, nas Juntas de Freguesia das “malhas urbanas”, está substancialmente condicionada às competências próprias das Câmaras Municipais. Resta, portanto, muito pouco campo de acção.
No entanto, deve ser reconhecido o enorme mérito da acção social que a Junta de Freguesia da Glória está a desenvolver, com o apoio às famílias mais carenciadas da freguesia (infelizmente, face à realidade social actual, cada vez em maior número) na ajuda à liquidação dos seus compromissos financeiros mais elementares (saúde, alimentação, luz, água, gás).
É de enaltecer a acção, o esforço financeiro (disponibilizando metade do seu orçamento) e a opção por uma correcta e eficaz medida de aplicação dos dinheiros públicos. O que revela que se pode exercer um verdadeiro poder local próximo das necessidades dos cidadãos, com imaginação, coerência, com verdadeiro serviço público e correcta acção social (sem grandes folclores ou acções demagógicas e populistas), mesmo que com poucos recursos.
Um excelente exemplo para muitas freguesias e, porque não, para muitos organismos públicos e autarquias.
E o futuro dos recursos humanos?!
Para este Ministério da Educação, o ensino é um mero mapa estatístico.
Não há rigor, não há disciplina, não há segurança, não há respeito pelos alunos, falta o reconhecimento do mérito e do esforço, desvalorizou-se o papel do docente, etc.
Para agravar a realidade, a única preocupação da Sra. Ministra da (des)Educação, é que a União Europeia e os respectivos sectores ligados à avaliação dos sistemas e processos de ensino, não definam Portugal como um país onde a taxa de reprovação seja elevada.
Mas o que é preferível?! Premiar os melhores ou facilitar as estatísticas e premiar o facilitismo?!
É assim que queremos um país desenvolvido e com recursos humanos qualificados?!
Porque é que as provas avaliativas têm que ser niveladas por baixo e não premiar os que sabem, os que têm valor, os que estudaram, OS MELHORES?!
É por isso que próprio ensino superior já sente os efeitos deste desastre educacional de um Ministério da Educação a menos (muito menos, mesmo) neste governo.
(des)União Europeia. E agora, pá?!
Na segunda Tertúlia Académica do ISCIA, promovida pela Associação de Estudantes daquele Instituto, debateu-se, dentro da temática do Tratado de Lisboa, a questão da realização ou não do referendo como via de ratificação do Tratado.
Entre as vozes discordantes ou concordantes (por exemplo do Dr. Francisco Assis ou do Dr. Manuel Monteiro), continuo com a noção (aliás já aqui transmitida) de que os cidadãos, qualquer que seja o país europeu ao qual pertençam, estão completamente afastados da realidade e significados europeístas. É óbvio que a responsabilidade de tal situação só pode ser imputada ao poder político que, por razões que só se podem entender enquadradas com alguns interesses menos claros, prefere um cidadão “analfabeto” a um informado e esclarecido. Por isso é fácil perceber o receio da maioria dos governos europeus em “ouvir” e “aceitar” a decisão popular, já que esta, embora legítima (porque democrática), poderia colocar em causa as opções políticas assumidas. E voltou a colocar. O “não” irlandês e a indefinição polaca, voltam a questionar a realidade política, cultural e social europeia, redimensionando-a à sua realidade original: a cooperação (comunitária) económica.
Enquanto a Europa não perceber que a igualdade se constrói com a diversidade e com as diferenças, numa relação justa, democrática e equitativa, o seu processo de crescimento e desenvolvimento não surtirá quaisquer efeitos. Afinal, não foi assim tão “porreiro, pá”.
Nota final
E assim vai o país para banhos. Com o IVA a descer sem consequências reais nas, extremamente degradadas, economias familiares, a aumentarem os transportes e o custo de vida, com a desilusão de um Euro2008 decepcionante, com o esforço da Polícia Judiciária para descobrir a(s) verdade(s) a “ir por água abaixo” no caso Madie, e com a perspectiva de uma rentrée política aguçada por uma hipotética ou virtual capacidade da Sra. Manuela em confrontar ou criar alternativa governativa ao Sr. José.
Assim progride a nação. Assim cresce uma sociedade preocupada.

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