“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

12 abril 2008

Apontamentos...

Publicado na edição de quinta-feira (10.04.08) do Diário de Aveiro.

Crónicas dos Arcos
Bloco de Apontamentos…


Primeira folha.
Já por diversas vezes afirmei que entendo necessária uma fiscalização eficaz, mas mesmo tempo consistente, racional e coerente, sobre toda a actividade económica em Portugal. Mas a qualquer preço? Óbvio que não.
Há que ter no rigor e eficácia interventivas, a mesma dose de racionalidade e ponderação. As leis existem, devem ser cumpridas, mas, as mesmas devem ser aplicadas em função de realidades muito concretas. As leis devem servir os cidadãos (e, consequentemente, o Estado) e não subjugar os mesmos.
Considerar que uma inofensiva máquina de “brindes ou chocolates”, à porta de um café ou de um simples restaurante, constitui um grave atropelo à lei que normativa o jogo de “sorte ou azar” (comparando a qualquer máquina ou actividade de um casino) só revela, não a grandeza, mas sim a pequenez da estrutura deste país. Agir punitivamente só porque a criança, ao colocar uma moeda de 1€ na máquina, não sabe o brinde que lhe sairá, é de um exagero e irracionalidade interpretativa da lei que começa a preocupar.
É o mesmo que agir fiscalmente sobre uma caixa de multibanco (tecnicamente, ATM) só porque ao pretender levantar 30€ não sei se sairão 3 notas de 10€ ou 1 nota de 20€ e outra de 10€. Já para não falar que, chegados ao fim do mês (face à crise), pode-se ter o azar de não ter saldo e não haver nota nenhuma. Isso é que é jogar com a sorte...
Segunda folha.
Parece ser agora consumada a alteração significativa da língua portuguesa, face ao Acordo Ortográfico.
Curiosamente, contrapondo necessidade de afirmação e preservação da língua nacional (cada vez mais mal tratada), assistimos à sua reestruturação e reformulação morfológica e gramatical (por exemplo, no caso da conjugação do verbo haver com a proposição “de”, por força da supressão do hífen: “hão-de” pode ser substituído por “hão de”) de uma forma pouco lógica e, acima de tudo, pouco reformativa no que seria o essencial e natural da evolução linguística. A língua é a identidade de um povo. O que se verifica neste Acordo é, não um aproximar de identidades, mas sim a subjugação de uma identidade (brasileira) sobre as outras, com claros prejuízos para a língua portuguesa. E isto passa a ser um “fato”.
Terceira folha.
Por mais dividendos políticos que se possam auferir da situação criada em torno do chumbo do Tribunal de Contas face ao plano que a Câmara Municipal de Aveiro preparou para o saneamento financeiro do município; por mais críticas que se possam dirigir ao Tribunal de Contas e por mais esforços, engenharias e estratégias financeiras que se tenham de desenvolver como alternativa… a realidade é só uma: há muitas empresas que esperavam ver liquidados os valores a que têm direito por serviços prestados à autarquia; há muitas famílias de trabalhadores dessas mesmas empresas que ficam preocupados; há uma cidade que vê reduzida a esperança no investimento no seu desenvolvimento; há empresas municipais em risco; há todo um Concelho que perdeu. Ou seja… podem-se fazer todas as conjunturas, os “dejá vu” que quisermos, mas há só um facto: todos os aveirenses ficaram a perder.
Quarta folha.
Nunca o espírito olímpico foi tão posto em causa e contrariado como nos dias de hoje. A chama olímpica, mais de que um símbolo de união e fraternidade entre os povos, tem sido uma verdadeira “chama da polémica e da contestação”.
Sendo certo que atropelos aos direitos humanos, à liberdade dos povos e ao direito à sua independência, existem no quatro cantos do mundo, não deixa de ser um facto que é reconhecido à China um triste e infeliz papel nesta realidade, contribuindo (e muito) para o seu agravamento.
Contrariando as vozes que defendem que o desporto não deveria ser manchado por acções políticas, entendo ser perfeitamente coerente que, dentro do espírito dos Jogos Olímpicos se promovam as acções de protesto e alerta para o legítimo direito à auto-determinação e independência do Tibete e para a realidade dos direitos humanos na China.

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