Crónicas dos Arcos
Edu… quê?!
Hoje, o esvaziamento do processo de formação e aprendizagem no ensino é preocupante e não deixa de ser um reflexo do próprio esgotamento de uma sociedade desvalorizada, sem objectivos, sem auto-estima, princípios ou socialmente estável.
E é, para mim, estranho que face aos acontecimentos relatados pelos meios de comunicação social (em alguns casos, excessivamente relatados), no caso da agressão de uma aluna a uma professora, no Liceu Carolina Michaelis (Porto) por causa de um telemóvel, se tenha falado e escrito de quase tudo e, na maioria dos casos, de quase nada ou esquecendo o essencial.
Que a situação descrita foi e é grave, ninguém pode colocar em causa.
Que o comportamento da aluna é inteiramente reprovável, nada a opor (embora considere tão o mais grave o comportamento do resto da turma. E esses ainda ninguém questionou).
Que esta realidade é, infelizmente, uma vivência quase quotidiana no nosso sistema de ensino, é algo que só alguns (responsáveis) não querem ver.
Então, porquê tanto alarido? Situações de conflito, indisciplina, alguma violência, já há alguns 25, 20, 15, 10 anos atrás aconteciam, por exemplo, nesta “pacata” cidade de Aveiro, nos nossos liceus. Quem não fez asneira que atire a primeira pedra. Mas então o que mudou?
Mudou essencialmente a dimensão, a violência desmedida e espontânea, a importância dos valores, do sentido de responsabilidade, do sentido de comunidade e de vivência social.
E mudou (e muito), o significado da escola, do papel do professor e do aluno, do auxiliar, do próprio ensino.
E isto ficou, uma vez mais, por debater, questionar, alterar e assumir responsabilidades.
É ridículo reduzir (mesmo com a gravidade dos factos) os acontecimentos ao uso, ou à sua proibição, de telemóveis ou ao próprio confronto aluna-professora (pior, mais uma vez, ou pelo menos tão grave, foi o comportamento do resto da turma e o seu reflexo no futuro). Como se o actual estado do ensino não sofresse de males bem mais estruturantes e profundos.
Como se esta realidade, que se pensa confinada apenas ao ensino secundário, não terá, dentro de muito em breve, reflexos sérios e marcantes no ensino superior.
E já para não falar a própria vida profissional e na sociedade de amanhã.
A escola, para a maioria dos adolescentes e jovens é, hoje, uma mera obrigação (na maioria dos casos desprovida de responsabilidade, mérito e justiça), sem uma perspectiva de futuro ou de valorização. Terminar o 12º ano significa objectivamente o quê? Uma concorrência “desleal” com um recém-licenciado para um lugar num “call center” ou numa caixa de um hipermercado? O esforço de mais três anos de escola (após o 9º ano - escolaridade obrigatória) valerá a pena face à realidade das “Novas Oportunidades”? O Secundário, hoje, profissionaliza e prepara para o quê?
É que a escola, há alguns anos a esta parte, tem servido de “cobaia laboratorial” para as mais diversas e distintas experiências psico-pedagógicas na educação e ensino, sem terem em conta os mais elementares princípios da formação humana: sentido de responsabilidade, respeito, justiça, equidade, convivência e construção social.
O ensino está cada vez menos exigente (com programas curriculares cada mais vazios e simplistas, para não dizer medíocres), incapaz de formar e preparar o futuro, de responsabilizar, de devolver a autoridade e o respeito ao professor, etc..
A escola, enquanto instituição do valor educação/ensino, não soube encontrar argumentos, nem estruturas que a “blindassem” de uma realidade social, onde a família, a liberdade, a justiça e a democracia há muito foram perdendo qualquer referência ou valor.
A escola forma cada vez menos e pior. A escola está vazia, o papel do professor está destituído de respeito e valor. Caiu nas ruas da amargura, como nas ruas caíram os valores, as regras e o sentido de liberdade e democracia.
Sinais que se reproduzem no tempo, no ensino superior, na formação, na sociedade, na vida profissional …
Assim progride a nação. Assim cresce a sociedade.
Edu… quê?!
Hoje, o esvaziamento do processo de formação e aprendizagem no ensino é preocupante e não deixa de ser um reflexo do próprio esgotamento de uma sociedade desvalorizada, sem objectivos, sem auto-estima, princípios ou socialmente estável.
E é, para mim, estranho que face aos acontecimentos relatados pelos meios de comunicação social (em alguns casos, excessivamente relatados), no caso da agressão de uma aluna a uma professora, no Liceu Carolina Michaelis (Porto) por causa de um telemóvel, se tenha falado e escrito de quase tudo e, na maioria dos casos, de quase nada ou esquecendo o essencial.
Que a situação descrita foi e é grave, ninguém pode colocar em causa.
Que o comportamento da aluna é inteiramente reprovável, nada a opor (embora considere tão o mais grave o comportamento do resto da turma. E esses ainda ninguém questionou).
Que esta realidade é, infelizmente, uma vivência quase quotidiana no nosso sistema de ensino, é algo que só alguns (responsáveis) não querem ver.
Então, porquê tanto alarido? Situações de conflito, indisciplina, alguma violência, já há alguns 25, 20, 15, 10 anos atrás aconteciam, por exemplo, nesta “pacata” cidade de Aveiro, nos nossos liceus. Quem não fez asneira que atire a primeira pedra. Mas então o que mudou?
Mudou essencialmente a dimensão, a violência desmedida e espontânea, a importância dos valores, do sentido de responsabilidade, do sentido de comunidade e de vivência social.
E mudou (e muito), o significado da escola, do papel do professor e do aluno, do auxiliar, do próprio ensino.
E isto ficou, uma vez mais, por debater, questionar, alterar e assumir responsabilidades.
É ridículo reduzir (mesmo com a gravidade dos factos) os acontecimentos ao uso, ou à sua proibição, de telemóveis ou ao próprio confronto aluna-professora (pior, mais uma vez, ou pelo menos tão grave, foi o comportamento do resto da turma e o seu reflexo no futuro). Como se o actual estado do ensino não sofresse de males bem mais estruturantes e profundos.
Como se esta realidade, que se pensa confinada apenas ao ensino secundário, não terá, dentro de muito em breve, reflexos sérios e marcantes no ensino superior.
E já para não falar a própria vida profissional e na sociedade de amanhã.
A escola, para a maioria dos adolescentes e jovens é, hoje, uma mera obrigação (na maioria dos casos desprovida de responsabilidade, mérito e justiça), sem uma perspectiva de futuro ou de valorização. Terminar o 12º ano significa objectivamente o quê? Uma concorrência “desleal” com um recém-licenciado para um lugar num “call center” ou numa caixa de um hipermercado? O esforço de mais três anos de escola (após o 9º ano - escolaridade obrigatória) valerá a pena face à realidade das “Novas Oportunidades”? O Secundário, hoje, profissionaliza e prepara para o quê?
É que a escola, há alguns anos a esta parte, tem servido de “cobaia laboratorial” para as mais diversas e distintas experiências psico-pedagógicas na educação e ensino, sem terem em conta os mais elementares princípios da formação humana: sentido de responsabilidade, respeito, justiça, equidade, convivência e construção social.
O ensino está cada vez menos exigente (com programas curriculares cada mais vazios e simplistas, para não dizer medíocres), incapaz de formar e preparar o futuro, de responsabilizar, de devolver a autoridade e o respeito ao professor, etc..
A escola, enquanto instituição do valor educação/ensino, não soube encontrar argumentos, nem estruturas que a “blindassem” de uma realidade social, onde a família, a liberdade, a justiça e a democracia há muito foram perdendo qualquer referência ou valor.
A escola forma cada vez menos e pior. A escola está vazia, o papel do professor está destituído de respeito e valor. Caiu nas ruas da amargura, como nas ruas caíram os valores, as regras e o sentido de liberdade e democracia.
Sinais que se reproduzem no tempo, no ensino superior, na formação, na sociedade, na vida profissional …
Assim progride a nação. Assim cresce a sociedade.
1 comentário:
Caro Miguel,
Diria que a escola não tem servido de cobaia laboratorial, já que tal pressupõe uma carga científica que vai muito além dos disparates, puros e simples, cometidos por gente sem preparação ou vocação para dirigir o ensino.
E quanto ao caso em apreço, que dizer de uma professora que diz ter autorizados os alunos a manterem os telefones ligados e mesmo, a ouvirem música?
Não valem o cuspo que se gasta a falar deles.
Abraço.
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