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26 outubro 2007

A Língua...

Publicado na edição de hoje (26.10.2007) do Diário de Aveiro

Crónicas dos Arcos
A Leitura e a Língua.

Esta semana, no plano nacional e para além do “deve e haver” do Millenium BCP, um dos enfoques relevantes centrou-se nos hábitos de leitura dos portugueses.
Foi amplamente divulgado pela comunicação social e claramente “politizado” pelo Ministério da Educação um estudo que refere os hábitos de leitura dos portugueses.
O universo deste estudo incidiu sobre 7,5 milhões de portugueses residentes no continente. Ou seja, cerca de 2/3 da população portuguesa.
Deste estudo, fica a conclusão de que, nos últimos 10 anos, os portugueses lêem mais. No entanto, este aumento é mais acentuado na leitura de jornais e revistas do que na leitura de livros (aumento de apenas 7%). Embora mais de metade da população portuguesa tenha o hábito de leitura, este é ainda pouco abundante, já que a média dos livros lidos se situa entre duas a cinco obras por ano. São muito poucos os leitores portugueses que lêem anualmente entre 11 a 20 livros.
Além disso, segundo o estudo “A leitura em Portugal”, as bibliotecas domésticas são muito reduzidas, contendo entre 21 a 50 livros (excluindo os escolares), reflexo da maioria dos leitores portugueses serem contidos na aquisição de obras - entre um a cinco livros por ano.
Por outro lado, o referido estudo indica um acréscimo de importância no espaço/tempo dedicado à leitura nos estabelecimentos de ensino. No entanto, os dados analisados revelam que os hábitos e o interesse pela leitura vão diminuindo à medida que a idade escolar vai aumentando.
Sendo dado adquirido que a maioria dos leitores prefere as obras de autores portugueses aos escritores estrangeiros traduzidos, há uma abordagem paralela que é necessário efectuar-se: a valorização e a preservação da língua portuguesa.
É óbvio que a preferência pela leitura de obras de escritores portugueses valorizará e protegerá a língua portuguesa, dando-lhe o relevo, importância e dimensão necessárias. É, no entanto, curioso e importa referir que esta relação entre a língua e a leitura de autores portugueses, não está a ser devidamente acompanhada no ensino, nomeadamente no básico e no secundário, com a desvalorização do “português” e nas falhas na exigência para com uma avaliação cuidada na escrita e na oralidade. Não pode bastar saber escrever e falar. Deve-o ser feito de forma correcta e coerente.
Além disso, para além do função, mesmo que extracurricular, que as escolas e os professores possam desempenhar no incentivo à leitura e consequente preservação e resguardo da língua portuguesa, a família, como pilar educacional, tem que assumir um papel relevante na criação de hábitos de leitura e desenvolvimento cultural dos seus membros. Seja pelo exemplo parental, seja pela própria necessidade que as crianças sentem em ler (segundo os dados, é no início do 2º ciclo do ensino básico que existe maior empatia pela leitura).
Mas o estudo revela outra faceta que importa não descurar.
A preferência pelo tipo de leitura, apontada pela grande maioria dos portugueses, respeita aos jornais e revistas (8 em cada 10 portugueses refere ler jornais ou revistas). Ou seja, uma parte significativa da comunicação social, tem um papel de relevo nos hábitos de leitura e, por consequência, na subsistência e protecção da língua portuguesa.
Mas será assim?!
A crescente mediatização, cada vez mais acentuada, da informação, o desenvolvimento das tecnologias da informação (informática, Internet, telecomunicações), a globalização do espaço e do tempo, a “multi-culturalidade” e a diversidade social, têm transformado um dos aspectos mais importantes da identidade de um povo - a sua língua - numa questão de somenos relevância, como se o desenvolvimento social, económico e político não dependesse igualmente do estado cultural duma nação.
E a comunicação social, hoje, perdeu uma das suas qualidades fundamentais: o exemplo e o espelho da divulgação e resguardo da Língua Portuguesa.
Não deve bastar apenas o cuidado jornalístico em dizer “o quê” (difusão da mensagem informativa). Há que saber cuidar e transmitir, correcta e coerentemente, as mensagens, para que a oralidade e a escrita difundidas não sejam mais um contributo para a deterioração e degradação da Língua Portuguesa.
Por Camões, Almeida Garret, Fernando Pessoa e muitos mais…

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