“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

09 março 2007

Os senhores do mundo

Publicado na edição de hoje (9.03.07) do Diário de Aveiro.
Post-its e Retratos
Os senhores do mundo…


É uma das temáticas académicas deste início do segundo semestre a questão da globalização.
O extremar de posicionamentos face a esta realidade retira a capacidade de análise racional sobre a problemática. Não se tem que ser a favor ou contra a globalização, já que esta não é fruto da actualidade e muito menos, conforme se quer mistificar, resultado de uma americanização do mundo.
A globalização é um fenómeno que é histórico e longínquo, dinâmico e mutável ao longo dos tempos. Para além de ser um fenómeno perfeitamente transversal na sociedade, completamente abrangente. Não se reduz apenas à vertente económica ou comercial. A globalização é social, política, histórica e cultural.
Ela surgiu quando nasceram as primeiras intercomunicabilidades entre pessoas e povos, gerando interacções. E estas mudaram e condicionaram as pessoas, as sociedades, os povos e as nações.
Para não recuar demasiado no tempo, pode-se afirmar que a globalização nasceu com o início da época dos descobrimentos e com as interacções daí resultantes, tenham sido elas do ponto de vista social, cultural, político ou económico.
Portanto, convém desmistificar esta problemática de que a globalização corresponde, mais ou menos, a esta recente invasão do Tio Sam.
No entanto, também não deixa de ser uma realidade que a presença americana no mundo tem condicionado, para o bem e para o mal, as relações entre os povos, a todos os níveis.
Esta nova unipolaridade da hegemonia americana conduz a uma visão muito restrita da política internacional. Ao ponto de esta hegemonia resultar num evidente complexo de superioridade que transforma o americano no “senhor do mundo”.
Esta visão é de tal forma marcante que as suas acções chegam ao ponto de serem desencadeadas à margem ou paralelamente ás instituições e normas internacionais. Temos sempre presente o caso Iraque.
Mas a ingerência norte-americana nas soberanias nacionais não se fica por aqui.
Foi notícia esta semana o relatório que o Departamento de Estado dos EUA produziu sobre violações dos direitos humanos em vários países, nomeadamente Portugal.
Neste campo particular (e eventualmente noutros) a necessidade que os EUA têm de se imiscuírem nas soberanias dos outros povos, começa a ter contornos pueris.
Em primeiro lugar porque não existiu qualquer determinação internacional para legitimar tal relatório.
Segundo, é interessante verificar alguns aspectos desse mesmo relatório, incluindo os pontos referentes ao nosso país, já que muitos espelham a própria realidade norte-americana.
Que legitimidade, autoridade ou isenção têm os EUA para virem criticar países que, por força de uma cultura social ainda muito enraizada em princípios ancestrais, fazem da morte um regra de justiça, quando, em pleno século XXI há estados Norte-Americanos que ainda não aboliram a pena de morte?!
Onde está a condenação americana à violação dos direitos dos homens no processo do enforcamento de Sadam Hussein?!
Como pode um relatório por em causa acções das forças polícias de outros países, quando são mais que sobejamente conhecidos os abusos de autoridade cometidos pela polícia americana?!
Desde quando é que os EUA são o poço de virtudes na questão dos direitos raciais e étnicos, na exploração sexual, na pedofilia e nos crimes e violência domésticos, para porem em causa as realidades dos outros países?!
Desde quando é que os EUA têm já controlada a problemática da clandestinidade e da sua relação com a exploração da mão-de-obra?!
Ontem comemorou-se o Dia Internacional da Mulher. Um dos aspectos focados no caso português, respeita ao aumento do número de casos de violência doméstica. Se por um lado, é uma triste realidade social que urge combater, também não deixa de ser verdade que o aumento numérico dos casos resulta numa maior predisposição para a acusação e no aumento estatístico na identificação de casos.
E mesmo aqui, não é exemplo a realidade americana.
Os EUA não têm, por si só, que publicamente teorizar sobre as realidades dos outros países.
Esta é uma forma de esconder a sua triste realidade social e cultural no que respeita à violação dos direitos humanos.
Seria bom que o governo Norte Americano olhasse primeiro para o seu espelho e “arrumasse” a sua própria casa.
Para este papel fiscalizador já existe a isenção, a credibilidade e a legitimidade de instituições como os organismos não-governamentais como a Amnistia Internacional, assim como o Conselho da Europa e as Nações Unidas.

2 comentários:

Al Berto disse...

Viva Miguel:

O que separa Portugal dos USA é muito mais do que isso.
São cerca de 800 anos a mais de história.
Isto para dizer que os ditames dessa gente mais parecem os palpites dados por um garoto a, por exemplo, Agostinho da Fonseca.

Mas o grave é que eles acreditam mesmo nestas suas aberrações "avaliativas".

Bom fim de semana.
Um abraço,

AC disse...

O objectivo supremo da vida é vivê-la, feliz. Não faz sentindo a vida de expiação, carregando os pecados do mundo. Muito menos quando os pecados são obra de gente eleita. Dizia o saudoso Afonso: “Quando a cobra tem sede, encosta-a logo à parede.” A América tem um jeitinho peculiar de ser feliz!

Cpts