“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

29 março 2007

Não há bela sem senão...

Publicado no Diário de Aveiro, na edição de hoje 29.03.07

Post-its e Retratos
A Bela e o senão!


Ainda há guerra no Iraque, no Afeganistão, em África. A violência regressou a Timor. Os Balcãs tentam construir uma sociedade pluralista e democrática. Longe está de ser resolvido o conflito Israel-Palestina. Os direitos humanos, nomeadamente o das crianças e os referentes à exclusão social das mulheres, são diariamente desrespeitados por esse mundo fora. A geopolítica “joga-se” no Médio Oriente e no Islamismo, bem como no “fervilhar” Sul-Americano. A macro-economia mundial centra-se no continente asiático, nomeadamente na Índia, na Coreia do Sul, em Taiwan e no Japão.
Politicamente, o mundo vive uni-polarizado em torno da influência (para o bem e para o mal) norte-americana e a União Europeia ao comemorar os seus 50 anos de existência ainda não encontrou uma realidade e estruturação clara e objectiva, da qual a Constituição Europeia é apenas uma pequena expressão de um projecto que caminha mais para o abismo do que para a sua concretização. Ainda na Europa, Espanha não resolve a velha questão da autonomia basca, enquanto na Irlanda católicos e protestantes (mesmo sem apertos de mão) caminham para um hipotético entendimento.
Nós por cá… tudo bem!
A nossa realidade económica continua má; o desemprego aumenta; continuamos a “apitar” douradamente; a Casa Pia continua processualmente inerte; a corrupção não abranda; o governo continua sem oposição política capaz e até com algum abrandamento na contestação social; à segunda abortámos em referendo catolicamente derrotado; a selecção regressou ás vitórias e o ensino universitário, pós Moderna, voltou a agitar as águas. A violência doméstica aumenta e a pequena Esmeralda ainda não tem família definida. E é claro, muitos outros etc e tal. Por outro lado, vamos conseguindo manter de forma viva, aplicada, sôfrega, participada e extremamente interactiva (!) uma das nossas mais peculiares características da nossa identidade nacional: a mediocridade cultural.
Num recente e interessante estudo realizado pela Universidade Fernando Pessoa (“A expressividade do sorriso: Estudo de caso em jornais diários portugueses”), o seu Laboratório de Expressão Facial da Emoção analisou cerca de 50 mil fotografias publicadas nos jornais diários, entre Janeiro e Dezembro de 2006. Este estudo demonstrou que a expressão facial de emoções negativas é mais frequente e intensa do que a de emoções positivas. Ou seja, as pessoas estão a sorrir cada vez menos, realidade associada à tristeza, ao contexto social negativo, ao terrorismo e às catástrofes que assolaram o mundo. Mas poderíamos acrescentar uma outra conclusão a este estudo, de forma mais comum e empírica, fruto da experiência do nosso dia-a-dia: a carteira ao fim do mês. Isto é: rir de quê?
Mas se esta é uma realidade social, política e cultural existente e sem perspectivas de melhorias próximas, há que combater o fenómeno, pelo menos, com a disponibilidade dos meios de comunicação de massas (nomeadamente a televisão) de, através de alguns conteúdos, criarem a oferta da opção do rir aos portugueses. Nem que de forma pontual. Mas pelo menos terem essa oferta nos seus serviços.
Mas a questão impõe-se: a qualquer e todo o custo!? Sem a noção do serviço que é prestado, ter efeitos “colaterais” graves? Há custa da mediocridade e da estupidez humana?
Num país em que o ensino se encontra num estado caótico, em que o nível cultural é baixíssimo e onde ainda há muito para ser realizado ao nível da valorização dos recursos humanos, a televisão, no caso concreto a TVI, deveria ter o especial cuidado de, como meio de comunicação e informação, ser instrumento contributivo para o desenvolvimento intelectual da nação. Mas como bom hábito luso, temos tudo ao contrário. Sobre o pretexto da diversão, do entretenimento, do “fazer” rir, pela negativa, curiosamente, cíclica/repetitiva a TVI coloca no ar mais uma verdadeira pérola da aberração comunicacional: “A Bela e o Mestre”.
Nem sequer vou discutir a questão irrelevante do chamado estereótipo da mulher bela e “burra” porque a realidade incumbe-se de demonstrar o contrário ou a ineficácia de tal “teoria”. Nem tão pouco discutir questões de QI’s ou de inteligência masculina em ambientes pré-estruturados e delineados. E muito menos se o que nos é apresentado é real ou ficção ou se o programa dá azo e fundamentação a protestos de associações feministas.
Enquanto se discute a necessidade urgente de formação de quadros e de recursos humanos para o desenvolvimento nacional; enquanto se discute o ensino no nosso país com o conflito ministério da educação-docentes em efervescência; a sustentabilidade do ensino universitário; a completa ausência de uma política nacional de investigação científica; o sistemático e despropositado encerramento de muitas escolas; enquanto o plano tecnológico é apenas um souvenir finlandês, deparamo-nos diariamente com a subjectividade da beleza feminina, com a questionável intelectualidade masculina, mas, acima de tudo, com a verdadeira estupidez cultural. Divertir os portugueses à custa de uma triste realidade como é a falta de cultura, de conhecimento, de bom-senso de formação, é tão somente tornar este país, já em si caótico, numa verdadeira comédia.
E mais grave… com os portugueses a assistirem a tal realidade, com uma desconcertante naturalidade.
Sem se ouvirem vozes do professorado, do ministério da educação, de entidades responsáveis pela regulação do nosso processo informativo.
Assim, vamos vendo e rindo… porque Camões não existe; as regiões autónomas são Lisboa e Porto; ninguém conhece Fidel Castro; tivemos uma política Maria de Lurdes Piriquito e afinal as invasões francesas não aconteceram porque afinal Napoleão era o nosso Bocage. Reescreve-se a história na TVI de forma estupidamente natural.
Ao menos se as pernas tivessem neurónios!!!

12 comentários:

Al Berto disse...

Viva Miguel:

Desejos de uma boa Páscoa cheia de saúde e boa disposição para toda a família.
Um abraço,

Terra e Sal disse...

Passei para lhe desejar uma boa Páscoa Amigo Migas,votos extensivos a toda a família.
Um abraço

Terra e Sal disse...

Meu grande Migas:
Quem viu este Blog cheio de dinamismo, sempre verdinho como uma alface, estranha agora, ver o "capim" crescer.
Uns 10 minutinhos por semana arranja-se sempre, para o apresentar sempre de cara lavada.
E isto também é cultura.
Podemos até ser mestres, mas aprendemos sempre muito.
Vamos a pôr os livros e sebentas da faculdade a "dormir" mais um bocadinho ao fim-de-semana, e dar mais atenção aos amigos...esses desconhecidos.
Um abraço e saúde da boa.

Al Berto disse...

Viva Miguel+:

O Estados Gerais solicita o seu prezado comentário a assunto deveras preocupante.
Um abraço,

Al Berto disse...

Viva Miguel:

Quem o viu e quem o (não) vê!!!

O dia 25 de Abril aproxima-se.
Nele será comemorado uma data que permitiu ao povo português libertar-se dum regime totalitário, desprezível e anquilosado.
Foi posto termino a uma guerra colonial injusta e traumatizante.
É opinião unanime de que o país progrediu a olhos vistos.
É preciso fazer mais?
Certamente.
Mas fazê-lo em liberdade tem muito mais sabor.

Viva o 25 de ABRIL.

Um abraço,

Anónimo disse...

Amigo TERRA E SAL:
Porque é que não põe o acesso ao "SALMARITIMO" igual ao "DEBAIXO DOS ARCOS"? É que não se consegue comentar.

Um abraço

ZÉ MALAGUETA

Al Berto disse...

Viva Miguel:

Viva o 25 de Abril... e não se esqueçam de ensinar aos mais novos de qual a importância dele para a vida colectiva dos portugueses.

Forte abraço,

Anónimo disse...

Aqui o Sr. Zé Malagueta não rimou!!!Perdeu a rima???Desculpe lá ó Migas estar a meter-me com os seus comentadores

RM disse...

Então Migas!
De férias?
Vá lá acaba com a malandrice!
Abraço
Raul Martins

João Branco disse...

Então Miguel, para quando um novo post?

Anónimo disse...

Ele anda a estudar demais!e faz bem de concerteza.

Terra e Sal disse...

Meu Caro Migas:
Até os ursos hibernam, isso é uma verdade.
Mas é tempo de acordar, eles já o fizeram. A Primavera chegou, e o sol desperta-nos.
Deixe os livros (suponho) e recrie por si a história e faça-nos viver e ver a vida, do nosso dia a dia.
Fico à espera.
Um abraço