Publicado hoje (24.08.06) no Diário de Aveiro, embora com a respectiva foto e nome trocados.
Post-its e Retratos
Sol Luso. Sem esquecimentos…
1. Férias.
Esta palavra, com um significado mágico, carrega em si uma intensa carga quase que mitológica de “sentidos, sabores e aromas”: descanso, abstinência, excessos, viagens, sol, verde, água. Da mesma forma, carrega em si outros valores: desprendimento financeiro, aborrecimentos, ilusão, cansaço. Quando se é jovem, o melhor mesmo são os amores de verão. Despreocupados, descomprometidos, livres, às vezes duradouros e eternos. Mas a melhor definição de férias, vem da capacidade de abstracção da normalidade do dia-a-dia, do mundo, às vezes, da própria vida.
Daí o chavão de que algo – política, desporto, economia, trabalho, “foi para banhos”. Como se isso significasse, na prática, que o dia-a-dia e o mundo param no tempo, para que o tempo possa ser nosso e por nós comandado.
2. A realidade veraneia.
Ou como refere a nossa cultura tradicional e populucha: tapar o sol com a peneira.
Sol, felizmente tem sido muito. A peneira da vida também não para.
E a realidade das férias, não consegue esquecer uma “silly season” que, por mais que nos queiramos abstrair dessas realidades, teimosamente paira sobre nós.
O Verão traz ciclicamente a tragédia dos fogos. Sem que os esforços feitos e o que se deixou por precaver e planear, consiga “apagar” este flagelo de destruição de esforços, bens e de vidas.
Os fogos trouxeram mais uma vez o polémico debate sobre as responsabilidades, a prevenção, os combates. Trouxe igualmente a fragilidade da liderança governativa, como o desentendimento, mais ou menos público, entre o Ministério da Administração Interna e o Ministério do Ambiente.
Politicamente o país foi apenas a banhos a espaços muito curtos.
O governo inovou a vida política e económica do país com a divulgação das listas de devedores ao fisco e à segurança social, esquecendo igualmente as suas responsabilidades e compromissos falhados com os encargos contratuais que celebra. Deste modo, é permitido aos cidadãos manter um determinado nível de conversa diária laboral próxima do jornalismo “cor-de-rosa” e da “cosquice”. Pelo menos enquanto não chega o boom do futebol.
O país assistiu ao colapso político do líder do CDS quando aceitou o convite para se juntar à mesa com o líder do PND e consequentemente hipotecou um necessário posicionamento que o partido teria obrigação de demarcar na fragilidade da oposição ao governo.
A tradicional festa do PSD no Pontal, transformou-se numa mera festa de verão algarvio. Sem o fulgor e a chama política de outros tempos de oposição ou maioria governativa, saldou-se por um mero desenrolar de chorrilhos oposicionistas à liderança de Marques Mendes. Pela primeira vez, o Pontal não recebia o líder partidário.
O poder autárquico, expoente máximo da proximidade da política com o povo, confrontou-se com a sua incapacidade de superar o mediatismo e o partidarismo: Lisboa, Porto e Setúbal.
O Primeiro-Ministro visitou o Brasil, sem qualquer impacto prático para o país. Muito mais relevo, tiveram as suas férias no Algarve.
Mas as férias teimosamente fazem-nos regressar à realidade dos números frios e trágicos das mortes na estrada. Por incúria, por falta de civismo, por desrespeito ao Código. E porque, é uma época em que mais alcatrão se percorre em duas ou quatro rodas.
E como o Sol quando nasce é para todos; é para todos os lugares e povos. É para o conflito continuado no Iraque; para a fragilidade do cessar-fogo Israel-Libanês; para o ressurgimento da instabilidade no Afeganistão. Mas este sol de verão traz também a continuidade da guerra no Sri-Lanka, os desafios energéticos do Irão, a limpeza étnica do Sudão, as polémicas eleições mexicanas e o recém abalo político em Cuba.
Mas o sol também brilha. Como brilhou intensamente o atletismo português, principalmente com a participação de Francis Obikwelu nos europeus da modalidade.
Mas como tudo o que é bom acaba, também acabam as férias. Mas não a vida.
Já muito próximo teremos o país profundamente futubolês com o início dos campeonatos. Que para não fugir à regra, estão já contemplados com a polémica eleição para os órgãos da Liga e com o caso Mateus.
A liberalização do mercado energético confrontará a EDP com uma dura prova de fogo.
E começará, de novo envolto em polémica, o novo ano lectivo.
3. A Praia.
O Concelho de Aveiro (ao contrário de muitos concelhos costeiros) tem uma única praia: S. Jacinto.
Este ano, a praia foi contemplada com a Bandeira Azul e Acessibilidade.
Apesar do esforço autárquico (Câmara e Junta de Freguesia) para a promoção e desenvolvimento de um espaço com potencialidades turísticas exemplares – o mar, a ria, a reserva, o “concelho” (mea culpa) continua maioritariamente a “mergulhar” na Barra e na Costa Nova.
Quererá isto dizer que o esforço para o desenvolvimento turístico de S. Jacinto, terá de passar por um maior esforço, mais planificado e estruturado, com a participação de um maior leque de entidades públicas e privadas: Câmara de Aveiro – Junta de Freguesia – Rota da Luz – AIDA – Associação Comercial de Aveiro – Capitania e APA, Delegação Regional de Saúde, Ministério do Ambiente, etc.
S. Jacinto tem uma capacidade turística ainda por explorar e com fortes potencialidades.
Este está a terminar. Haverá outro verão para o ano.
Post-its e Retratos
Sol Luso. Sem esquecimentos…
1. Férias.
Esta palavra, com um significado mágico, carrega em si uma intensa carga quase que mitológica de “sentidos, sabores e aromas”: descanso, abstinência, excessos, viagens, sol, verde, água. Da mesma forma, carrega em si outros valores: desprendimento financeiro, aborrecimentos, ilusão, cansaço. Quando se é jovem, o melhor mesmo são os amores de verão. Despreocupados, descomprometidos, livres, às vezes duradouros e eternos. Mas a melhor definição de férias, vem da capacidade de abstracção da normalidade do dia-a-dia, do mundo, às vezes, da própria vida.
Daí o chavão de que algo – política, desporto, economia, trabalho, “foi para banhos”. Como se isso significasse, na prática, que o dia-a-dia e o mundo param no tempo, para que o tempo possa ser nosso e por nós comandado.
2. A realidade veraneia.
Ou como refere a nossa cultura tradicional e populucha: tapar o sol com a peneira.
Sol, felizmente tem sido muito. A peneira da vida também não para.
E a realidade das férias, não consegue esquecer uma “silly season” que, por mais que nos queiramos abstrair dessas realidades, teimosamente paira sobre nós.
O Verão traz ciclicamente a tragédia dos fogos. Sem que os esforços feitos e o que se deixou por precaver e planear, consiga “apagar” este flagelo de destruição de esforços, bens e de vidas.
Os fogos trouxeram mais uma vez o polémico debate sobre as responsabilidades, a prevenção, os combates. Trouxe igualmente a fragilidade da liderança governativa, como o desentendimento, mais ou menos público, entre o Ministério da Administração Interna e o Ministério do Ambiente.
Politicamente o país foi apenas a banhos a espaços muito curtos.
O governo inovou a vida política e económica do país com a divulgação das listas de devedores ao fisco e à segurança social, esquecendo igualmente as suas responsabilidades e compromissos falhados com os encargos contratuais que celebra. Deste modo, é permitido aos cidadãos manter um determinado nível de conversa diária laboral próxima do jornalismo “cor-de-rosa” e da “cosquice”. Pelo menos enquanto não chega o boom do futebol.
O país assistiu ao colapso político do líder do CDS quando aceitou o convite para se juntar à mesa com o líder do PND e consequentemente hipotecou um necessário posicionamento que o partido teria obrigação de demarcar na fragilidade da oposição ao governo.
A tradicional festa do PSD no Pontal, transformou-se numa mera festa de verão algarvio. Sem o fulgor e a chama política de outros tempos de oposição ou maioria governativa, saldou-se por um mero desenrolar de chorrilhos oposicionistas à liderança de Marques Mendes. Pela primeira vez, o Pontal não recebia o líder partidário.
O poder autárquico, expoente máximo da proximidade da política com o povo, confrontou-se com a sua incapacidade de superar o mediatismo e o partidarismo: Lisboa, Porto e Setúbal.
O Primeiro-Ministro visitou o Brasil, sem qualquer impacto prático para o país. Muito mais relevo, tiveram as suas férias no Algarve.
Mas as férias teimosamente fazem-nos regressar à realidade dos números frios e trágicos das mortes na estrada. Por incúria, por falta de civismo, por desrespeito ao Código. E porque, é uma época em que mais alcatrão se percorre em duas ou quatro rodas.
E como o Sol quando nasce é para todos; é para todos os lugares e povos. É para o conflito continuado no Iraque; para a fragilidade do cessar-fogo Israel-Libanês; para o ressurgimento da instabilidade no Afeganistão. Mas este sol de verão traz também a continuidade da guerra no Sri-Lanka, os desafios energéticos do Irão, a limpeza étnica do Sudão, as polémicas eleições mexicanas e o recém abalo político em Cuba.
Mas o sol também brilha. Como brilhou intensamente o atletismo português, principalmente com a participação de Francis Obikwelu nos europeus da modalidade.
Mas como tudo o que é bom acaba, também acabam as férias. Mas não a vida.
Já muito próximo teremos o país profundamente futubolês com o início dos campeonatos. Que para não fugir à regra, estão já contemplados com a polémica eleição para os órgãos da Liga e com o caso Mateus.
A liberalização do mercado energético confrontará a EDP com uma dura prova de fogo.
E começará, de novo envolto em polémica, o novo ano lectivo.
3. A Praia.
O Concelho de Aveiro (ao contrário de muitos concelhos costeiros) tem uma única praia: S. Jacinto.
Este ano, a praia foi contemplada com a Bandeira Azul e Acessibilidade.
Apesar do esforço autárquico (Câmara e Junta de Freguesia) para a promoção e desenvolvimento de um espaço com potencialidades turísticas exemplares – o mar, a ria, a reserva, o “concelho” (mea culpa) continua maioritariamente a “mergulhar” na Barra e na Costa Nova.
Quererá isto dizer que o esforço para o desenvolvimento turístico de S. Jacinto, terá de passar por um maior esforço, mais planificado e estruturado, com a participação de um maior leque de entidades públicas e privadas: Câmara de Aveiro – Junta de Freguesia – Rota da Luz – AIDA – Associação Comercial de Aveiro – Capitania e APA, Delegação Regional de Saúde, Ministério do Ambiente, etc.
S. Jacinto tem uma capacidade turística ainda por explorar e com fortes potencialidades.
Este está a terminar. Haverá outro verão para o ano.
5 comentários:
Pois Miguel, muita coisinha má e, toda junta, não há cu-ração qu'aguente. Lá por que tivesse ficado desapontado com o final das suas férias, não teria o direito de nos atazanar já a vida a nós que o lê-mos. P'ra isso já pagamos ao poder local, regional e nacional. Assim, p´ró seu peditório, tenha paciência mas, já demos.
A propósito da sua referência ao desenvolvimento turístico da região e agora falando sério, será que a deposição das lamas da Etar em Canelas, se inserirão nalgum plano de desenvolvimento turístico? Imagine, milhares de pessoas na zona a apreciar as matérias das diarreias intestinais, rosquinhas de bebé, finos laços de merda de meninas virgens, grossos cagalhutos de homens barbudos, a fina matéria do nosso jet set, a merdinha mole da política…., é pá, isto tem pernas p’randar!
Ou será mais simples e estamos a tentar entrar no Guiness?
Cpts
Meu caro Abel.
As minhas férias ainda não acabaram.
Só a 15 de Setembro.
Mas o que me assolou a mente e o espírito, foi esse sentimento nacionalista que todo o bom luso tem: férias são férias. E desligam de tudo.
Mas acontece é que a vida e o mundo não param só porque vamos de férias.
Essa é uma realidade que não me interessa esconder.
A vida é par ser vivida na totalidade.
As férias não vão parar o tempo, o universo, nem a nossa vida.
Quando muito poderão dar-lhe um ar mais colorido.
Quanto à ETAR em Canelas, reconheço que tal é de facto uma vergonha que deveria ser exemplarmente julgada e punida, como tive oportunidade de o dizer na sua excelente casa.
Abraços
Viva Miguel:
Nesse bom artigo que escreveu há um lapso imperdoável que os nossos amigos brasileiros lhe vão cobrar... e então as polémicas eleições brasileiras? :-)
Um abraço,
Caro Miguel
Realmente li no DA o seu artigo, como se fosse "o outro"... lamento este equívoco bastante desagradável. E agora sim vamos apostar noutros Verões!
Um abraço
Olá Miguel,
Em altura de férias acabamos por desculpar tudo...até equívocos como esse!
Tinha lido (leio sempre) e achei estranho aquele conteúdo que lhe correspondia.
Continuação de boas férias, agora menos quentes mas mais agradáveis.
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