É fogo que arde e se vê!
Publicado na edição de hoje (9.08.06) do Diário de Aveiro.
Post-its e Retratos
Todos os anos é Verão!
É Verão. Estamos de férias!
Uma época do ano em que o lazer, o descanso, o ócio, a descoberta de novos lugares, outras gentes, outros costumes, são a principal referência para milhares de portugueses.
O descanso merecido após um ano laboral que a natureza faz coincidir especialmente com os meses de Junho a Setembro.
Mesmo que o peso da insuficiência financeira de muitos lares pese na hora de escolher a forma e o conteúdo, nada retira o gozo pleno de se estar de férias.
É cíclico… mas de tal forma desejado que assume contornos de único e irrepetível. Tanto, que muito “boa gente” há, que mal acabam as férias, pouco tempo depois, começam a planear as do próximo verão.
Mas há igualmente um cenário bem diferente deste. Também cíclico, mas dispensável, aterrador, devastador e desassossegado.
Coincidente com a ociosidade das férias e do descanso, contrapõe-se claramente com relevos macabros e dantescos.
Aveiro, tem vivido há poucos dias atrás estes dois cenários veraneantes.
A par do sol e do calor, sentem-se e respira-se o ar “abafado”, quente e queimado. Há cinza no ar. Vive-se o “calor” dos incêndios.
Pessoalmente é algo que me assusta. Como me assusta tudo o que é incontrolável.
Mas mais do que assustar, é algo que não consigo perceber. E isso assusta ainda mais.
O que é pontual e ocasional, depressa a memória apaga e a racionalidade mostra-se indiferente porque, normalmente, não adopta perfis explicáveis. O que é cíclico, repetitivo, constante, só acontece por manifesta incapacidade de planear, prever e combater.
O Concelho de Aveiro e zonas periféricas tem uma área florestal, embora dispersa, significativa e relevante. Veja-se a zona onde deflagraram os focos deste fim-de-semana passado: As freguesias de Eixo – Oliveirinha – N. Sra. de Fátima – Nariz. A par da realidade florestal, convivem paredes-meias com a flora, a norte a zona industrial de Taboeira e Cacia e a sul a zona industrial de Mamodeiro, juntamente com a vizinha Oiã.
É um sector que necessita de investimentos, de planeamento, de regras e de prevenção.
Após tantos anos cíclicos, com a repetição histórica dos factos, ano após ano, é curioso que Portugal ainda não parou para pensar, projectar e agir racional e estruturalmente nesta área.
Compram-se dois ou três aviões, contratam-se outros tantos, definem-se parcerias internacionais, legisla-se sobre limpezas obrigatórias.
Todos os anos se afirma que tudo está previsto, planeado e de prevenção. Mas todos os anos volta a arder.
Estruturalmente o que se fez?! Muito pouco.
Novos conceitos e regras de reflorestação ficam por definir.
Os Planos de Ordenamento do Território, ao nível ambiental, passam de legislatura para legislatura entre dossiers de estudo e de análise.
Mais depressa se investe económica e politicamente no Prace, no Simplex ou no choque tecnológico, ou em OTA’s e TGV’s, do que na riqueza natural, ambiental, económica, social e cultural do país que é a sua floresta.
Todos os anos se legisla sobre a responsabilidade da conservação das zonas florestais privadas, mas esquece-se a responsabilidade do estado nas suas zonas e na falta de investimento nas áreas da prevenção e da fiscalização.
Enquanto a responsabilidade dos actos não for criminalmente punida de forma exemplar e coerente com as consequências, para além dos fenómenos naturais, estes casos são meros dados estatísticos.
Como estatísticas são os danos ambientais e materiais, as famílias destroçadas e as mortes consumadas. Sem responsáveis e sem responsabilidades.
Todos os anos corporações de voluntários recebem uma nova viatura e mais alguns metros de mangueira. Muitas vezes esquecendo-se os mais recônditos lugares, os que mais perto desta realidade cíclica vivem e agem. Mas fica para a história a bravura de homens e mulheres, nem sempre compreendidos, que nenhuma obrigação têm senão a sua opção cívica pela ajuda aos outros. Por troca nenhuma. A não ser, muitas vezes a vida.
Teimosamente, Portugal ainda não investiu num profissionalismo desta actividade, por forma a dignificá-la, a estruturá-la e a torná-la mais eficaz. Racionalizando meios, recursos humanos, já para não falar dos custos financeiros que este digno e nobre voluntariado causa na sociedade e no tecido empresarial e laboral.
Portugal todos os anos perde uma área incalculável de floresta. Todos os anos, a natureza ou alguém descobre mais um pedaço para queimar. Todos os anos o Verão é escaldante, apesar das promessas políticas de que tudo mudou para ficar no mesmo.
Todos os anos vamos a banhos. Todos os anos se dão mergulhos no mar.
Todos os anos acende, queima, destrói e mata.
Todos os anos é Verão!
Post-its e Retratos
Todos os anos é Verão!
É Verão. Estamos de férias!
Uma época do ano em que o lazer, o descanso, o ócio, a descoberta de novos lugares, outras gentes, outros costumes, são a principal referência para milhares de portugueses.
O descanso merecido após um ano laboral que a natureza faz coincidir especialmente com os meses de Junho a Setembro.
Mesmo que o peso da insuficiência financeira de muitos lares pese na hora de escolher a forma e o conteúdo, nada retira o gozo pleno de se estar de férias.
É cíclico… mas de tal forma desejado que assume contornos de único e irrepetível. Tanto, que muito “boa gente” há, que mal acabam as férias, pouco tempo depois, começam a planear as do próximo verão.
Mas há igualmente um cenário bem diferente deste. Também cíclico, mas dispensável, aterrador, devastador e desassossegado.
Coincidente com a ociosidade das férias e do descanso, contrapõe-se claramente com relevos macabros e dantescos.
Aveiro, tem vivido há poucos dias atrás estes dois cenários veraneantes.
A par do sol e do calor, sentem-se e respira-se o ar “abafado”, quente e queimado. Há cinza no ar. Vive-se o “calor” dos incêndios.
Pessoalmente é algo que me assusta. Como me assusta tudo o que é incontrolável.
Mas mais do que assustar, é algo que não consigo perceber. E isso assusta ainda mais.
O que é pontual e ocasional, depressa a memória apaga e a racionalidade mostra-se indiferente porque, normalmente, não adopta perfis explicáveis. O que é cíclico, repetitivo, constante, só acontece por manifesta incapacidade de planear, prever e combater.
O Concelho de Aveiro e zonas periféricas tem uma área florestal, embora dispersa, significativa e relevante. Veja-se a zona onde deflagraram os focos deste fim-de-semana passado: As freguesias de Eixo – Oliveirinha – N. Sra. de Fátima – Nariz. A par da realidade florestal, convivem paredes-meias com a flora, a norte a zona industrial de Taboeira e Cacia e a sul a zona industrial de Mamodeiro, juntamente com a vizinha Oiã.
É um sector que necessita de investimentos, de planeamento, de regras e de prevenção.
Após tantos anos cíclicos, com a repetição histórica dos factos, ano após ano, é curioso que Portugal ainda não parou para pensar, projectar e agir racional e estruturalmente nesta área.
Compram-se dois ou três aviões, contratam-se outros tantos, definem-se parcerias internacionais, legisla-se sobre limpezas obrigatórias.
Todos os anos se afirma que tudo está previsto, planeado e de prevenção. Mas todos os anos volta a arder.
Estruturalmente o que se fez?! Muito pouco.
Novos conceitos e regras de reflorestação ficam por definir.
Os Planos de Ordenamento do Território, ao nível ambiental, passam de legislatura para legislatura entre dossiers de estudo e de análise.
Mais depressa se investe económica e politicamente no Prace, no Simplex ou no choque tecnológico, ou em OTA’s e TGV’s, do que na riqueza natural, ambiental, económica, social e cultural do país que é a sua floresta.
Todos os anos se legisla sobre a responsabilidade da conservação das zonas florestais privadas, mas esquece-se a responsabilidade do estado nas suas zonas e na falta de investimento nas áreas da prevenção e da fiscalização.
Enquanto a responsabilidade dos actos não for criminalmente punida de forma exemplar e coerente com as consequências, para além dos fenómenos naturais, estes casos são meros dados estatísticos.
Como estatísticas são os danos ambientais e materiais, as famílias destroçadas e as mortes consumadas. Sem responsáveis e sem responsabilidades.
Todos os anos corporações de voluntários recebem uma nova viatura e mais alguns metros de mangueira. Muitas vezes esquecendo-se os mais recônditos lugares, os que mais perto desta realidade cíclica vivem e agem. Mas fica para a história a bravura de homens e mulheres, nem sempre compreendidos, que nenhuma obrigação têm senão a sua opção cívica pela ajuda aos outros. Por troca nenhuma. A não ser, muitas vezes a vida.
Teimosamente, Portugal ainda não investiu num profissionalismo desta actividade, por forma a dignificá-la, a estruturá-la e a torná-la mais eficaz. Racionalizando meios, recursos humanos, já para não falar dos custos financeiros que este digno e nobre voluntariado causa na sociedade e no tecido empresarial e laboral.
Portugal todos os anos perde uma área incalculável de floresta. Todos os anos, a natureza ou alguém descobre mais um pedaço para queimar. Todos os anos o Verão é escaldante, apesar das promessas políticas de que tudo mudou para ficar no mesmo.
Todos os anos vamos a banhos. Todos os anos se dão mergulhos no mar.
Todos os anos acende, queima, destrói e mata.
Todos os anos é Verão!
10 comentários:
Duras verdades!
Tristemente belo, este seu texto Miguel.
Realmente belo o texto. E uma realidade triste em todos os anos.
SDS
Pois é Migas:
Arde o Vouga, arde o país inteiro.
Vamos por essas estradas e é confrangedor o espectáculo que se apresenta aos nossos olhos.
Dêem as voltas que derem, comprem aviões, helicópteros e mais alguma coisa, que não conseguem resolver o problema.
Não se entende por outro lado, como é permitido com esta má experiência cíclica dos fogos permitam que, casas vivam paredes-meias com a floresta.
Porque será que num raio de 50 metros do limite de uma aldeia e à sua volta não se façam clareiras que permitam cortar em grande parte, a fúria dos fogos?
Por outro lado as propriedades florestais pagam impostos diminutos.
Algumas nem sequer pagam, outras, ninguém sabe de quem são.
Crie o Estado condições para as pessoas pagarem impostos razoáveis sobre estas propriedades, a ver se tratam delas ou não.
É que as florestas penso, terão alguma rentabilidade em grandes extensões e assim há justificação para serem limpas e tratadas convenientemente.
Ora o que assistimos é que um determinado individuo tem meia dúzia de metros, tendo logo ao lado outro nas mesmas condições, e mais outro e outro ainda e é isto a nossa floresta.
Resultado:
Genericamente ninguém liga nenhuma ao que é seu.
Para muitos tanto se lhe dá como se lhe deu…
Outros nem sabem o que é seu, e se o incêndio é numa propriedade sua.
Comece-se a pagar impostos que se vejam e a expropriar para o estado aquelas que não são de ninguém.
Aqueles que não reúnem condições para as trabalhar que as vendam ao estado por um preço justo.
O estado que trate delas, que diversifique a sua flora, que acabe com a gasolina verde que são os eucaliptos que ocupam pelo menos aqui no centro e norte 99% das nossas florestas.
Temos as árvores próprias do nosso país e da nossa região, comece-se a plantá-las
Torne-se a nossa floresta num verdadeiro bosque, que dadas as condições do nosso clima é isso que permite e quer.
Demore-se dezenas de anos mas deixemos aos outros alguma coisa.
Mão-de-obra não falta infelizmente, e os milhões e milhões que todos os anos se gastam em dois ou três meses, chegam e sobram para pagar quem nelas trabalhar.
Cumprimentos.
Viva Miguel:
Mas não vá mais longe, na Aldeia Desportiva de S. Bernardo, a 2 Km. da cidade e em plena zona de vivendas e colado a elas você encontra pinhal e mato completamente abandonado.
Onde andam os bombeiros ou a protecção civil?
Estão nos seus dormitórios, digo postos e andam a fiscalizar a zona?
Estão mas é á espera do ordenado ao fim do mês, porque se não fosse esse o caso teriam já visto esta e outras situações.
Um abraço,
Começo por repetir o que já escrevi noutro blog: É o divertimento de verão de um povo sem horizontes.
Devo dizer que não acredito em incêndios espontâneos. Volta e meia, quero queimar umas ervas secas do meu jardim e horta e queimo os dedos, perco a paciência e não consigo atear o fogo às ditas. Diria que a quase, senão a totalidade dos incêndios são de origem criminosa; ou por mesquinha vingança, ou por interesses económicos (tanto a madeira queimada, como o próprio combate aos incêndios, geram muitos milhões de lucros), ou por inconsciência ou demência.
Mas, a causa principal, estará relacionada com dinheiros. Devo dizer que actualmente, os madeireiros, fazem o favor de comprar madeira sã, ao preço da ardida, tal é a fartura. Quanto ao negócio do combate, é muito dinheiro em jogo e não se compram meios de combate se deles não houver necessidade. É um negócio completamente institucionalizado. A época de incêndios, tal como a de banhos, até já é inaugurada com pompa e circunstância por ministros. Chegou aqui a nossa decadência humana e social.
Responsabilizar os proprietários pelos incêndios, é fugir às responsabilidades que o poder político deve assumir. Fiscalizar a construção de habitações em zonas de mata, criar condições para que a floresta se torne rentável e assim, os proprietários voltarem a trabalhá-la, proibir o comércio de madeiras ardidas e, finalmente, punir exemplarmente os incendiários. Acredito Miguel, que tomadas estas medidas, se acabariam os incêndios.
Doutra forma, continuaremos a destruir o país e o nosso próprio futuro.
Cpts.
Caro Terra & Sal
Perfeito e totalmente de acordo.
Mas também não deixa de ser verdade que (qualquer um, e reforço - qualquer um) governo esquece, ano após ano, das suas iguais responsabilidades no que repeita à floresta e às suas condições.
E já agora, pegando nas palavras do José Mostardinha (viva meu caro) e embora não concorde com as suas expressões, acho que falta um aspecto fundamental: seja na Aldeia Desportiva de S. Bernardo, seja pelo Vouga, seja por esse Portugal profundo.
Falta um Plano Nacional de Ordenamento do Território eficaz, feito a pensar em cada realidade, em cada região e que defina claramente uma estratégia racional para a flora deste país.
Cumprimentos
Caro Alberto Cunha
Assim tenho igualmente a percepção.
Para além das questões políticas e ambientais da responsabilidade do governo e para além da ideia que tenho que o exemplar cumprimento do dever dos bombeiros poderia ser melhor estruturado quer nos recursos humano quer nos investimentos.
Acho que a questão passa igualmente pela combate às questões polémicas e misteriosas que colocou.
Esse é o lado obscuro da questão. O lado "negro" de dificil percepção, prova e fiscalização.
Também penso que quando se atingir a capaciade de combater os incêndios por esse lado, tudo se tornará mais simples e eficaz.
Cumprimentos
OLÁ MIGUEL ARAÚJO:
Voltei a visitar os Arcos.
Fala-se de fogos...Pois, regresso de 1 semana de férias em Esposende e, quando ia do Porto para Esposende, numa IC mesmo à borda da estrada estava um fogo activo na região de Estela - Póvoa de Varzim.
Que vi eu, caro Amigo?
Um carro dos Bombeiros e apenas 2 homens puxando a mangueira e atirando àgua para o fogo...onde estão os outros homens?
Boa pergunta. Sabe a resposta?
São cedidos pelo «nosso Ministro da Administração Interna» para ajudar os nossos vizinhos espanhóis a apagar os fogos deles.
PARECE BEM...
Pois Amigo, enquanto este País se preocupar mais com o PARECER BEM, não vamos muito longe, e a floresta continuará a arder todos os anos na época do Verão.
Vejo muito pouco as notícias pela televisão, pergunto eu:Para quê?
A toda a hora se fala dos fogos e, oiço dizerem que encontraram e foram apanhados 25 pessoas acusadas de fogo posto, e alguns deles REINCIDENTES...Porquê?
Porque depois de os prenderem e julgarem, são postos em liberdade.
Como quer este País ir para a frente no combate aos fogos, tendo atitudes destas?
Infelizmente, o MAL do País começa por cima, e nós cá em baixo, não podemos fazer NADA.
Beijo com carinho.
Olá Miguel,
Então essas férias? São cá dentro?
Pois isto está péssimo. Calor até dizer "chega" e os incêndios a proliferar mais do que as moscas.
Este problema que se agudiza já é velho e soluções rápidas não há porque não há milagres.
As matas não são limpas pois ninguém obriga ninguém e às vezes o crime compensa.
Se calhar, já é tempo de tirar os presos das cadeias e colocá-los a trabalhar no que pertence ao Estado e obrigar os particulares a tratar do que é seu. Neste caso, é fácil: se não limpam, limpa-se e apresenta-se a conta. Se não pagam, fica-se com a propriedade ou coloca-se a mesmo à venda.
Para mim, isto devia aplicar-se também à grande quantidade de casas que estão abandonadas, em estado lastimoso de degradação. Ainda faltam muitas leis neste país mas o problema principal é que essas mesmas leis são feitas por muitos dos interessados em que este estado de calamidade e de confusão se mantenha.
Se for o caso, boas férias. Ao fim de um ano de trabalho bem precisamos todos.
Viva Pé de Salsa
De facto, este ano as férias são cá dentro.
Ou melhor ali para os lado da Praia da Barra (do país vizinho Ilhavo).
Várias razões: paciência, o euro milhões que só sai aos outros e o facto da filhota já ir para a escola primária (ou melhor - 1º ano do 1º ciclo do ensino básico) o que implica (para além da total ionexperiência dos progenitores) um novo desafio e o aproximar de inúmeras tarefas de preparação.
Mas só na 4ª feira!
de qualquer forma, vou-me me mantendo "vivo" por aqui.
A sugestão que apresenta é interessante.
Se não levara a mal, juntava-lhe os militares (exército - força aérea - marinha) que durante o resto do ano, bem podiam ser úteis. porque felizmente as guerras ainda vão estando longe.
Cumprimentos
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