De regresso a casa.
E enquanto me vou preparando para responder a estes 2 dias de ausência...
Ambiente, publicado na edição de hoje (31.08.2006) do Diário de Aveiro.
Post-its e Retratos
Ambientalismos
As questões ambientais são, para a maioria dos portugueses, questões de somenos importância.
São temas normalmente associados a contexto políticos ou a grupos mais ou menos partidarizados, com realidades específicas.
Mesmo que o cidadão tenha, conscientemente, a noção das exigências ambientais (como o ruído, a poluição atmosférica, o processo da reciclagem, etc.), estas raramente são concretizadas na prática. Reflexo disso mesmo é a pequena percentagem de reciclagem de lixo produzido pelos portugueses. Portugal é o pais dos 15 da EU que menos recicla (apenas 3% do total do lixo produzido – fonte: British Institute for Public Policy Research).
Todos temos genericamente a noção do levado consumo de combustível; das energias alternativas; do custo energético; do ozono; do degelo; dos lixos nas florestas; da importância da reciclagem e da separação de resíduos; do consumo de água; etc.
Mas a realidade cultural e social aliada à existência de um Portugal profundamente enraizado em vivências ancestrais, leva a que exista um longo caminho a percorrer entre a consciencialização e a prática de acções ambientais.
Mesmo em termos políticos e de gestão governamental, a questão ambiental é sempre encarada como um “filho de um deus menor”.
Mais do que uma prioridade ou um objectivo o ambiente é, normalmente, apenas uma consequência.
Só é tida como prioridade quando a sua dimensão e impacto carecem de medidas urgentes e posicionamentos extremos, como o caso de Souselas e dos recentes despejos a céu aberto de lamas e detritos em Canelas – Estarreja.
Só quando nos “toca à porta” e incomoda o nosso bem-estar ou altera a normalidade do dia-a-dia é que nos confrontamos directamente com essa realidade.
A responsabilização por essa realidade é, levianamente, transposta para o progresso e o desenvolvimento.
Como se esta evolução social, cultural e histórica das nossas vidas fosse totalmente oposta e incompatível com a necessidade que temos de uma qualidade de vida mais acentuada.
E este aspecto é o mais descurado das nossas vidas, das nossas exigências políticas.
Somos pouco preocupados com a nossa saúde (individual ou pública) e o nosso bem-estar. Somos muito pouco cuidados e preventivos.
Exemplo disso, à nossa porta, é o Parque da Cidade – Parque D. Pedro.
Ouve-se um zum-zum da eventualidade de se criar mais um jardim público em Aveiro.
Não discuto, pelos princípios já referidos, de que espaços verdes e lúdicos, que contribuam para o aumento da qualidade de vida da cidade, são muito importantes.
O que se pode colocar em causa é a sustentabilidade e o aproveitamento das potencialidades do “Parque”.
Quem, como eu, viveu durante metade da sua vida, paredes-meias com um espaço que lhe deu muitas brincadeiras, muitas horas, hoje olha para um espaço triste, pobre e quase que sem vida.
Sem macacos, sem pássaros, sem o percurso de manutenção em condições de utilização, como muitas horas de auto-treino proporcionou, sem o fotógrafo “a la minute”, sem os jogos no ringue, os barcos e as gaivotas no lago.
As bicas e as fontes, que tanta sede “mataram” e que agora permanecem secas ou impróprias para consumo.
Uma casa de chá ao abandono, com tantas potencialidades para permitir dar vida ao “Jardim”.
Um enquadramento mal conseguido com a continuidade para uma Baixa de Sto. António igualmente mal aproveitada.
Esta é uma qualidade de vida que, teimosamente, vai passando ao lado da cidade, mesmo que “vivendo” bem no seu centro.
Esta é uma consciência ambiental que os aveirenses teimosamente vão rejeitando.
E enquanto me vou preparando para responder a estes 2 dias de ausência...
Ambiente, publicado na edição de hoje (31.08.2006) do Diário de Aveiro.
Post-its e Retratos
Ambientalismos
As questões ambientais são, para a maioria dos portugueses, questões de somenos importância.
São temas normalmente associados a contexto políticos ou a grupos mais ou menos partidarizados, com realidades específicas.
Mesmo que o cidadão tenha, conscientemente, a noção das exigências ambientais (como o ruído, a poluição atmosférica, o processo da reciclagem, etc.), estas raramente são concretizadas na prática. Reflexo disso mesmo é a pequena percentagem de reciclagem de lixo produzido pelos portugueses. Portugal é o pais dos 15 da EU que menos recicla (apenas 3% do total do lixo produzido – fonte: British Institute for Public Policy Research).
Todos temos genericamente a noção do levado consumo de combustível; das energias alternativas; do custo energético; do ozono; do degelo; dos lixos nas florestas; da importância da reciclagem e da separação de resíduos; do consumo de água; etc.
Mas a realidade cultural e social aliada à existência de um Portugal profundamente enraizado em vivências ancestrais, leva a que exista um longo caminho a percorrer entre a consciencialização e a prática de acções ambientais.
Mesmo em termos políticos e de gestão governamental, a questão ambiental é sempre encarada como um “filho de um deus menor”.
Mais do que uma prioridade ou um objectivo o ambiente é, normalmente, apenas uma consequência.
Só é tida como prioridade quando a sua dimensão e impacto carecem de medidas urgentes e posicionamentos extremos, como o caso de Souselas e dos recentes despejos a céu aberto de lamas e detritos em Canelas – Estarreja.
Só quando nos “toca à porta” e incomoda o nosso bem-estar ou altera a normalidade do dia-a-dia é que nos confrontamos directamente com essa realidade.
A responsabilização por essa realidade é, levianamente, transposta para o progresso e o desenvolvimento.
Como se esta evolução social, cultural e histórica das nossas vidas fosse totalmente oposta e incompatível com a necessidade que temos de uma qualidade de vida mais acentuada.
E este aspecto é o mais descurado das nossas vidas, das nossas exigências políticas.
Somos pouco preocupados com a nossa saúde (individual ou pública) e o nosso bem-estar. Somos muito pouco cuidados e preventivos.
Exemplo disso, à nossa porta, é o Parque da Cidade – Parque D. Pedro.
Ouve-se um zum-zum da eventualidade de se criar mais um jardim público em Aveiro.
Não discuto, pelos princípios já referidos, de que espaços verdes e lúdicos, que contribuam para o aumento da qualidade de vida da cidade, são muito importantes.
O que se pode colocar em causa é a sustentabilidade e o aproveitamento das potencialidades do “Parque”.
Quem, como eu, viveu durante metade da sua vida, paredes-meias com um espaço que lhe deu muitas brincadeiras, muitas horas, hoje olha para um espaço triste, pobre e quase que sem vida.
Sem macacos, sem pássaros, sem o percurso de manutenção em condições de utilização, como muitas horas de auto-treino proporcionou, sem o fotógrafo “a la minute”, sem os jogos no ringue, os barcos e as gaivotas no lago.
As bicas e as fontes, que tanta sede “mataram” e que agora permanecem secas ou impróprias para consumo.
Uma casa de chá ao abandono, com tantas potencialidades para permitir dar vida ao “Jardim”.
Um enquadramento mal conseguido com a continuidade para uma Baixa de Sto. António igualmente mal aproveitada.
Esta é uma qualidade de vida que, teimosamente, vai passando ao lado da cidade, mesmo que “vivendo” bem no seu centro.
Esta é uma consciência ambiental que os aveirenses teimosamente vão rejeitando.
2 comentários:
M. de La Palisse não teria dito melhor Caro Miguel. Para nosso descontentamento, as questões ambientais são em Portugal, armas de arremesso político ou, áreas de negócio nas quais se faz bastante dinheiro. Para além disso, questões que não merecem cinco minutos de telenovela.
Curioso e verificado neste caso das lamas de Canelas, que de entre as entidades alertadas, tenha sido a Quercus a única que não deu qualquer resposta.
Vamos vegetando por entre os lixos que nos entram casa dentro.
Cpts.
Pois é Miguel.O País é só lixo e a nossa Cidade está a acompanhá-lo na perfeição.Mas infelizmente não é só este tipo de lixo que nos inunda, outros lixos como o AC disse estão a embrutecer os que não tem cuidado de se preservar ou os que por incapacidade, não são capazes de se defender.
Bom artigo e obrigado por me teres recordado pedaços agradáveis da minha juventude.É caso para dizer,
Ai Que saúdades...AI!
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