“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

09 janeiro 2012

Acreditar... em razões fortes.

Publicado na edição de ontem, 8.01.2012, do Diário de Aveiro.

Entre a Proa e a Ré
Acreditar... em razões fortes.


Há precisamente uma semana o “mundo” celebrava mais uma passagem de ano, a ‘segunda milésia décima segunda’ se considerarmos a calendarização da era cristã.
Nunca fui dado a muitas festividades de passagens de ano ou a carnavais, por exemplo... quando quero comemorar será por motivos que, de facto, me alegrem ou que o justifiquem.
É que nunca percebi muito bem a lógica de comemorar isto de “passar o ano”. Se o Ano anterior foi bom vamo-nos despedir em festa de uma coisa boa?! Se o Ano foi mau quais os motivos para tanto festejo?! Que certezas temos de que o Ano Novo será melhor?! Aliás, face às expectativas e face ao que já sabemos e conhecemos vamos celebrar a entrada num ciclo pior do que o que está?! Não faz sentido...
E de facto não parece haver muitos motivos para comemorações, pelo menos as que dizem respeito ao colectivo. Cresce o pessimismo na sociedade portuguesa face à realidade que vivemos, ao ponto de haver quem afirme que 2012 é um ano a rejeitar ou que ninguém quer.
Não querendo ser mais pessimista do que a factualidade da realidade, a verdade é que é muito difícil o alheamento ou a indiferença perante essa mesma realidade: aumento do custo de vida por força do aumento real dos preços (desde os bens de consumo essenciais, aos transportes, à energia, etc.) ou, indirectamente, pelo aumento generalizado da taxa de IVA no consumo.
Só a título de exemplo, em 2012 aumentam as taxas moderadoras nos Centros de Saúde e nos Hospitais, bem como o agravamento de outros actos médicos e a eliminação ou redução de isenções; vários produtos de consumo alimentar (ou similar) passaram a ser taxados à taxa máxima de IVA (23%); uma facturação média de electricidade na ordem dos 50 euros, para os consumidores domésticos, terá um aumento de cerca de dois euros, aos quais acrescerá aumento do IVA de 6% para 23% que já vigora desde Outubro de 2011; os transportes sofrerão novo aumento; comunicar também sairá mais caro, em média, cerca de 3%; e comer “fora”, mesmo que por necessidade, será 10% mais caro fruto do aumento da taxa do IVA de 13 para 23%. Para os funcionários públicos, para além da já anunciada perda, nos próximos dois anos, dos décimo segundo e décimo terceiro meses, 2012 será um ano projectado para a perda de cerca de 5% do poder real de compra. Isto, entre muitas outras realidades.
Mas há outros factores que são preocupantes… nomeadamente dois mais relevantes: a crescente preocupação com a segurança e a instabilidade/conflitualidade social e o desemprego que esta semana atingiu o máximo histórico ao ultrapassar a barreira dos 13% e fixar-se nos 13,2%. A par como uma economia que não encontra factores de desenvolvimento (sejam eles resultado do mercado ou de medidas estruturais promovidas pelo Governo), as crescentes desigualdades sociais, a necessidade de eliminação de muitos dos apoios sociais (subsídio de desemprego, deduções fiscais em sede de IRS, perda do poder de compra, aumento da tributação) e o aumento do número de desempregados, são os aspectos mais preocupantes e que devem merecer um cuidado especial e renovada atenção neste ano que agora se inicia.
Um cuidado que deverá ser responsabilidade de todos e não apenas do (sempre) Estado. E aqui, cabe o conceito de que Estado somos todos nós. Enquanto a sociedade portuguesa, as famílias, os cidadãos não perceberem que o esforço tem de ser colectivo (mesmo que repartido em função das capacidades) Portugal terá mais dificuldades em superar este difícil desafio e mais sacrifícios serão exigidos (provavelmente sempre aos mesmos) agravando as dificuldades de subsistência e sobrevivência.
Caberá a todos nós uma maior responsabilidade social, um maior sentido solidário, uma maior atenção aos que mais precisam, às instituições que desenvolvem o seu papel de acção social respondendo ao aumento significativo do pedido de ajuda de muitas famílias e cidadãos.
A dedicação à causa comum, à coisa pública, à urbanidade, à comunidade envolvente, aos vizinhos, aos amigos, aos que desconhecemos mas que, garantidamente, precisam de ajuda, vem exigir, a cada um de nós, maior disponibilidade, vem relevar a importância do voluntariado e da solidariedade como não o foi noutros tempos passados.
Este novo ano vai exigir sacrifícios, mas também muita coragem para enfrentar os desafios, muita criatividade e capacidade de encararmos o dia-a-dia com a esperança que daqui a cerca de dois ou três anos a “luz volte a brilhar ao fundo do túnel”.

Uma boa semana e um, dentro do possível, Bom Ano de 2012!

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