Publicado na edição de hoje, 17 de Julho, do Diário de Aveiro.
Cambar a Estibordo...
A semana em resumo…
1. Economia desastrosa
Sejamos objectivos porque entendo que a economia deve ser, acima de tudo, uma ciência com objectividade. As contas são simples.
Se uma família gasta mais que os rendimentos que, mensalmente, aufere tem duas alternativas: ou vende património (que facilmente esgota) ou contrai empréstimos que com os encargos dos respectivos juros não resolve o endividamento que se vai acumulando. E restam dúvidas em relação à fundamentação ou sustentação dos números divulgados em relação à redução dos hábitos de consumo dos portugueses. Não pelos números em si, como é óbvio. Mas sim porque entendo que a redução dos gastos não se deve a uma cultura própria de retenção, de contrariar um despesismo natural ou de uma exemplar gestão do orçamento familiar. Deve-se ao facto de os portugueses terem menos dinheiro para gastar. Ou seja, por obrigação e necessidade e não por precaução ou cultura financeira.
O que só vem justificar os preocupantes dados recentes do INE onde se destaque que 25% da população portuguesa (um em cada quatro portugueses) corre o risco de viver abaixo do limiar da pobreza.
A solução mais óbvia e correcta seria, claramente, sempre a redução da despesa e o limite máximo dos encargos possíveis face às receitas.
E infelizmente este não é um problema apenas ao nível familiar ou individual; é um problema de muitas empresas e entidades (públicas ou privadas) e, nomeadamente, do Estado. Durante os últimos anos o Estado português gastou mais que as receitas “amealhadas”, sem qualquer preocupação quanto às despesas e à sua orçamentação, bem como, iludido pelo efeito “moeda única e mercado europeu”, uma inexplicável indiferença para com a conjuntura externa, não se estruturando e precavendo devidamente, pelo menos para minimizar os seus efeitos.
É esta a factura que estamos e vamos, nos próximos anos, pagar bem caro, seja ao nível familiar, das autarquias, das empresas, do Estado (e aqui, sim, somos todos nós).
2. Disputa interna
A semana ficou também claramente marcada pela disputa política da liderança do Partido Socialista.
António José Seguro tenta descolar da sua candidatura a imagem de um candidato da estrutura partidária mas Assis afigura-se mais uma evidente opção das bases.
Mas há um dado comum aos dois candidatos. Face à dificuldade em “apagar” e fazer esquecer os últimos dois anos de governação socialista (pelo menos) e os resultados das últimas eleições legislativas, o único discurso que se ouve numa discussão interna para a liderança de um partido não são as estratégias, nem as linhas orientadoras. São as críticas ao PSD e ao Governo recentemente eleito. Muito pouco e desajustado.
3. Aprende-se muito pouco, sabe-se ainda menos
Este podia ser (e provavelmente é) um slogan perfeito para descrever a imagem do ensino básico, secundário e superior, em Portugal.
Focando-nos no ensino básico e secundário, os exames nacionais de Português e Matemática de 2011 são dos piores: mais de metade dos alunos chumbaram a Matemática (cerca de 59%) e, no que respeita à língua portuguesa, o valor de reprovações aproxima-se do valor mediano (cerca de 44% - pior média desde 2006).
Daí que seja preocupante que a discussão em torno da educação neste país se limite à classificação dos docentes ou ao encerramento das escolas. Mesmo que já anunciadas algumas medidas para o próximo ano lectivo, como sejam o reforço da carga horária daquelas duas disciplinas. Mas será suficiente o aumento do número de horas?!
Há, neste âmbito, muitas questões que se afiguram relevantes e que merecem alguma atenção governativa: os modelos de gestão escolar; o papel do docente; os planos curriculares e pedagógicos; o estatuto do aluno; a valorização da exigência e do mérito em detrimento de princípios e valores estatístico, entre outros.
Muito trabalho se advinha para um Ministro que mereceu os melhores elogios aquando da sua escolha… a ver vamos!
4. Jornalismo, jornalistas e “jornaleiros”
Ou como me disse uma vez, numa troca de opiniões, a Estrela Serrano: “jornalismo da bitaitada”.
E a semana que passou é marcada, de forma oposta, por duas polémicas jornalísticas. Uma por uma clara e evidente deturpação do papel do jornalismo e da Comunicação Social, num claro desrespeito pela ética e deontologia, pelo rigor e pela verdade, e num claro atentado aos mais elementares direitos fundamentais dos cidadãos. Aliás, chamar ao caso “News of the World” jornalismo é o mesmo que dizer que o lixo é saudável, para além de uma óbvia ofensa ao próprio jornalismo e a todos os profissionais (e felizmente há-os) que, diariamente, valorizam este importante e fundamental pilar de qualquer sociedade e estado de direito. Mesmo que muitos teimem na infeliz denominação de jornalismo sensacionalista. Isto não existe… ou há jornalismo ou há sensacionalismo.
Por outro lado, finalmente, a justiça lembrou-se de valorizar a comunicação social e, nomeadamente, os jornalistas. Esta semana ficamos a saber que o deputado socialista Ricardo Rodrigues, que a 30 de Abril de 2010 (infelizmente já há mais de um ano) tirou os dois gravadores aos jornalistas da “Sábado”, foi pronunciado e vai ser julgado por atentado à liberdade de imprensa (um direito constitucional).
Num país em que a imagem da imprensa é débil e que o papel do jornalista é visto como algo perverso e disfuncional, esta tem de ser uma excelente notícia para o meio e para a sociedade, valorizando o papel socializador da Comunicação Social e dos Jornalistas.
Boa Semana…
A semana em resumo…
1. Economia desastrosa
Sejamos objectivos porque entendo que a economia deve ser, acima de tudo, uma ciência com objectividade. As contas são simples.
Se uma família gasta mais que os rendimentos que, mensalmente, aufere tem duas alternativas: ou vende património (que facilmente esgota) ou contrai empréstimos que com os encargos dos respectivos juros não resolve o endividamento que se vai acumulando. E restam dúvidas em relação à fundamentação ou sustentação dos números divulgados em relação à redução dos hábitos de consumo dos portugueses. Não pelos números em si, como é óbvio. Mas sim porque entendo que a redução dos gastos não se deve a uma cultura própria de retenção, de contrariar um despesismo natural ou de uma exemplar gestão do orçamento familiar. Deve-se ao facto de os portugueses terem menos dinheiro para gastar. Ou seja, por obrigação e necessidade e não por precaução ou cultura financeira.
O que só vem justificar os preocupantes dados recentes do INE onde se destaque que 25% da população portuguesa (um em cada quatro portugueses) corre o risco de viver abaixo do limiar da pobreza.
A solução mais óbvia e correcta seria, claramente, sempre a redução da despesa e o limite máximo dos encargos possíveis face às receitas.
E infelizmente este não é um problema apenas ao nível familiar ou individual; é um problema de muitas empresas e entidades (públicas ou privadas) e, nomeadamente, do Estado. Durante os últimos anos o Estado português gastou mais que as receitas “amealhadas”, sem qualquer preocupação quanto às despesas e à sua orçamentação, bem como, iludido pelo efeito “moeda única e mercado europeu”, uma inexplicável indiferença para com a conjuntura externa, não se estruturando e precavendo devidamente, pelo menos para minimizar os seus efeitos.
É esta a factura que estamos e vamos, nos próximos anos, pagar bem caro, seja ao nível familiar, das autarquias, das empresas, do Estado (e aqui, sim, somos todos nós).
2. Disputa interna
A semana ficou também claramente marcada pela disputa política da liderança do Partido Socialista.
António José Seguro tenta descolar da sua candidatura a imagem de um candidato da estrutura partidária mas Assis afigura-se mais uma evidente opção das bases.
Mas há um dado comum aos dois candidatos. Face à dificuldade em “apagar” e fazer esquecer os últimos dois anos de governação socialista (pelo menos) e os resultados das últimas eleições legislativas, o único discurso que se ouve numa discussão interna para a liderança de um partido não são as estratégias, nem as linhas orientadoras. São as críticas ao PSD e ao Governo recentemente eleito. Muito pouco e desajustado.
3. Aprende-se muito pouco, sabe-se ainda menos
Este podia ser (e provavelmente é) um slogan perfeito para descrever a imagem do ensino básico, secundário e superior, em Portugal.
Focando-nos no ensino básico e secundário, os exames nacionais de Português e Matemática de 2011 são dos piores: mais de metade dos alunos chumbaram a Matemática (cerca de 59%) e, no que respeita à língua portuguesa, o valor de reprovações aproxima-se do valor mediano (cerca de 44% - pior média desde 2006).
Daí que seja preocupante que a discussão em torno da educação neste país se limite à classificação dos docentes ou ao encerramento das escolas. Mesmo que já anunciadas algumas medidas para o próximo ano lectivo, como sejam o reforço da carga horária daquelas duas disciplinas. Mas será suficiente o aumento do número de horas?!
Há, neste âmbito, muitas questões que se afiguram relevantes e que merecem alguma atenção governativa: os modelos de gestão escolar; o papel do docente; os planos curriculares e pedagógicos; o estatuto do aluno; a valorização da exigência e do mérito em detrimento de princípios e valores estatístico, entre outros.
Muito trabalho se advinha para um Ministro que mereceu os melhores elogios aquando da sua escolha… a ver vamos!
4. Jornalismo, jornalistas e “jornaleiros”
Ou como me disse uma vez, numa troca de opiniões, a Estrela Serrano: “jornalismo da bitaitada”.
E a semana que passou é marcada, de forma oposta, por duas polémicas jornalísticas. Uma por uma clara e evidente deturpação do papel do jornalismo e da Comunicação Social, num claro desrespeito pela ética e deontologia, pelo rigor e pela verdade, e num claro atentado aos mais elementares direitos fundamentais dos cidadãos. Aliás, chamar ao caso “News of the World” jornalismo é o mesmo que dizer que o lixo é saudável, para além de uma óbvia ofensa ao próprio jornalismo e a todos os profissionais (e felizmente há-os) que, diariamente, valorizam este importante e fundamental pilar de qualquer sociedade e estado de direito. Mesmo que muitos teimem na infeliz denominação de jornalismo sensacionalista. Isto não existe… ou há jornalismo ou há sensacionalismo.
Por outro lado, finalmente, a justiça lembrou-se de valorizar a comunicação social e, nomeadamente, os jornalistas. Esta semana ficamos a saber que o deputado socialista Ricardo Rodrigues, que a 30 de Abril de 2010 (infelizmente já há mais de um ano) tirou os dois gravadores aos jornalistas da “Sábado”, foi pronunciado e vai ser julgado por atentado à liberdade de imprensa (um direito constitucional).
Num país em que a imagem da imprensa é débil e que o papel do jornalista é visto como algo perverso e disfuncional, esta tem de ser uma excelente notícia para o meio e para a sociedade, valorizando o papel socializador da Comunicação Social e dos Jornalistas.
Boa Semana…
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