Publicado na edição de hoje, dia 28 de Abril, do Diário de Aveiro.
Preia-Mar
Por um Mar já antes navegado!
Portugal é, de facto, um caso curioso para qualquer estudo antropológico, social, económico ou político. E entenda-se curioso no sentido de unicidade, raridade, particularidade.
Muito se tem falado, e se falou no âmbito das comemorações do 25 de Abril de 74, sobre unidade nacional, diálogo, tolerância. Mas, igualmente, em saída da crise, no estado da nação, nas necessárias soluções e empenhamento de todos.
Mas como conseguir juntar partidos, convicções, personalidades distintas, se o próprio país esquece a sua identidade, a sua cultura, o seu património, seja o histórico ou o natural?
Portugal vive uma situação de clara incapacidade e insustentabilidade financeira, seja no sector Estado, seja na sua estrutura privada: falta de recursos, de investimentos, de receitas, de emprego. No fundo… falta de dinheiro! Mas também uma inexplicável falta de visão e de estratégia.
Andamos a agitar um país irreal, com bandeiras de reformas administrativas, de simplexs, de planos tecnológicos, de “Magalhães”, de Novas Oportunidades.
Mas esquecemos e menosprezamos o que temos de mais valioso. O nosso maior património natural: o Mar! Portugal tem uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas (cerca de 1 725 000 km², valores “arredondados” - só na zona do arquipélago dos Açores são cerca de 950 000 km², o que significa uma posição privilegiada e estratégica no Oceano Atlântico, em diversos níveis, económico, comercial, geopolítico). E que proveito temos desta realidade? Que benefícios económicos e de desenvolvimento lucramos?
O Mar representa um enorme potencial económico que serviria para um inquestionável aumento da sustentabilidade e do desenvolvimento do país, tem uma importância acrescida no âmbito da ciência e da investigação, da geopolítica e da geoestratégica militar, do turismo, da criação de emprego, da preservação da cultura, história e identidade lusa. Não deixando de referir a importância ambiental que o mesmo comporta. E o que o país fez foi menosprezar este valor indiscutível.
O Mar, tão importante no desenrolar histórico de Portugal (lembre-mos os descobrimentos), foi, ao longo das últimas décadas, sendo desvalorizado, perdendo relevância nas prioridades nacionais, e nem mesmo a agenda política mediatizada em épocas eleitoralistas defende o maior património que possuímos.
A frota pesqueira foi trocada, anos a fio, por promessas e subsídios destruturantes para o sector.
A quota pesqueira foi sendo “engolida” por uma maior capacidade de pressão de países concorrentes no seio das instituições internacionais.
O turismo ligado ao Mar, em Portugal, confina-se ao Algarve, ao nível do investimento e das políticas governativas para o sector, como se o Mar apenas se destinasse ao mergulho após 2 horas de “torrar ao sol”. O Mar potencia outro tipo de lazer que pode promover o turismo ao longo de toda a costa continental, bem como as ilhas (a par com o sector das pescas e da ciência do mar o turismo ligado ao Mar poderia ser um claro e evidente factor de desenvolvimento dos Açores, a título de exemplo): desportos náuticos, pesca desportiva, pesca submarina, actividades ambientais (como por exemplo a zona da foz do Sado).
O Mar traz novas realidades tecnológicas, novos desenvolvimentos científicos (oceanografia, biologia marinha, recursos naturais e energéticos), novos desafios ambientais.
O Mar é o maior “trunfo” para a crise e a realidade que Portugal vive nos dias de hoje, potencializando o desenvolvimento nacional dada a sua importante escala económica mundial.
Encará-lo como um valor de modernidade, como uma oportunidade de futuro, como um património único, para além da tradição, da história e da identidade.
Para Portugal, o Mar não pode significar, tão somente, passado. O Mar tem de ser encarado como futuro. Quem sabe… o único futuro que nos resta.
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