“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

02 março 2011

Urbanidades...

Publicado na edição de hoje, 2 de Março, do Diário de Aveiro.

Preia-Mar
Urbanidades…


A questão do urbanismo tem marcado a agenda local em Aveiro, seja do ponto de vista político, seja ao nível da gestão autárquica ou, até mesmo, no que respeita às vertentes social e económica.
O projecto do Parque da Sustentabilidade, a reabilitação urbana do Bairro do Alboi, a Ponte Pedonal, o retomar do estudo e da reabilitação da Avenida, a zona envolvente ao Estádio Municipal, são assuntos que movem e confrontam emoções, sensibilidades, convicções.
Mais recentemente, foi aprovada uma correcção/alteração ao Plano de Pormenor do Centro de Aveiro – PUCA. Para os menos familiarizados, trata-se da zona envolvente ao Cais da Fonte Nova. O plano tem já vários anos, o tempo e o desenvolvimento urbano trouxeram outras realidades e circunstâncias, bem como o facto de existir uma normal e legítima preocupação dos proprietários na valorização dos investimentos realizados.
Entre o debate direccionado para o confronto entre a tese do edificado em altura (que reduz a utilização do solo permitindo outros usos) e a construção em extensão (que aumenta o uso do solo mas reduz o impacto visual), entendo ser mais relevante outro tipo de reflexão: a necessidade de tanta área de construção, seja em altura, seja em extensão, na cidade de Aveiro. Face à procura, face à conjuntura, face a realidades sociais, económicas, culturais subjacentes ao urbanismo.
E não é uma questão de gestão autárquica (ou apenas uma questão de gestão autárquico) é uma questão de estruturação das comunidades e das sociedades. “Betão” não é sinónimo de desenvolvimento.
Escasseiam, cada vez mais, os espaços de urbanidade, de lazer, de cultura, de socialização nas cidades. Estas ganharam novas dimensões. Não só em termos demográficos, como nas suas identidades culturais, sociais e políticas.
O sentido de comunidade, de bairrismo (no seu sentido puro), os processos de socialização, as influências externas que pressionam os aspectos culturais e históricos (identidades) das localidades, alteraram profundamente o conceito de cidade, comunidade e urbanismo (na sua vertente social, arquitectónica, ordenamento e planeamento e ambiental).
As cidades cresceram a um ritmo elevado, em muitos casos, acima do previsto, do planeado e da capacidade de resposta.
Cresceram em extensão, demografia, em alterações de valores, na insegurança, na dificuldade de mobilidade dos cidadãos (trânsito, estacionamento, etc.).
As pessoas tornam-se mais distantes, menos abertas, menos solidárias e menos participativas. Tornam-se mais indiferentes.
Hoje, as cidades têm falta de segurança, de espaço, de liberdade, um menor aproveitamento do “espaço público”.
Não se joga à bola na rua, não se passeia e brinca sozinho (com os amigos) na rua, poucas crianças vão ao mini-mercado do bairro às compras (já nem os há), muito poucos andam de bicicleta na rua (as crianças têm dificuldade em aprender a andar de bicicleta, em parte, por falta de espaços).
Em suma… as cidades cresceram muito em altura e em extensão, mas pouco em sentido verdadeiramente comunitário e social.

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