“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

20 março 2011

Há aveirenses à rasca!

Publicado na edição de hoje, 20 de Março, do Diário de Aveiro.

Cambar a Estibordo...
Há aveirenses à rasca!


É apenas o uso do cliché da moda. Independentemente do facto de a realidade deixar muitos de nós, verdadeiramente, “à rasca”, no sentido que serviu de sustentação e fundamentação à manifestação de sábado passado.
No entanto, o título usado na crónica de hoje não é, de todo, descabido. E não o é porque traduz uma realidade que começa a preocupar a comunidade aveirense: a segurança.
Por formação, convicção e consciência sou clara e totalmente à abolição das fronteiras (mesmo para além do espaço comunitário) e à livre circulação das pessoas. Embora tenha algumas dúvidas em relação à livre circulação de bens!
Entendo que todo o ser humano tem o direito de procurar, em qualquer lugar ou ocasião, uma melhor qualidade de vida, melhor oportunidade, mais futuro, melhor dignidade.
Mas há, igualmente, um outro lado da realidade. Não menos importante e não menos relevante.
O respeito pelo outro, pela convivência social, pela diversidade cultural, pelo pluralismo e pelas regras da convivência.
Querer impor uma presença pela força, pela coacção, pela violência ou pelo medo, é subverter os princípios do respeito pela liberdade e existência dos outros.
Aveiro é e sempre foi (e espero que continue a ser) uma terra de liberdades, de dignidade, de respeito, de democracia e de acolhimento.
Uma cidade feita de sacrifícios mas também sustentada nas virtudes dos marnotos, das salineiras, dos pescadores, bem como dos ceramistas e dos oleiros.
Uma cidade onde a luz, a ria, o vento e o sal a transformam num dos mais interessantes pontos de passagem para quem quer descobrir Portugal.
E, acima de tudo, uma cidade segura. Ou melhor… relativamente segura.
O aumento desmedido de construção ou de circulação viária veio trazer um crescimento atípico, irregular e imprevisto a uma cidade (e concelho) que descuidou outros factores como os espaços de lazer, cultura, desporto, acessibilidades, mobilidade, comércio, entre outros. Aos quais podemos acrescentar aspectos sociais e a segurança.
São louváveis as acções de solidariedade social que instituições como as “Florinhas do Vouga” vão desenvolvendo em Aveiro em favor dos sem-abrigo, substituindo a responsabilidade social que cabe igualmente ao Estado. Face à conjuntura actual, é notório o crescimento de desempregados, do desespero pela incapacidade de obtenção de rendimentos para combater a fome ou as necessidades mais básicas da sobrevivência humana.
E se a situação é, por si só, madrasta para uma grande parte dos portugueses ela não o é menos para muitos dos estrangeiros (seja qual for a nacionalidade) que tentam a sua “sorte” em terras lusas.
Mas esta realidade seria apenas o risco da vida, se, em alguns casos tal não se tornasse num problema social (mesmo que ainda pouco expressivos): os “arrumadores de carros”.
Para alguns o instinto de sobrevivência não é mais do que encarar, deste modo, a realidade e a infelicidade do insucesso na vida, sem que isso signifique o desrespeito pelo outro.
Para outros, a necessidade de sobreviver é a indiferença à procura de alternativas, a passividade e o conformismo, e, infelizmente, o desrespeito pela liberdade do outro e a ausência de comportamentos de sociabilidade.
Nestes casos, são conhecidos os crescentes fenómenos de violência, de roubo, de agressão, de imposição do medo. No Rossio, na Forca, junto ao Hospital, junto ao Oita.
E se algum medo e receio se instalaram na comunidade aveirense, há, igualmente, um desenvolvimento de alguma insatisfação, inquietude e contestação.
Porque se afigura, ao olhar simples mas directo dos cidadãos, uma grande dificuldade de perceberam a insuficiência de resposta por parte das instituições – autarquia, segurança social, instituto de emprego, serviço estrangeiros e fronteiras, psp, polícia municipal – para a resolução de um problema que tende, dia após dia, a avolumar-se e a tornar-se incontrolável e insolúvel.

Boa Semana…

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