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09 dezembro 2010

Solidariedade em tempos difíceis!

Publicado na edição de hoje, 9.12.2010, do Diário de Aveiro.

Cheira a Maresia
Solidariedade em tempos difíceis!


O Orçamento do Estado para 2011 está aprovado, quer na generalidade, quer na especialidade.
A este seguem-se, por este país fora, as mais variadas engenharias financeiras, espelhadas nos esforços de muitas Juntas de Freguesia e Autarquias para conseguirem encontrar solução económica face aos encargos que têm.
Para uns orçamentos circunstanciais face à realidade financeira do país, para outros orçamentos que espelham tempos de crise, para a maioria sacrifícios injustos e difíceis de suportar.
A melhor das perspectivas aponta para a dificuldade de execução orçamental, do aumento da despesa, da entrada do FMI e do recurso ao Fundo de Emergência Europeu, do aumento do desemprego, da recessão económica, e do aumento da instabilidade social e da pobreza.
No entanto, mais grave do que a pobreza são as situações de fome… da real (a que se mostra), da que, por vergonha, se esconde. Aquela fome perante a qual muitas das Instituições de Solidariedade Social deste país tentam combater e contrariar, assumindo, por conta própria, a responsabilidade social (solidariedade) que o Estado abdicou de cumprir (e tendo ainda o desplante de penalizar e dificultar).
E se a maioria das pessoas pensa que esta realidade é uma questão de demagogia ou de discurso alarmista, basta ouvir o apelo das diversas instituições (IPSS, Misericórdia, Cáritas, Banco Alimentar, …) que não têm capacidade para responder a todas as solicitações, cada vez em maior número.
E neste número é preocupante a quantidade de crianças, mais do que no limiar da pobreza, em clara situação de fome.
O último relatório da ONU (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento - CNUCED) revela que o número de pessoas em extrema pobreza aumentou três milhões por ano na última década. E embora estes valores revelados digam respeito aos 49 países mais pobres do mundo, na sua maioria africanos (Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe), para Portugal está reservada outra preocupante realidade: Portugal é o país da OCDE com a maior taxa de pobreza infantil.
Num relatório divulgado há cinco dias pelo Centro de Estudos Innocenti, da UNICEF, Portugal é referenciado ainda como um dos piores países ao nível da promoção da igualdade do bem-estar das crianças.
Mas o mais preocupante é que os dados recolhidos para a elaboração deste relatório (saúde, hábitos de alimentação saudável e actividade física) são anteriores à crise financeira e dos mercados de 2008, sendo certo que é sabido que a realidade da sociedade, das economias, das famílias e dos cidadãos se alterou significativamente (para pior) com a recessão da economia, o desemprego, o endividamento dos estados e das famílias, com o aumento das situações de pobreza.
Refere o relatório, numa das suas conclusões e no item relacionado com a capacidade financeira do agregado familiar, que os países nórdicos são os que apresentam menos desigualdades. No oposto surgem a Grécia, Portugal e Espanha como os países com as maiores diferenças e desigualdades. Para além de Portugal ser o país com maior taxa de pobreza infantil.
Longos e difíceis dias se avizinham… onde o apelo ao espírito solidário e sentido de comunidade é relevante e imperioso. A bem de todos.

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