“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

26 dezembro 2010

Resumo da Semana - 26.12.2010

Publicado na edição de hoje, dia 26 de Dezembro, do Diário de Aveiro.

Cambar a Estibordo...
A semana (natalícia) em resumo.

Combate à pobreza!
Face às circunstâncias económico-financeiras da sociedade, numa altura em que os recursos são insuficientes para fazerem face ao aumento das necessidades sociais de muitos cidadãos, há que inovar e encontrar novas formas de responder a uma crise que se agrava dia após dia.
Após a análise das diversas realidades europeias, o Observatório Europeu para os Sem-Abrigo concluiu que a continuação dos apoios temporários e pontuais, embora extremamente importantes numa fase inicial e transitória, apenas prolonga o problema e a situação, sendo inclusive razão para um aumento das despesas com os apoios sociais. Além disso, as pessoas necessitadas ficam “reféns” desses apoios (das redes de emergências, das instituições de solidariedade, entre outros) não alterando a situação do sem-abrigo.
O Observatório apela à necessidade de se encontrarem novas formas e novas políticas de apoio, adiantando, como exemplo sustentado, a importância para se encontrar primeiro uma alternativa “à rua”, concretamente com um lar, e depois a preocupação com os apoios (alimentação, saúde, emprego).
Esta proposta do Observatório Europeu está em consonância com a presidência belga da União Europeia que definiu o “combate “ à problemática dos sem-abrigo como uma prioridade comunitária.
Recorde-se que, segundo os dados mais recentes, são estimados cerca de oito mil sem-abrigo em Portugal.
Défice a quanto obrigas…
A expectativa é que será possível, no final deste ano, que o Governo consiga cumprir a meta anunciada de 7,3% para o défice.
Para bem de todos (cidadãos, instituições, empresas) bom seria que tal facto se verificasse.
Mas os números revelam simultaneamente outra face da realidade.
Apesar dos sacrifícios exigidos aos portugueses, fundamentados na necessidade de um esforço colectivo para salvar o país da bancarrota, a despesa do subsector do Estado cresceu acima dos 3%, contra os 2% (limite máximo) desejáveis.
Por outro lado, é bom relembrar (tal como aqui referi na passada quinta-feira) que para se atingir a meta dos 7,3% já em 2010, as receitas fiscais quadruplicaram, os apoios e benefícios sociais já diminuíram ou foram eliminados.
E se as previsões optimistas para 2010 apontam para valores do défice entre os 6,9% e os 7,1%, para a melhor das perspectivas (6,9%) importa referir que, se as medidas criam, nesta data, algum (bastante) desconforto e inquietação social, então, para que se atinja um valor abaixo dos 4,6% em 2011 (menos cerca de 2,5%), é importante que o país encontre formas de sustentabilidade e de riqueza, porque não serão os já anunciados cortes salariais e nas reformas, os aumentos de impostos, a diminuição dos apoios sociais e dos benefícios fiscais, o aumento dos preços dos bens essenciais, novas medidas e políticas laborais, que impedirão o Governo de “apertar” ainda mais o cinto e implementar novas medidas de austeridade.
Entre a realidade, o sonho e a sobrevivência!
Muitos portugueses ainda sonham com um mundo “cor-de-rosa”, com o viver acima da realidade e das posses, sem a consciência do futuro já imediato que se avizinha. E são muitos mesmo. Segundo o Banco de Portugal, nos meses de Setembro e Outubro deste ano, o crédito malparado aumentou cerca de 98 milhões de euros, e as famílias contraíram os mais diversos créditos aumentando o valor global em 147 milhões de euros.
E nem mesmo a tão badalada crise e as medidas de austeridade que irão ser impostas aos portugueses já em Janeiro de 2011 afastaram um Natal consumista. Segundo os dados da SIBS fornecidos à Agência Lusa, nos primeiros 21 dias deste mês de Dezembro (sem contar com o “par de meias” de última hora), os portugueses movimentaram (entre compras e levantamentos nas caixas de multibanco) quatro mil milhões de euros. Este valor representa, apesar da realidade, um aumento de cerca de 4% em relação ao ano de 2009.
E esta apatia e sensação de calma e, até, de indiferença em relação ao país real são preocupantes. Porque os cidadãos resolveram abster-se de assegurar o futuro, garantir a sustentabilidade social e familiar, no fundo, de garantir a sobrevivência face aos dados e factos conhecidos (Anuário Estatístico de Portugal do Instituto Nacional de Estatística referente a 2009 e divulgado no passado dia 23): os portugueses mais ricos ganham seis vezes mais que os portugueses mais pobres; o risco de pobreza em 2009 agravou-se em 36%; o Produto Interno Bruto – PIB diminuiu cerca de 2,6%; e o desemprego aumentou 2,8%, contrariando o que vinha a ser a tendência dos cinco anos antecedentes.
É importante que a sociedade crie consciência do que o amanhã a espera, porque as perspectivas apontam para anos difíceis, de muitos sacrifícios, de instabilidade social, do risco de aumento da pobreza e de situações de fome e exclusão.

Boa Semana… e continuação de Boas Festas!

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