“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

09 setembro 2010

Regresso à escola...

Publicado na edição de hoje, 09.09.2010, do Diário de Aveiro

Cheira a Maresia
Regresso à escola
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O cíclico regresso às actividades escolares marcado para estes dias (entre 8 e 13 de Setembro) assinala um dos momentos mais agitados da vida familiar e profissional de muitas famílias portuguesas.
Entre a azáfama da aquisição do material escolar, por entre os desejos das crianças e dos jovens muitas vezes incompatíveis com os orçamentos familiares, o angústia dos encargos com o material e livros didácticos (a título de exemplo, para o 5º ano de escolaridade ronda os 200 euros, com o preciosismo do IVA incluído), surgem igualmente as ansiedades, as emoções e as inquietações de voltar (ou iniciar) a entrar nas salas de aulas, ou de se sentarem nas carteiras frente a (ainda) muitos quadros pretos e poucos (infelizmente) interactivos.
A anteceder toda esta realidade está adjacente o regresso aos temas da educação: as reivindicações profissionais, os estigmas das colocações dos docentes no mapa educativo nacional, a qualidade do ensino, os estatutos do docente e do aluno, entre muitas outras, já que o sector ensino e educação são, por si só, fonte de consideráveis reflexões.
Acresce ainda a continuada preocupação do governo, não pela qualidade, pelo mérito, pelo saber e aprender, mas pela necessidade do cumprimento de objectivos meramente estatísticos. São sabidos e conhecidos os impactos e a organização das novas oportunidades que habilitam mas não qualificam. Como se tal realidade não bastasse, surge, neste novo ciclo escolar, a vontade governativa de terminar com o ensino recorrente, onde, na maioria dos casos, muitos cidadãos perspectivavam, com alguma qualidade e rigor, enriquecimento e valorização pessoais, edificando novos horizontes de vida.
Há, no entanto, uma questão que merece maior destaque, neste arranque do novo ano escolar/lectivo: o anunciado encerramento de 701 escolas do primeiro ciclo do ensino básico.
Para além do impacto que tem tal medida nas comunidades, no seu isolamento e desertificação, no contributo para o acentuar declaradas assimetrias que o país comporta actualmente, há a considerar os sacrifícios e a destabilização de hábitos e modos de vida das crianças e das respectivas famílias, que vêem os mais pequenos desenraizarem-se das suas culturas e comunidades ou passar mais tempo afastados dos pais, avós e dos seus seios familiares (porque saem mais cedo de casa para a escola e regressam mais tarde, fruto, por exemplo, do elevado número de quilómetros que têm de percorrer, na maioria dos casos).
Sendo discutíveis os aspectos sociais e pedagógicos da maioria dos encerramentos dos centros educativos, é clara a preocupação economicista da política da carta educativa nacional.
Por último, à revelia da gestão local das comunidades, das preocupações das famílias, das crianças e dos autarcas, importa referir que o Governo, através do seu Ministério da Educação, desresponsabiliza-se do seu dever social, enquanto estado de direito, ao transferir o ónus da medida aplicada para as autarquias, sem a preocupação de assegurar, na maioria dos casos, alternativas consistentes, qualidade de instalações (apesar do show-off político de algumas inaugurações), transportes escolares eficazes, e, com a agravante, de se demitir dos compromissos assumidos com os diversos municípios.
Mas no fim… “vamos para dentro que já deu o toque de entrada”!
Até ao Verão…

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