“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

13 março 2009

Portugal Eleitoral.

Publicado na Edição de hoje do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Portugal Eleitoral.

Há vida para além da crise.
O ano de 2009 não é apenas um ano de crise (ou de crises, para sermos mais precisos). É um ano marcado por três momentos (coincidentes ou não) eleitorais: eleições europeias, legislativas e autárquicas (sendo a ordem dos factores, mais ou menos, arbitrária).
Mas será que estes momentos altos da vida política nacional superarão, em termos de importância, a crise económica, a crise dos valores, a crise social (desemprego, endividamento familiar, insegurança, insatisfação social, etc.)?!
Vejamos…
Com a falta de outro tipo de argumentação (por ventura mais consistente e coerente), os vários sectores partidários vão-se desdobrando em posições distintas em relação à temática.
Uns aproveitam para fazer demagogia política, desvalorizando a importância de cada acto (ou pelo menos de dois deles: europeias e autárquicas), transformando-os num sinal de combate político contra o governo. Como se fosse essa a realidade em causa: para a Europa pouco importa quem governa Portugal, assim como na maioria dos Concelhos e Freguesias deste País, felizmente, se vai dando valor às pessoas e aos projectos, mais que às bandeiras partidárias.
Outros, concretamente o partido do governo, vão tentando fugir a esta confrontação, pressionando para que os actos eleitorais (autárquicas e legislativas) sejam coincidentes, diminuindo a argumentação da oposição e evitando o risco da penalização.
Enquanto isso, o cidadão vai-se afastando e desinteressando de processos que, cada vez mais, se vão tornando imagem de penosidade, irrelevância, perda de tempo e de racionalidade. Ou seja, o cidadão começa a revelar sinais de estar farto de "circos".
Começa a revelar sinais de estar farto da política, dos partidos, dos políticos e de governos. Porque a realidade que vive, no seu quotidiano, está, também ela, cada vez mais longínqua de demagogias e utopias.
O dinheiro não chega para o mês, o emprego tornou-se preocupantemente instável, a saúde doente, a justiça desigual e distante, o ensino deseducado, … .
E a política completamente deslocada das necessidades de cada um dos mortais e dos seus interesses. De tal forma, que, ciclicamente, a interrogação invade as mentes comuns: votar para quê?! E se a questão pode parecer um atentado à participação e intervenção públicas e ao dever cívico, ela não deixa de ilustrar o sentimento maioritário do real e profundo Portugal.
Se a política (entenda-se, partidos e políticos) são os primeiros a dar o (mau) exemplo, porquê exigir (uma vez mais) ao pobre comum dos cidadãos uma responsabilidade na qual ele não se revê?!
Não há nenhuma campanha de valorização da importância da participação e representatividade europeia. Ao fim de 23 anos, quem sabe o que é a Europa, o seu funcionamento e o que ela representa para o país?! A irrelevância deste acto eleitoral é tão acentuada que, há 5 anos atrás (13.06.2004) a abstenção registou o valor de 61,40%.
Mesmo em relação à escolha dos destinos das autarquias e das freguesias (o poder mais próximo dos cidadãos) o desinteresse começa a ser uma realidade (39% abstenção nacional – 43% abstenção em Aveiro), ano após ano.
Antes de qualquer combate político e ideológico, é importante e urgente reforçar o exercício do direito de cidadania dos portugueses, acentuar a relevância do seu contributo para a construção do "espaço público" e consolidação da democracia, bem como a percepção do papel das instituições governativas e o impacto que as mesmas têm na vida de cada um de nós. E não desvalorizar e esvaziar o sentido de cada acto eleitoral como demagogias políticas e confrontos ideológicos desajustados.
E primeiro… a "limpeza" da imagem da política, dos partidos e dos políticos.
Ao sabor da pena…

4 comentários:

Terra e Sal disse...

Mais um belo texto meu Caro Miguel.
As suas palavras são bem elucidativas da politica e dos políticos que temos e do país desgraçado sem rumo e sem norte em que vivemos.

Um bom fim de semana

Migas (miguel araújo) disse...

Viva caro Terra&Sal.
Obrigado pela atenção dispensada aos escritos.
Mas, a bem da verdade, é bom referir igualmente o que já escrevi noutras ocasiões.
A política, os partidos e os políticos têm a sua parte de responsabilidade no estado da nação, mas a falta de intervenção pública, do exercício do direito de cidadania da maioria dos portugueses (e então nos jovens é gritante), é algo de muito preocupante e grave.
abraços

Terra e Sal disse...

Tem o seu quê de razão naquilo que diz caro Miguel.
Concordo consigo no que diz respeito a responsabilidades.
Elas estão infelizmente bem distribuídas no mau sentido da palavra. Há penitências por pagar e sabemos porquê.
Infelizmente a condenação não cabe maioritariamente ou na totalidade aos políticos, bem pelo contrário. Muitos deles são uns coitados que vivem parasitando a “ingenuidade” de um povo atrasado e ignorante que continuamos a ser.
Falamos do TGV como dado adquirido para andarmos mais depressa não sei para onde, e continuamos a passo de caracol a afastarmo-nos da ignorância.
E essa é a malvada tão dificil de exorcisar a culpada dos maus politicos que temos.
Um abraço

Migas (miguel araújo) disse...

Meu caro Terra&Sal
Agora, o meu amigo, tocou numa outra face da mesma moeda.
A maioria da classe política (por arrasto, os partidos) é o reflexo de um país que, por mais choques tecnológicos, magalhães e novas oportunidades, continua (e duvido que melhore) uma lástima em termos de formação, capacidades e habilitações.
É triste ver-se a literacia cultural e educacional que se vive.
E, como muita da classe política de hoje, é jovem, o resultado está á vista.
E, mesmo que me acusem de pessimista assumido, não vejo como poderá melhorar.
Não se lê, não se intervém, não se discute, não se escreve, e, pior que tudo, estuda-se muito, mas mesmo muito mal.
Em todo o lado... desde o básico ao universitário. Já vi teses de Mestrado que até metem medo.
Enfim... é sempre preferível um TGV ou um Aeroporto garnde. Porque há (e não é só este governo, confesso) quem defina a grandeza de um país e de um povo pelo betão erguido.
O resto... tristemente, são livros com pó e a cheirar a mofo.
Cumprimentos