Publicado na edição do dia 12.02.2009 (quinta-feira) do Diário de Aveiro.
Sais Minerais
Outra Crise: valor humano.
É inevitável, por mais saturante que possa parecer, não se falar em crise (ou, se quisermos, na crise).
Mesmo que a maioria dos cidadãos não consiga perceber as fundamentações técnicas da sua origem e desenvolvimento, o certo é que ela é perceptível no nosso dia-a-dia: o poder de compra, o aumento de alguns bens e serviços, o “custo do dinheiro” cada vez mais elevado, a baixa competitividade da economia, o desemprego, a falência de muitas empresas (mesmo que duvidosa ou “encapotada”), o endividamento familiar, a estagnação do mercado, etc.
Não se estando por dentro dos “meandros” financeiros, esta realidade é facilmente perceptível no final de cada mês (em muitos casos nem chega a tanto) pela maioria das famílias.
A percepção que se tem, destes tempos mais conturbados, é que as medidas que se têm implementado e implantado, não têm tido a necessária profundidade e estruturação futura. São mais remendos e medidas a curto prazo do que uma importante reflexão, análise e redefinição estratégica dos mercados, investimentos e produtividade.
Neste sentido, há um aspecto que tem sido descurado de forma inquietante: o património humano das empresas e organizações (mesmo as sem fins lucrativos).
O valor humano deveria ser um dos maiores investimentos, mesmo, ou principalmente, em tempos de crise. Mais atenção às pessoas, maior e melhor formação e qualificação profissionais e não descurar as medidas e políticas de responsabilidade social, deveriam ser aspectos de primordial importância, nestas fases.
É que qualquer crise económica, por mais pequena que seja a sua dimensão, acaba por se traduzir, seja por arrastamento ou como resultado final, numa crise social, muitas vezes com custos e efeitos incalculáveis ou irreparáveis: insatisfação social, crise de valores, crise familiar, falta de solidariedade e cooperativismo. Neste quadro, o papel da responsabilidade social assume, importância acrescida e fundamental.
O “mercado” sempre assumiu como máxima que o lucro e os negócios são factores inseparáveis, quando, no final de qualquer balanço financeiro, deviria constar, em primeiro lugar, o peso social da empresa e organização, a contabilização das vidas salvas e melhoradas, em vez dos milhões gerados.
Era importante que a missão e objectivos de cada tecido empresarial e organizacional tivesse como principais factores estruturais a motivação, a confiança, a coerência, a formação e valorização profissionais, a envolvência humana em toda a sua dimensão (social, cultural, religiosa, política e emocional) no projecto comum. Isto é, a valorização do factor humano, como o maior património de cada empresa ou organização, pela sua eficácia e eficiência.
É fácil adquirir, em qualquer sector do mercado, uma máquina que substitua o trabalho humano. Mas já será mais difícil, para não dizer impossível, motivá-la, explorar a sua capacidade emocional, a sua competência de inovação.
Por outro lado, o custo com os recursos humanos é, normalmente (e mais em tempos de crise) avaliado em função da sua expressão económica e financeira.
Raramente valorizado pela sua capacidade de envolvimento no desenvolvimento, projecção (enriquecimento) e sustentabilidade de uma empresa ou organização.
A maior recompensa pelo trabalho e esforço de um indivíduo não é apenas o que é pago por ele, mas aquilo em que se transforma esse trabalho, envolvimento e dedicação.
Ao sabor da pena…
2 comentários:
Arranjei-te uma rica prenda. Passa lá no estúdio!
Caro, Miguel Araújo!
Estamos em crise, sem dúvida!
Mais do que enfatizar este facto, inegável, será tomar as medidas necessárias para ultrapassá-la, não deixando, como é evidente, de manifestar a nossa concordância ou não sobre as mesmas.
Saudações
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