“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

15 fevereiro 2009

Outra Crise: valor humano.

Publicado na edição do dia 12.02.2009 (quinta-feira) do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Outra Crise: valor humano.

É inevitável, por mais saturante que possa parecer, não se falar em crise (ou, se quisermos, na crise).
Mesmo que a maioria dos cidadãos não consiga perceber as fundamentações técnicas da sua origem e desenvolvimento, o certo é que ela é perceptível no nosso dia-a-dia: o poder de compra, o aumento de alguns bens e serviços, o “custo do dinheiro” cada vez mais elevado, a baixa competitividade da economia, o desemprego, a falência de muitas empresas (mesmo que duvidosa ou “encapotada”), o endividamento familiar, a estagnação do mercado, etc.
Não se estando por dentro dos “meandros” financeiros, esta realidade é facilmente perceptível no final de cada mês (em muitos casos nem chega a tanto) pela maioria das famílias.
A percepção que se tem, destes tempos mais conturbados, é que as medidas que se têm implementado e implantado, não têm tido a necessária profundidade e estruturação futura. São mais remendos e medidas a curto prazo do que uma importante reflexão, análise e redefinição estratégica dos mercados, investimentos e produtividade.
Neste sentido, há um aspecto que tem sido descurado de forma inquietante: o património humano das empresas e organizações (mesmo as sem fins lucrativos).
O valor humano deveria ser um dos maiores investimentos, mesmo, ou principalmente, em tempos de crise. Mais atenção às pessoas, maior e melhor formação e qualificação profissionais e não descurar as medidas e políticas de responsabilidade social, deveriam ser aspectos de primordial importância, nestas fases.
É que qualquer crise económica, por mais pequena que seja a sua dimensão, acaba por se traduzir, seja por arrastamento ou como resultado final, numa crise social, muitas vezes com custos e efeitos incalculáveis ou irreparáveis: insatisfação social, crise de valores, crise familiar, falta de solidariedade e cooperativismo. Neste quadro, o papel da responsabilidade social assume, importância acrescida e fundamental.
O “mercado” sempre assumiu como máxima que o lucro e os negócios são factores inseparáveis, quando, no final de qualquer balanço financeiro, deviria constar, em primeiro lugar, o peso social da empresa e organização, a contabilização das vidas salvas e melhoradas, em vez dos milhões gerados.
Era importante que a missão e objectivos de cada tecido empresarial e organizacional tivesse como principais factores estruturais a motivação, a confiança, a coerência, a formação e valorização profissionais, a envolvência humana em toda a sua dimensão (social, cultural, religiosa, política e emocional) no projecto comum. Isto é, a valorização do factor humano, como o maior património de cada empresa ou organização, pela sua eficácia e eficiência.
É fácil adquirir, em qualquer sector do mercado, uma máquina que substitua o trabalho humano. Mas já será mais difícil, para não dizer impossível, motivá-la, explorar a sua capacidade emocional, a sua competência de inovação.
Por outro lado, o custo com os recursos humanos é, normalmente (e mais em tempos de crise) avaliado em função da sua expressão económica e financeira.
Raramente valorizado pela sua capacidade de envolvimento no desenvolvimento, projecção (enriquecimento) e sustentabilidade de uma empresa ou organização.
A maior recompensa pelo trabalho e esforço de um indivíduo não é apenas o que é pago por ele, mas aquilo em que se transforma esse trabalho, envolvimento e dedicação.
Ao sabor da pena…

2 comentários:

Tia Brites disse...

Arranjei-te uma rica prenda. Passa lá no estúdio!

Anónimo disse...

Caro, Miguel Araújo!

Estamos em crise, sem dúvida!
Mais do que enfatizar este facto, inegável, será tomar as medidas necessárias para ultrapassá-la, não deixando, como é evidente, de manifestar a nossa concordância ou não sobre as mesmas.

Saudações