“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

07 novembro 2008

Compreender o incompreensível.

Publicado na edição de ontem (6.11.2008), do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Compreender o incompreensível.
Entre a teoria e a realidade, entre os conceitos e princípios e a factualidade da aritmética financeira doméstica da maioria dos cidadãos no final de cada mês, vai uma longa e incompreensível distância.
Os conceitos financeiros (de forma similar ao direito) são uma espécie de linguagem rodeada de simbolismo, figurismo e “secretismo” que imitam, ao mais comum dos mortais, o acesso e a compreensão ao que move hoje, o mundo: o dinheiro.
Por convicção, entendo que Estado deve ter uma função reguladora e uma intervenção social na sociedade: educação, saúde, justiça, segurança, emprego…
Mas também deve primar pela justiça social e a equidade.
É, por isso, incompreensível e de difícil aceitação a intervenção do governo no caso BPN, obrigando todos os portugueses a um “esforço” e contributo (os “nossos” impostos), através da Caixa Geral de Depósitos para “camuflar” os erros inaceitáveis (por isso, puníveis) de alguns, para quem a avidez se sobrepôs ao dever profissional.
Acresce o facto de não se poder aceitar, pelo menos de ânimo leve, a displicência e a não prontidão de qualquer acção por parte da entidade reguladora do sector: o Banco de Portugal.
Assim, é inexplicável a intervenção do Estado numa entidade privada como o BPN, quando são inconsequentes ou inexistentes as acções do Governo nos casos de inúmeras empresas que fecham as suas portas, deixando tantas famílias em desespero e tantas pessoas no desemprego.
Por outro lado, demonstrando uma necessidade clara de justificar politicamente esta acção junto do BPN, o último Conselho de Ministros (sessão extraordinária) vem determinar a vontade do governo em liquidar, a muito curto prazo, as dividas do Estado, apesar de nos últimos anos ter tido “ouvidos de mercador” a tantas solicitações recomendações nesse sentido.
E não deixa de ser preocupante (e se quisermos, revoltante) para o cidadão, esta opção pela intervenção na banca privada, quando não se assiste a qualquer intervenção do governo para minimizar a constante subida dos encargos familiares com o crédito à habitação, apesar das descidas das taxas de referência europeias.
Além disso, é no mínimo curiosa esta vontade repentina, em plena crise, que leva o governo a se predispor a ajudar as Câmaras Municipais, depois de ter colocado tantas entraves e recusas ao esforço dos Municípios em solucionar as suas obrigações financeiras, principalmente para com as empresas, associações e freguesias.
Por último, nesta crise dos mercados que determina uma incerteza em relação ao futuro e espalha o espectro de uma recessão a uma escala internacional, o Governo apresenta um Orçamento de Estado, para 2009, onde se regista o maior aumento salarial dos últimos anos, o maior aumento da despesa e do investimento, apesar da contradição com toda a aumentação e fundamentação que justificaram, em anos anteriores, uma limitação ao proteccionismo social.

Ao sabor da pena…

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