“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

02 agosto 2008

Sais Minerais I

Publicado na edição de quinta-feira (31.07.08) do Diário de Aveiro

Sais Minerais
Às duas por três...


Aproveitando a maré de mudanças e marcando um ano de “Crónicas dos Arcos” (com maior ou menor regularidade), é chegada a altura para rebaptizar e trocar os “Arcos” por “Sais Minerais” que, com mais ou menos azia, dão sempre jeito para aliviar as digestões (sejam más ou não).
E enquanto este Verão vai e vem ao sabor do vento, registo para três breves e ligeiras notas.
“Muitos” não significa “muito bons”.O Primeiro-Ministro, esta semana, vincou a necessidade de Portugal apostar forte na qualificação dos seus recursos humanos. O que resulta em mais saber, mais conhecimento: melhor qualificação das pessoas.
Se esta é uma premissa irrefutável (ao bom sabor das verdades do Marechal Jacques de la Palice), não deixa de ser um facto que transporta, em si mesma, paradigmas questionáveis.
O excesso da ânsia governamental pela apresentação de resultados, sustentada em meros dados estatísticos, faz com que se assista, nos dias de hoje, a uma descaracterização do ensino básico e secundário, da banalização do mérito e do valor (saber e conhecimento), o trivializar a experiência com a desacreditação das “novas oportunidades” e o desfasamento do ensino superior face às necessidades do desenvolvimento dos diversos sectores da sociedade, das realidades laborais e empresariais.
O Primeiro-Ministro vangloriou-se pelo facto de, em relação a 2005 (cerca de 300 alunos), os CET - Cursos de Especialização Tecnológica terem, em 2008, mais 4.500 alunos (cerca de 4.800).
O que o responsável pelo governo deste país não referiu, com a mesma “pompa e circunstância”, é que quantidade não é sinónimo de qualidade.
Incentivos económicos.Para complicar a vida à oposição governativa, nomeadamente à da Senhora Ex-Ministra das Finanças, há quem refira que saiu a “lotaria” ou o “euro milhões” ao governo, principalmente a José Sócrates e a Manuel Pinho. Refiro-me ao investimento, em solo luso, da empresa brasileira aeronáutica Embraer.
Mas há uma outra realidade… dos (anunciados) 149 milhões de euros de investimento, há a referenciar cerca de 30% de incentivos financeiros e fiscais.
Ora, o filme é, na maioria dos casos, um verdadeiro “déjà vu”: fortes incentivos fiscais (subsidiação estatal, sustentada em protocolos e acordos) que se tornam, ao fim de alguns anos, em pesadelos sociais e laborais quando a economia globalizada e o incentivos deixam de ser, financeiramente, atractivos. Entretanto surge a inevitável deslocalização, a alteração à estatística do desemprego e pelo caminho ficam uma série de empresas locais que sustentaram, com base nos seus impostos, parte desses incentivos, sem merecerem, por parte do governo, qualquer valorização económica (incentivos à modernidade, ao investimento e ao desenvolvimento).
É esta a política impulsionadora da economia nacional…
A ver comboios.
As recordações levam-me à tentativa de transpor das memórias idas as imagens do antigo Largo da Estação e zona da Avenida envolvente.
Já o referi algumas vezes que as acessibilidades sem estruturação de incentivos ao desenvolvimento, transformam zonas, em tempos “vivas”, em locais desertificados.
Acontece com o interior do país (apesar do crescente volume de quilómetros de auto-estrada, mas que apenas aproximam a Espanha do Litoral) e acontece, ao nível local, com novas acessibilidades que desvirtuam urbanística e socialmente as cidades.
É certo que o “túnel da estação” criou uma maior acessibilidade de e para a cidade.
Mas não deixa de ser uma crua e fria realidade a desertificação, o abandono, a perda da “vida” comercial e social que o Largo da Estação e a zona envolvente da Avenida (até ao cruzamento com a Rua Luis Gomes de Carvalho) tiveram em tempos idos.

Ao sabor da pena…

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