“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

10 julho 2008

Notas debaixo do Sol.

Publicado na edição de hoje (10.07.2008)
Crónicas dos Arcos
Notas debaixo do Sol.
Em plenas férias…
Enquanto este Verão vai, teimosamente, “aldrabando” o tempo (e os tempos), restam algumas reflexões da semana que passou.

Desenvolvimento de Betão.
O novo “non sense” político situa-se no universo das obras públicas e da massificação do “betão”.
Para a oposição ao governo socialista, mais propriamente nas inquietudes manifestadas pela nova líder social-democrata, a preocupação política prende-se com a não existência de capacidade financeira para a realização das várias obras agendadas por José Sócrates.
Sendo certo que o financiamento das obras públicas é uma questão pertinente e sem o qual se pode colocar a viabilidade das mesmas, não deixa de ser mais relevante (existindo ou não os fundo necessários) a prioridade, objectividade e oportunidade da realização de tais infra-estruturas.
O país precisa de um investimento acentuado ao nível do tecido empresarial, um apoio eficaz à agricultura e pescas, um apoio urgente às famílias e ao combate à pobreza e à extinção da classe média, um investimento forte no combate a desemprego e à qualificação dos recursos humanos.
O país necessita de um combate enérgico e de medidas urgentes e válidas contra a assimetria territorial e contra a desertificação das regiões do interior.
E não me parece ser com TGVs, novo aeroporto (ex-OTA) ou mais quilómetros de asfalto concessionado. Por exemplo, neste último aspecto, não havendo complementaridade na criação de estruturas e desenvolvimento económico que fixe os cidadãos e potencialize as regiões do interior, as auto-estradas apenas servirão para aumentar a assimetria, o empobrecimento e a desertificação do interior. Porque simplesmente tornam o acesso mais fácil e mais próximo o litoral português de Espanha.
(in)Justiça.
A propósito dos vários processos de investigação e, por acréscimo óbvio, os judiciais, que vão desde os casos de corrupção aos de homicídio, passando por inúmeras áreas (como os que envolvem menores), o Procurador-geral da República afirmava que “ninguém está acima da Lei”.
Assim sendo, segundo as eloquentes palavras do Sr. PGR, a justiça, quando nasce, é para todos.
Mas a realidade é bem diferente e demonstra uma verdade bem distinta.
A justiça não é cega. Ou melhor, há, em relação à justiça, quem consiga ver melhor que os outros. Não sendo a equidade, no seu recurso, acesso e execução, uma das virtudes judiciárias.
Quem tem meios financeiros e “poder” (mesmo que apenas social), tem uma “justiça” mais facilitada e facilitadora.
Como diria George Orwell, na sua obra “Animal Farm”, perante a justiça, “todos os animais são iguais, mas há uns mais iguais que os outros”.
A tradição já não é o que era.
Nos dias de hoje, é necessária uma “igreja” católica menos apegada às tradições, mais perto da realidade social actual, mais próxima das vontades dos seus “crentes”. Ou seja, uma “igreja” mais social, mais política, mais perto das exigências do mundo, menos “cinzenta” e menos condenadora, portanto…mais liberta e menos dogmática.
Só desta forma, a “igreja” conseguirá ficar mais perto das necessidades e vontades das pessoas e ser uma referência.
Mas para tal, terá igualmente de “abandonar” alguns estigmas e tornar-se mais coerente e renovada.
Muitos aspectos do Concílio Vaticano II faltam ser colocados em prática (ao fim de 40 anos). Além disso, a Igreja tem que encontrar forma de lidar com um dos seus “traumas”: o papel da mulher. Na estrutura da igreja, na sociedade e na família.
Em vez da conflitualidade com a recente decisão da igreja anglicana (possibilidade das mulheres poderem ser nomeadas bispos), encontrar, nessa nova realidade, formas de rejuvenescimento.
Eleições 2009
Segundo a Distrital do PSD do círculo do Porto (mesmo sem a confirmação da Comissão Política Nacional), serão recandidatados todos os actuais presidentes das câmaras social-democratas do distrito e serão renovadas as coligações eleitorais autárquicas entre o PSD e o CDS.PP.
Está dado o tiro de partida para o próximo ano autárquico final, que se afigura movimentado e agitado.
Face aos recentes “abanões” e tomadas de posição públicas, em Aveiro, aguardam-se agitações locais que se afiguram expectantes. Ou talvez não.

Assim progride a nação. Assim cresce uma sociedade preocupada.

2 comentários:

Anónimo disse...

"Nos dias de hoje, é necessária uma “igreja” católica [...] mais próxima das vontades dos seus “crentes”."
????
O meu amigo devia ler P.de António Vieira quando este escreve: "ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites"
Substitua "vontades" por "apetites" e verá quão actuais são as palavras de Vieira.
Pois é, ser-se católico não é ir à Missa mostrar-se...

Migas (miguel araújo) disse...

Meu caro
De facto, ser-se católico não basta ir à Missa, embora seja importante (mas isso contra mim falo).
E se Anónio Vieira tem hoje, na comemoração dos seus 400 anos muito de actual, não deixo de lhe lembrar, se me permite a ousadia, as palavras de D. António Ferreira
Gomes (ex Bispo do Porto durante o Antigo Regime, confrontando em determinada altura o próprio Salazar):
"Qualquer coisa que seja séria na vida colectiva resulta em política; se não resulta em política é porque não é séria. E se o Evangelho não resulta em política é porque não vive na consciência das pessoas. De resto, alguém disse não poder tolerar o cristianismo porque é político; e é-o porque obriga a fazer na vida real o que a sua consciência lhe dita, É um erro dizer que a Igreja é política desde Constantino; ela é-o desde Cristo. Há muitos cristãos COM AS MÃOS LIMPAS, PORQUE SIMPLESMENTE NÃO TÊM MÃOS."
cumprimentos