“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

24 julho 2008

LIBERDADES...

Publicado na edição de hoje (24.07.2008) do Diário de Aveiro.

Crónicas dos Arcos
As “Cem…surras” da censura.

Este foi o lema de uma exposição promovida pela Associação de Estudantes do ISCIA, que decorreu entre Maio e Junho, subordinada à temática da censura na imprensa no antigo regime (com documentos datados da década de 60 e até 74). A exposição terminou com mais uma tertúlia académica, que contou com a presença do Dr. Costa Carvalho (docente do ISCIA) e do Dr. Carlos Candal, reflectindo sobre a censura na imprensa, na cultura e na política no regime de Salazar e debatendo, igualmente, a realidade da liberdade de expressão nos dias de hoje.
E esta questão das liberdades, actualmente, toma, cada vez mais, dimensões preocupantes. Quer pela sua ausência, quer pelo seu uso desproporcionado. Ou seja, pelos obstáculos colocados ou pelos seus atropelos.
No caso Madie, de novo renascido, é incontestável que o mesmo extravasou o seu principal objectivo: a pequena de 4 anos de idade desaparecida. Mais do que qualquer teorização do caso, é de lamentar o desaparecimento de um ser humano, agravado pelo facto de se tratar de uma criança (como não podemos deixar de recordar os vários “Rui Pedro” que constam dos ficheiros dos desaparecidos da polícia portuguesa).
Mas por outro lado, não podemos deixar de lamentar, igualmente, a forma como o caso se desenrolou, nomeadamente no que diz respeito às pressões que a Polícia Judiciária sofreu no decurso da investigação, condicionando, influenciando, obstruindo o trabalho realizado. Independentemente do que se possa imaginar quer quanto ao desfecho do caso, quer quanto aos responsáveis pelo que terá acontecido à pequena criança inglesa, é certo que o poder judicial (substituições e demissões, com as consequentes nomeações de titulares da PJ e de responsáveis pelo processo de investigação) e o próprio governo “ofenderam” uma instituição credível, cedendo, directa ou indirectamente, às pressões do reino de sua majestade e ao “peso mediático” do casal inglês. Para estes (ingleses), que tudo fizeram para controlar e manipular o processo (quer em Portugal, quer em Inglaterra), a PJ e as suas estruturas são perfeitamente comparáveis às de um país do terceiro mundo, nos quais a justiça não passa de uma questão surrealista na qual não podemos confiar.
Com o arquivamento do processo, desacreditou-se um país, as suas estruturas judiciais, a sua Polícia Judiciária, o esforço de muitos profissionais para quem, independentemente das consequências, apenas interessava o apuramento da verdade e a justiça (a verdadeira, não a de conveniência).
É a imagem de um país sem personalidade, sem peso, nem capacidade de afirmação.
Um país que vive de propagandas, de ilusões… na lua. Ao sabor do vento.
Um país onde o seu Ministro da Economia se insurge (mesmo que inconsequentemente) contra um provável “cartel” no negócio dos combustíveis, onde o seu Primeiro-Ministro cria taxas à “Robin dos Bosques” (mesmo que apenas sirvam para “engordar” os cofres do estado e não aliviar o “sofrimento” financeira da maioria das famílias portuguesas), mas nenhum deles vem a “terreiro” insurgir-se contra o facto das gasolineiras apenas estarem atentas às subidas do preço do barril de petróleo e perfeitamente desatentas ao facto de o mesmo já ter descido cerca de 18%, sem que tenham existido alterações aos preços finais.
Um país onde uma entidade (a ERCS - Entidade Reguladora da Comunicação Social) que deveria regular, gerir e fiscalizar eficazmente o sector informativo (comunicação social) em Portugal, vem, de forma totalmente parcial e eticamente, no mínimo, questionável, alterar os procedimentos e a “regras do jogo” por forma a não evidenciar o óbvio: a manipulação governativa (política) da RTP.
Em vez de penalizar a estação pública, após a contabilização dos tempos de emissão que demonstraram um excessivo e tendencial “tempo de antena do governo” em relação à oposição (contrariando a isenção e imparcialidade devidas), alterou a regulamentação no sentido de passarem a ser considerados tempos de emissão de oposição ao governo, quer as intervenções dos partidos da oposição parlamentar, quer as posições sindicais ou as de um qualquer comum cidadão, desde que digam mal da gestão do Senhor Engenheiro Sócrates. A bem do pluralismo, da liberdade e da democracia, claro.
Enquanto isto, o Sol deste Verão vai e vem, conforme sopra o vento…

Assim progride a nação. Assim cresce uma sociedade preocupada.

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