Publicado na edição de hoje (22.05.2008) do Diário de Aveiro.
Crónicas dos Arcos
Os balões de oxigénio.
De tempos a tempos respiramos uma suave brisa de contentamento, para, pouco tempo depois, retomarmos o nosso dia-a-dia cinzento, carregado de pessimismo (ou realidades pouco risonhas), preocupação e algum desespero.
Há, na identidade lusitana, um cíclico aproveitamento muito pontual e ocasional de “momentos” (sejam eles de natureza social, económica ou cultural) que transformam a nossa sociedade, mas que não deixam marcas futuras (ou se as deixam é por aspectos negativos), perspectivas de crescimento e desenvolvimento. São o que podemos apelidar de “balões de oxigénio” que, em determinados períodos da nossa existência nacional, vão-nos alimentando alguma capacidade de resistência, de luta, mas que rapidamente se desvanece.
É a nossa incapacidade para inscrevermos a história na nossa memória colectiva, de forma a que os acontecimentos vividos num determinado momento sejam referência no projecto social futuro.
Assim foi com o 25 de Abril de 74 (já poucos o vivem e o recordam), com o ténue Maio de 68 (sem pouca expressão), com a adesão à União Europeia, com o Euro 2004, como exemplos.
Tomando estes dois últimos como referência (por serem mais recentes), depois da subsidio-dependência em relação a Bruxelas, Portugal continua a não conseguir sair da chamada “cauda da Europa” (já não bastava estarmos geograficamente situados num dos seus extremos).
Somos dos países com menor desenvolvimento da economia, da ciência e da tecnologia, com baixa formação e qualificação dos recursos humanos, com graves endividamentos familiares e empresariais e com problemas insolúveis ao nível laboral. Ou seja, há uma clara degradação do tecido social que, entre outros factores, tem repercussões preocupantes. Enquanto e registou uma baixa nos valores estatísticos da criminalidade, o Distrito de Aveiro registou m aumento de 9,1% nos referenciados crimes violentos. Poder-se-ão apontar inúmeros factores, não sendo, obviamente, de excluir que a situação económica de muitos cidadãos (e respectivas famílias) será, igualmente, uma das causas do referido crescimento da violência.
Por outro lado, depois de tanta festa, tanta obra pública, tanto dinheiro investido (público e privado) o que é que se usufruiu do evento Euro 2004? Clubes na falência; estádios vazios e degradados; autarquias a perspectivarem o abandono dos estádios do euro e a construção de novos (mais pequenos e com outra localização - por exemplo, Coimbra) e a incapacidade de aproveitamento e rentabilidade das infra-estruturas.
E há igualmente um outro exemplo. Veio, na passada terça-feira, à estampa de alguma comunicação social, a recordação dos 10 anos volvidos sobre a realização da Expo 98 (é verdade, já lá vão 10 anos).
É indiscutível o mérito da realização do evento, da sua sustentação social, política e, essencialmente, cultural. Mas…
E hoje? O que resta e que impactos teve a Expo 98 no desenvolvimento do país?
Ainda hoje se pagam facturas. O esforço nacional (saído dos trabalho e impostos de todos os portugueses), mais uma vez, ficou delimitado ao aproveitamento centralista da capital, sem que, no entanto, se observem resultados concretos, a não ser uma especulação imobiliária atroz.
Foi giro, foi espectacular, terminou e esquecemos. Para o futuro nada resta senão a memória de quem por lá andou. Foi mais um “balão de oxigénio”, mas rebentou.
Assim progride a nação. Assim cresce uma sociedade preocupada.
Os balões de oxigénio.
De tempos a tempos respiramos uma suave brisa de contentamento, para, pouco tempo depois, retomarmos o nosso dia-a-dia cinzento, carregado de pessimismo (ou realidades pouco risonhas), preocupação e algum desespero.
Há, na identidade lusitana, um cíclico aproveitamento muito pontual e ocasional de “momentos” (sejam eles de natureza social, económica ou cultural) que transformam a nossa sociedade, mas que não deixam marcas futuras (ou se as deixam é por aspectos negativos), perspectivas de crescimento e desenvolvimento. São o que podemos apelidar de “balões de oxigénio” que, em determinados períodos da nossa existência nacional, vão-nos alimentando alguma capacidade de resistência, de luta, mas que rapidamente se desvanece.
É a nossa incapacidade para inscrevermos a história na nossa memória colectiva, de forma a que os acontecimentos vividos num determinado momento sejam referência no projecto social futuro.
Assim foi com o 25 de Abril de 74 (já poucos o vivem e o recordam), com o ténue Maio de 68 (sem pouca expressão), com a adesão à União Europeia, com o Euro 2004, como exemplos.
Tomando estes dois últimos como referência (por serem mais recentes), depois da subsidio-dependência em relação a Bruxelas, Portugal continua a não conseguir sair da chamada “cauda da Europa” (já não bastava estarmos geograficamente situados num dos seus extremos).
Somos dos países com menor desenvolvimento da economia, da ciência e da tecnologia, com baixa formação e qualificação dos recursos humanos, com graves endividamentos familiares e empresariais e com problemas insolúveis ao nível laboral. Ou seja, há uma clara degradação do tecido social que, entre outros factores, tem repercussões preocupantes. Enquanto e registou uma baixa nos valores estatísticos da criminalidade, o Distrito de Aveiro registou m aumento de 9,1% nos referenciados crimes violentos. Poder-se-ão apontar inúmeros factores, não sendo, obviamente, de excluir que a situação económica de muitos cidadãos (e respectivas famílias) será, igualmente, uma das causas do referido crescimento da violência.
Por outro lado, depois de tanta festa, tanta obra pública, tanto dinheiro investido (público e privado) o que é que se usufruiu do evento Euro 2004? Clubes na falência; estádios vazios e degradados; autarquias a perspectivarem o abandono dos estádios do euro e a construção de novos (mais pequenos e com outra localização - por exemplo, Coimbra) e a incapacidade de aproveitamento e rentabilidade das infra-estruturas.
E há igualmente um outro exemplo. Veio, na passada terça-feira, à estampa de alguma comunicação social, a recordação dos 10 anos volvidos sobre a realização da Expo 98 (é verdade, já lá vão 10 anos).
É indiscutível o mérito da realização do evento, da sua sustentação social, política e, essencialmente, cultural. Mas…
E hoje? O que resta e que impactos teve a Expo 98 no desenvolvimento do país?
Ainda hoje se pagam facturas. O esforço nacional (saído dos trabalho e impostos de todos os portugueses), mais uma vez, ficou delimitado ao aproveitamento centralista da capital, sem que, no entanto, se observem resultados concretos, a não ser uma especulação imobiliária atroz.
Foi giro, foi espectacular, terminou e esquecemos. Para o futuro nada resta senão a memória de quem por lá andou. Foi mais um “balão de oxigénio”, mas rebentou.
Assim progride a nação. Assim cresce uma sociedade preocupada.
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