“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

09 maio 2008

Memórias Apagadas.

Publicado na Edição do dia 08.05.2008 do Diário de Aveiro.

Crónicas dos Arcos
Memórias Apagadas.


O Presidente da República expressou, no seu discurso nas comemorações dos 34 anos do 25 de Abril, o preocupante distanciamento dos jovens com a política e com a “Revolução”.
Eu diria mais… de quase todos os cidadãos para com a política e a história. Mesmo muitos que viveram mais directamente o período da Revolução ou Pós-Revolução.
Mas mais preocupante é o próprio distanciamento dos cidadãos, sejam eles jovens ou menos jovens, pra com as próprias “coisas da vida”, do mundo que os rodeia, da própria sociedade.
Não é apenas preocupante que os jovens não tenham referências ao 25 de Abril de 74 (porque ninguém os ensinou ou sensibilizou; porque a vivência existencial é já distante e o tempo apaga as memórias). O que também é preocupante é que a história e as memórias colectivas que constituem a nossa identidade social não sejam preservadas, mantidas vivas e tendam, por isso, a desaparecer.
Tal como o 25 de Abril, a Instauração da República, a Restauração da Independência, os Descobrimentos, os movimentos culturais (principalmente os literários) dos anos 30, 40 e 50, a Língua Portuguesa, etc. E a importância dos movimentos sociais como o 1º de Maio ou o Maio de 68 (volvidos 40 anos).
Hoje, os jovens e tantos outros cidadãos “movem-se” numa sociedade mais livre e tolerante, onde a liberdade de expressão permite falar, confrontar, discutir temas como a política, a cultura, a sexualidade, o saber, os direitos humanos, …, a guerra e a fome. Hoje, sem a preocupação e o medo da repressão e da censura, do exílio.
Hoje, sem a necessidade e inquietação de saber porquê.
Porque houve quem há 40 anos, em França, ou há 34 anos, em Portugal, marcou a história, moldou e mudou a sociedade que hoje temos.
E hoje, temos quase tudo.
Para quê os jovens terem de pensar porque é que é assim?! É assim e pronto. “É a vida”!
Porquê ter que saber o que foi o Maio de 68 ou o Abril de 74 se a tomada da consciência social e todas as conquistas desses tempos, hoje têm o reflexo na preocupação com a renda da casa ou o crédito bancário, o aumento dos combustíveis e do bens essenciais (como a alimentação), com o emprego no final do curso, com a dificuldade em constituir família, ter filhos e criá-los condignamente?!
Para quê reviver o que já passou se o que vivemos é a desertificação do interior do país, as assimetrias constantes, a falta de desenvolvimento equilibrado e sustentado, o aumento da emigração, a perda de sentido de comunidade e o amento do individualismo e do isolamento pessoal?!
A história muito dificilmente se repete e muito menos pela falta de consciência social e política que se vive nos dias de hoje.
Muito dificilmente haverá outro Maio 68 ou outro Abril 74.
Muito dificilmente haverá novos marcos que fazem história ou novos acontecimentos que transformem a sociedade… enquanto o mundo se fechar individualizado em cada cidadão.
Assim progride a nação. Assim cresce uma sociedade preocupada.

1 comentário:

Didas disse...

Lembrei-me agora dumas entrevistas de rua que vi há uns anitos na televisão, em que se perguntava aos jovens transeuntes o que tinha sido o 25 de Abril. Uma mocinha respondia que "Ai eu não sei! Só sei que a minha mãe me disse que foi HORRÍVEL!"