“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

19 abril 2008

Ao virar a folha...

Publicado na edição de quinta-feira (17.04.08) do Diário de Aveiro.

Crónicas dos Arcos
Outro Bloco de Notas. Ao virar a folha…


Primeira nota.
Há uma conhecida e interessante expressão que, amiúde das vezes, é utilizada pelo meu Professor de Cultura Contemporânea - Dr. Costa Carvalho: “libertem-se da liberdade!”.
É óbvio que tal enunciação não pretende estabelecer qualquer paralelismo ou tentativa de regresso ao passado (e logo com quem!!!). Mas é igualmente claro que tal frase traduz (e bem) o uso e abuso que, após tão sedenta conquista, hoje se faz dessa mesma liberdade. Seja na família, na sociedade, na escola. E, já não pasmando ninguém, na própria política que há muito perdeu o seu fundamento ético e sentido de responsabilidade.
É esta a imagem que a maioria dos portugueses têm de quem, ciclicamente, elegem. Agravada pela vinda (regular) “a cena” das “teatralidades” do Dr. João Jardim.
Acusar de fascistas ou de incompetentes, quem, mandatados pelos cidadãos que os elegeram livremente (com muitos ou poucos votos), apenas comete o “crime” de pensar e olhar a vida de forma diferente, é, no mínimo, um abuso do sentido da democracia e da liberdade, no limiar do alicerce ditatorial e totalitário, sustentado pela prepotência que se lhe reconhece.
Além disso, é grave a falta de respeito pelas instituições políticas e pela própria constituição, pela forma como tratou a figura e o símbolo do Presidente da República, se bem que há muito se sabe que a Madeira é de outra “república”.
No entanto, a culpa (responsabilidade) não morre solteira. Tão ou ainda mais grave, foi a submissão e cedência do Presidente da República aos caprichos do “Senhor da Madeira”, não sabendo (ou não querendo) dignificar, valorizar o seu papel de símbolo máximo da República e de todos os portugueses.
É a desvalorização da política e do sentido de estado. É a “triste liberdade”.
Segunda nota.
O PSD (o nacional, ressalve-se), não obstante os graves e distintos problemas que o país atravessa (desde a saúde, a justiça, o emprego, até ao ensino e à educação), ainda consegue encontrar questões políticas, onde só por mero sentido de retórica encontramos justificação para tal.
O Código Deontológico dos Jornalistas, sustentado pelo seu estatuto legal, deveria ser, por si só, razão suficiente para o garante do profissionalismo, isenção, rigor e ética profissional.
Há falta de outros argumentos e apenas por picardia politica é que se possa justificar que o maior partido da oposição se esqueça da realidade do país para se preocupar com um eventual programa televisivo (na RTP) da responsabilidade a jornalista Fernanda Câncio, só porque a mesma tem um relacionamento afectivo com o Primeiro Ministro.
Pode-se gostar ou não dos trabalhos produzidos por Fernanda Câncio, é possível questionar o seu rigor profissional. Isto ainda se percebe e põe ser aceitável. Colocar em causa o seu profissionalismo pelo seu lado pessoal e privado é um atentado à privacidade e ao bom-nome.
Há uma expressão produzida por Paulo Portas, no tempo em que foi Director do Independente, onde refere que, enquanto matéria jornalística, nada lhe interessava a vida pessoal e particular de um Ministro, mas sim a forma como geria o bem público, porque isso é que colocava em causa (ou não) a sua idoneidade e a sua competência.
Por outro lado, não me parece que a política e os partidos, e, no caso concreto, o PSD (como outros) sejam eticamente isentos e sirvam como exemplo de clareza de princípios nas suas acções.
É mais um “fait divers”. É tapar o Sol com a peneira.
Terceira nota.
O desenvolvimento social e económico, a qualidade de vida e o bem-estar do município não deve ser hipotecado em sectores que têm a obrigação de ser auto-suficientes, como qualquer sector empresarial e profissional. Há prioridades muito, mas mesmo muito, mais importantes no Concelho.
Há uma aptidão "mórbida" na sociedade portuguesa que sustenta a permissão para tudo se fazer, sem planear, projectar, prever riscos, recursos e custos. No fim, logo se há-de ver o que acontece. E normalmente o que acontece é sempre a catástrofe.
Sempre me ensinaram (felizmente) que acima de tudo deve vir a dignidade, o brio e o empenhamento pessoal (ou colectivo). E só depois a glória, muitas vezes (senão quase sempre) efémera.
Quando não se tem cão, caça-se com gato. E nunca vi fazer omeletas sem ovos (sejam eles quais forem).
O que seria do erário público (Estado, Empresas Públicas, Autarquias) se cada empresa privada que estivesse em dificuldades (e infelizmente há imensas) ou para fechar, se socorresse desses fundos para sobreviver?!
As recentes notícias sobre a liquidez financeira do Beira Mar, os eventuais salários em atraso dos jogadores, bem como a pressão pública para sustentação de possíveis candidaturas à presidência do Cube aveirense, deixam alguma (senão muita) preocupação. Principalmente, sabendo-se da realidade do Concelho.
Só espero que "isto" não sobre (mais uma vez) para a Câmara Municipal de Aveiro.

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